Postado por Moisés Tavares
Nem utopia nem distopia futurista: o século 21 nos reserva um mundo altamente tecnológico, mas preocupado com relações interpessoais
Nem utopia nem distopia futurista: o século 21 nos reserva um mundo altamente tecnológico, mas preocupado com relações interpessoais
Correio Braziliense
Em 1962, o mundo se dividia na batalha entre Estados Unidos e União Soviética. No auge da Guerra Fria,
projetar o futuro esbarrava no temor de um conflito nuclear generalizado, algo plausível durante a crise dos mísseis em Cuba. Naquele mesmo ano, a dupla norte-americana de cartunistas William Hanna e Joseph Barbera punha no ar seu vislumbre animado do século 21: Os Jetsons. Segundo o desenho, cidades flutuantes, carros voadores e robôs domésticos estavam no horizonte da humanidade.
Agora que adentramos o terceiro milênio, fica fácil constatar o que não se tornou realidade. "A expectativa era de que as evoluções seriam mais para equipamentos e máquinas. Mas o que se viu é a tecnologia se integrando com o ser humano em necessidades íntimas", avalia Orides Morandin Junior, professor do Departamento de Computação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Essa integração se reflete, principalmente, na mudança de relações entre os homens causada pela internet. A rede fez com que o foco na interação humana se tornasse maior. Sim, ainda há gente pesquisando veículos flutuantes e afins, mas são esforços marginais. "Na primeira década deste século, trabalhou-se em tecnologias que procuram nos tornar mais próximos uns dos outros", confirma Orides.
Na 10ª reportagem da série "Nosso Tempo", a Revista volta o olhar para a tecnologia, desde o fenômeno das redes sociais à forma como os celulares nos mantêm conectados. O novo século não nos fez voar em naves particulares, mas, em compensação, colocou todo o nosso conhecimento na nuvem.
Cada vez mais androides
Óculos que permitem filmar, fotografar, curtir, pesquisar e acompanhar tudo que se passa ao seu redor: oGoogle Glass (foto acima) é a aposta de futuro da gigante do mundo virtual. O aparelho, por enquanto, só circula em versão protótipo, acessível a um pequeno número de usuários. De acordo com o site oficial, o Google Glass é um óculos que, além de incorporar um computador, mantém uma tela logo acima dos olhos, permitindo que tudo o que você vê possa ser levado do mundo real para o virtual. Assim, buscas de mapas, chamadas de vídeo, fotos, pesquisas podem ser feitas em tempo real, além de você ter a liberdade de fotografar e gravar os momentos do seu dia apenas solicitando isso ao aparelho. O lançamento é esperado para o ano que vem.Mas essa não será a evolução tecnológica mais surpreendente de 2014, se depender do cientista brasileiro Miguel Nicolelis. Em 2012, ele recebeu US$ 2,5 milhões dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH, na sigla em inglês) para financiar sua pesquisa: ele pretende fundir homens e máquinas, garantindo resultados que podem recuperar os movimentos de tetraplégicos. O valor será distribuído durante cinco anos mas, já no ano que vem, ele quer fazer com que um adolescente brasileiro tetraplégico dê o primeiro chute da Copa do Mundo, usando uma veste robótica de sua criação que permite aos pacientes se movimentarem apenas com a força do pensamento. Quem pensou em Robocop ou que Miguel quer ir longe demais, é melhor reconsiderar: o cientista foi um dos palestrantes convidados pela Fundação Nobel para se apresentar em um simpósio em Estocolmo, com o tema fusão homem-robô. E, desse assunto, o brasileiro é quem mais entende no planeta.
Assim caminha a humanidade
Os esforços humanos em facilitar a vida são uma constante. A tecnologia é uma ferramenta, mas não alavanca a evolução material por si só. "É preciso ter em mente que a sociedade e a economia é que vão determinar os caminhos a serem seguidos", garante Marcello Barra, sociólogo e pesquisador do grupo Ciência, Tecnologia e Educação na Contemporaneidade da Universidade de Brasília (UnB).
De acordo com o especialista, a discussão atual separa os estudiosos em dois grupos: aqueles que acreditam que está em andamento uma produção de conhecimento tecnológico inédito na história e aqueles que creem na diminuição da qualidade do que está sendo produzido. Enfim, há os otimistas e os pessimistas. "Temos uma explosão da tecnologia que pode ser vista no dia a dia. Estamos vivendo um boom das tecnologias de informação e esse é mais um dos ciclos de transformação tecnológica." Porém, diferentemente do ciclo do motor à combustão, por exemplo, o atual não causaria o mesmo impacto na economia.
Para o professor Orides Morandin Junior, da Federal de São Carlos, as novas gerações estão mais preocupadas nas formas como vão se conectar com as outras pessoas e não com quais serão as melhorias nos seus eletrodomésticos. Mesmo que eles não excluam essas melhorias, não as colocam como primeira necessidade. "A revolução causada pelas mídias sociais exige olhar de forma diferente para as projeções que foram feitas do que seria a tecnologia nos anos 2000. E é preciso saber que, em um mundo de informações muito rápidas, muitas delas são superficiais." Mesmo que as projeções sejam diferentes do que muita gente esperava, há ainda muito do que era almejado no passado virando realidade no presente.
Para o presidente da Microsoft Brasil, Mariano de Beer, a primeira década do século 21 foi marcada por transformações e mudanças de paradigma que demonstram não o quanto a humanidade já avançou, mas abre caminho para um longo percurso a ser percorrido em termos tecnológicos. "Muitas descobertas de décadas anteriores que não eram economicamente viáveis ou cujo potencial prático não estava totalmente claro, como as telas sensíveis ao toque, ganharam corpo e adesão no mercado e contribuíram para revolucionar a forma como vivemos e trabalhamos", assegura. Ou seja, entre as expectativas que nos aproximam e nos distanciam dos Jetsons, ainda há muito a se concretizar.
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