Jornal Opção acompanha a visita de chefe do Departamento de Engenharia de Construção (DEC) às frentes de serviços de recuperação de uma rodovia federal e de reconstrução de um aeroporto na Bahia
Militares inspecionam obras conduzidas pelo Exército em rodovia federal e aeroporto no Sul da Bahia
Frederico Vitor
De Caravelas, Bahia
“O trabalho honrado tudo vence.” A frase do Visconde de Mauá é o lema do 11ª Batalhão de Engenharia de Construção (11º BEC), com sede em Araguari, na região do Triângulo Mineiro. A organização militar mantém a 1,5 quilômetro de sua sede, um efetivo de 300 homens que trabalham na reestruturação de um aeroporto e na construção e recuperação de trecho de 84 quilômetros da rodovia federal BR-418. As duas obras estão sendo executadas no município baiano de Caravelas, região Sul do Estado.
Desconhecido pela maioria dos brasileiros, o Exército possui larga experiência em construção, ampliação, reforma, adaptação, reestruturação e conservação de obras em todo o território nacional, empregando as mais avançadas tecnologias da área de infraestrutura. Seguindo um padrão gerencial de planejamento e de execução de obras, atualmente, a Força Terrestre atua em 25 projetos, sendo 9 inseridos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que estão nas mãos de 12 batalhões de engenharia de construção espalhados por todo o País.
A convite da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (Adesg) e do Departamento de Engenharia e Construção (DEC) do Exército, a reportagem do Jornal Opção embarcou em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) a partir da Base Aérea da capital federal, para acompanhar comitiva liderada pelo general de Exército Joaquim Maia Brandão Júnior, chefe do DEC. Os militares foram conferir de perto o andamento das obras tocadas pelo Exército no Sul da Bahia. Também integraram a viagem o general de Brigada Marcio Velloso Guimarães, chefe da Diretoria de Obras e Cooperação (DOC) e demais oficiais, dentre eles o tenente-coronel Ivan Alexandre Correa Silva, comandante do 11º BEC.
À primeira vista, o general pôde comprovar na prática o primor do bom acabamento de uma das pistas do aeroporto reconstruído pela Engenharia do Exército, quando do pouso do Embraer-120/Brasília da FAB, que transportava a comitiva. Construído pelos americanos durante a Segunda Guerra Mundial para fins militares, e distante 12 quilômetros da cidade de Caravelas, ao final do conflito o aeródromo foi repassado para a FAB que, com o tempo, subutilizou o local. No decorrer dos anos, tanto as duas pistas que se cruzam formando um X e o pátio sofreram com o processo de deterioração, se tornando inútil para pousos e decolagens.
Desde de 2011, por meio do 11ºBEC, o Exército tem trabalhado na recuperação das duas pistas (principal e secundária) de pouso e decolagem, das de taxiamento e do pátio. A obra, orçada inicialmente em R$ 17.408.890,07 já consumiu R$ 17.471.706,60 — um pouco mais que o previsto. Entretanto, um novo aporte para a finalização será encaminhada até dezembro deste ano, pois falta apenas o acabamento da recuperação da pista secundária de taxiamento para que a frente de serviço seja concluída.
A obra do aeroporto de Caravelas era um pedido antigo do governo da Bahia, que pretende melhorar o turismo ao arquipélago de Abrolhos, próximo da costa do litoral sul daquele Estado. Para isso, era essencial que o aeródromo estivesse operacional.
Ao término da obra, o aeroporto, que está sob responsabilidade da FAB, será repassado à Infraero. O governo da Bahia, em vista do grande potencial turístico da região, sempre foi favorável a operacionalidade comercial do aeródromo . Inclusive, duas companhias aéreas (Gol e Azul) levantaram interesse em levar linhas regulares para Caravelas.
Missão a concluir
Ao desembarcar do avião, a comitiva se dirigiu ao antigo prédio que abriga o saguão do aeroporto. Os militares ouviram o general Brandão que, enfático, não poupou elogios aos trabalhos até então concluídos e também cobrou empenho para que tudo seja finalizado.
“Temos que sair daqui, pois está dando o tempo de nossa missão”, disse o general.
Em seguida, o comboio militar seguiu em direção às obras de construção e aplicação de asfaltamento da BR-418. A rodovia federal proporciona escoamento da produção agrícola e transporte em grande escala de madeira reflorestável para indústria de celulose, agora também vai fomentar o turismo local.
A estrada faz a ligação entre a BR-101, no distrito de Posto da Mata do município de Nova Viçosa, e a cidade de Caravelas, no litoral sul da Bahia. Além da pavimentação asfáltica, também são construídos bueiros, canalizações e pontes ao longo daquela rodovia. O primeiro repasse financeiro para a construção e pavimentação da estrada foi efetivado em dezembro de 2005 pelo governo federal por meio do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (Dnit), autarquia federal que executa obras em rodovias. A obra ficou paralisada por aproximadamente dois anos devido à falta de licenciamento ambiental.
Os trabalhos começaram efetivamente em meados de 2008 e, atualmente, os serviços são conduzidos em duas frentes, sendo a primeira do quilômetro zero ao 12, e a segunda do quilômetro 12 ao 85. O valor total da obra é de R$ 123.345.301,15 e foram gastos o montante de R$ 92.690.947,07. Há ainda a cifra de R$ 30.654.084,08 a ser executada. A conclusão dos trabalhos pelo Exército estava prevista para novembro deste ano, mas só deve terminar em meados de 2015.
Atualmente, são pouco mais de 72 quilômetros de pista pronta. Até chegar ao trevo de Posto da Mata, ainda restarão mais 12 quilômetros para completar os 84 do trecho em reconstrução. Os serviços de drenagem, terraplanagem, pavimentação e sinalização horizontal e vertical já foram concluídos no trecho aberto ao tráfego.
Destacamento do 11ª. BEC em Caravelas (BA): cerca de 300 militares trabalham nas obras da BR-418
Mesmo debaixo de um sol escaldante, característico do litoral baiano, ou de chuvas torrenciais, as máquinas e os soldados “operários” do Exército não param. A todo instante se observa um tráfego intenso de caminhões basculantes e de máquinas motoniveladoras. De chapéu bandeirante na cabeça, cobertura características de militares de Engenharia de Construção do Exército, o general Brandão e os demais oficiais desciam a todo instante das viaturas que os transportavam para conferir de perto os canteiros de obras conduzidos pelos sargentos, cabos e soldados.
General do Exército Brandão: “Não abrimos mão de fazer bem feito”
O chefe do DEC não deixou de cumprimentar os militares que, faça sol ou chuva, estão ali no trecho trabalhando incessantemente. Entusiasmado pelo que viu ele chamou a atenção para um detalhe: “Esses soldados que aqui trabalham são recrutas locais. Depois que derem baixa do Exército terão aprendido uma profissão”, disse o general enquanto observava os militares trabalhando na concretagem de sarjetas triangulares às margens da pista.
De modo superficial, dá para constatar que o asfalto é diferenciado e consistente para suportar o tráfego pesado de caminhões que cruzam a rodovia nos trechos onde o trânsito é liberado. O acostamento é largo e nos pontos de relevo houve o cuidado de implantar canais de drenagem nas laterais da pista, o que dá maior segurança aos condutores, principalmente durante o período chuvoso.
Se futuramente aquela região se tornar um grande polo turístico e de negócios, impulsionado pelo novo aeroporto e pela rodovia federal segura e em excelentes condições de tráfego, muito se deverá ao Exército. Os esforços de cada um dos 300 militares que, muitos deles a mais de mil quilômetros de casa, vão ser coroados com o desenvolvimento econômico e social daquela área.
Mais uma vez o DEC e o 11º BEC cumprem mais uma missão com alto grau de excelência e eficácia. As palavras do general Brandão deixam claro que quando os militares aceitam o desafio de construir uma obra, seja ela qual for, ao final, sempre haverá um padrão de qualidade: “Não basta concluir a missão, é preciso fazê-la bem feita.”
Contribuição ao desenvolvimento do País
Não é muito conhecido pela maioria da população brasileira, mas o Exército se constitui de uma ampla gama de especificações desempenhadas por cada militar. A divisão dessas particularizações é definida pela “Arma”, “Quadro” ou “Serviço”. A primeira engloba os militares combatentes, dividindo-se em dois grupos: as armas-base (Infantaria e Cavalaria) e as armas de apoio ao combate (Artilharia, Engenharia e Comunicações). A Engenharia divide-se em duas vertentes: de combate e de construção.
A Engenharia de combate apoia as armas-base, facilitando o deslocamento das tropas, reparando estradas, pontes e eliminando os obstáculos à progressão, além de dificultar o movimento do inimigo. Uma operação de guerra de grande envergadura, por exemplo, depende diretamente da Engenharia para a transposição de cursos de água e demais obstáculos. Já a Engenharia de Construção, em tempos de paz, como nos dias atuais, colabora com o desenvolvimento nacional, construindo estradas de rodagem, ferrovias, pontes, açudes, barragens, poços artesianos e inúmeras outras obras.
Engenharia do Exército contribui para o desenvolvimento nacional e cumpre seu papel social com o País
A história da Engenharia do Exército remonta do ano de 1792 quando, por ordem de Dona Maria I, Rainha de Portugal, foi instalada na cidade do Rio de Janeiro a Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho. Essa foi a primeira Escola de Engenharia das Américas e a terceira do mundo, berço do Instituto Militar de Engenharia (IME) e demais escolas politécnicas, faculdades e institutos tecnológicos. Em 1880 o imperador Dom Pedro Segundo criou o primeiro Batalhão de Engenheiros, empregado também na construção de estradas de ferro, de linhas telegráficas consideradas estratégicas e outros trabalhos de engenharia militar pertencentes ao Estado com o intuito de apoiar o desenvolvimento nacional.
É sabido que a missão do Exército, segundo a Constituição Federal de 1988, é de defender a pátria, garantir os poderes constitucionais da lei e da ordem no País. Há também ações subsidiárias, ou seja, a cooperação com o desenvolvimento nacional por meio de execução de obras e serviços de engenharia, além de apoio às situações de calamidades públicas e defesa civil. Mas por que os militares atuam fora do Exército? Uma forma de profissionalizar a tropa de engenharia em tempos de paz é justamente por meio de obras que atendem às necessidades do Estado brasileiro, complementando a sua estrutura.
Exército desenvolve 25 obras em todo o País, sendo 9 do PAC
Para que o Exército consiga organizar e gerenciar toda uma imensa estrutura de engenharia de construção ou combate, foram criados departamentos e diretoria. No topo dessa hierarquia existe o DEC, que tem como missão regular o emprego da Engenharia Militar e seus 15 mil militares em todas as regiões do País, em benefício do Exército e do governo, realizando a gestão de obras, patrimônio, meio ambiente, material e operações de engenharia.
Subordina-se ao DEC a Diretoria de Obras de Cooperação (DOC), que coordena 25 obras em todo o País, sendo nove inseridas dentro do programa federal PAC. Essas obras são parcerias entre o Exército e diversos órgãos em diferentes esferas de governo, como o Dnit, Infraero, governos estaduais, Agência Nacional de Águas, Secretaria Especial de Portos, Ministério da Integração Nacional e Superintendência do patrimônio da União.
Estrutura gigantesca
A Diretoria de Obras Militares (DOM) é a responsável por coordenar e gerenciar obras em quartéis, campos de instrução e residências de militares. Já a Diretoria de Patrimônio Imobiliário e Meio Ambiente (DPIMA) tem como missão coordenar as atividades da administração patrimonial e ambiental das instalações do Exército. Atualmente, a Força Terrestre dispõe de 78 mil imóveis em todo o País, desde ginásios a piscinas e de capelas a residências, passando por hospitais e escolas. São 662 quartéis, 22 mil residências de militares que somam, no total, 23 milhões de metros quadrados de área construída, equivalente à metade do território do Estado de Sergipe.
A mais nova diretoria subordinada ao DEC é a Diretoria de Projetos de Engenharia (DPE), que tem como missão a elaboração de projetos de engenharia de interesse do Exército. Inclusive, há projetos previstos para serem executados em organizações militares em território goiano, como o pavilhão administrativo da Base Administrativa do Comando de Operações Especiais e de um simulador de tiros. Outras obras importantes, como a nova sede do Superior Tribunal Militar (STM), em Brasília, e o Campus da Escola Superior de Guerra, também na capital federal, estão nos planos desta diretoria.
Atualmente, a Engenharia de Construção do Exército atua em obras de cooperação nos Estados de Sergipe, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Piauí, Tocantins, Bahia, Rondônia, Amazonas, Roraima, Acre, Pará, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. São obras de manutenção, conservação e pavimentação de rodovias e melhoramento de estruturas já construídas como pontes e aeroportos.
O general Brandão informa que, diferente de empresas do ramo da construção civil, a Engenharia do Exército não pode ser comparada a empreiteiras. Ele explica que os militares não visam lucro e tampouco encaram as obras como negócios, mas como missão dentro da lógica de contribuição ao desenvolvimento nacional. “Ao mesmo tempo em que cumprimos um papel social, nós também exercitamos a tropa na construção de obras.”
O pátio e as duas pistas do aeroporto de Caravelas foram totalmente recuperados pela Engenharia do Exército
Pode ser por isso que se verifica nos trabalhos de infraestrutura tocadas pelo Exército, o diferencial do custo da mão de obra que não é incorporado ao orçamento final. Os equipamentos também são próprios, o que permite a disponibilidade necessária para que as frentes de serviços trabalhem sem interrupções. Tudo isso contribui para evitar atrasos e demais contratempos.
Uma das provas desta versatilidade e praticidade proporcionada pela Engenharia de Construção do Exército é o maior terminal aéreo de cargas e passageiros da América Latina: o aeroporto de São Gonçalo do Amarante no Rio Grande do Norte. Construído pelo 1º. Batalhão de Engenharia de Construção (1º. BEC), o aeroporto tem um terminal de passageiros de 40 mil metros quadrados, 1,5 mil vagas de estacionamento e capacidade de operação de 6,2 milhões de passageiros por ano. O total de investimento foi de R$ 410 milhões.
A obra chegou a ter envolvidos mais de 630 trabalhadores, entre militares e civis. O convênio entre o Exército e a Infraero foi orçado em R$ 94 milhões e assinado em 2011. No contrato, ficaram sob a responsabilidade do Exército a construção das pistas de pouso e decolagem, o pátio de estacionamento das aeronaves, os sistemas de drenagem e a infraestrutura de balizamento e auxílio à navegação.
11º BEC realizou duas obras em Goiás
A pista de 1,3 mil metros de extensão do aeroporto de Pirenópolis foi construída pelo 11º BEC
O 11º BEC, o mesmo destacamento que está construindo uma rodovia federal na Bahia e recuperando o aeroporto de Caravelas, tem histórico de obras em Goiás. Em 2000, os militares daquela unidade construíram as pistas do aeroporto de Mozarlândia com 1,3 mil metros de extensão, e em 2003 foi entregue a pista do aeródromo de Pirenópolis, também com 1,3 mil metros de extensão.
Formatura no 11º BEC; ao centro o busto do Visconde de Mauá
O Batalhão foi criado em 1983 na cidade de Rio Negro (PR) com a denominação de 2º Batalhão Ferroviário, também batizado como “Batalhão Mauá”, por por ter como patrono a figura de Irineu Evangelista de Souza, o Visconde de Mauá. No sul do País, o batalhão foi o responsável por fazer a ligação ferroviária do Tronco Principal Sul, entre os municípios de Mafra e Lajes, em Santa Catarina, num total de 295 quilômetros de linha férrea construídos.
Construção de túnel de ferrovia no município de Lajes (SC)
Em 1965, o Batalhão Mauá foi transferido para a cidade de Araguari, em Minas Gerais, com a finalidade de fazer a ligação ferroviária do Triângulo Mineiro à capital federal. Em 1999, se adequando à nova doutrina do Exército, aquela organização militar recebeu a denominação de 11º Batalhão de Engenharia de Construção.
Além das obras em Caravelas, o 11º BEC também atua com um efetivo de 70 militares nas obras de manutenção e readequação da BR-367, no município mineiro de Virgem da Lapa.
Fonte:Jornal Opção