Delegado-chefe da 5ª DP, João Ataliba Neto, confirmou que o motorista depôs nesta segunda-feira (29/10), pois, em razão do alto grau de embriaguez do condutor, não foi possível interrogá-lo no momento do flagrante. "Ele negou que tivesse furado a blitz e que desobedeceu os policiais", comentou o delegado. Segundo o depoimento de Raimundo, depois do primeiro disparo, ele teria se apavorado e saído com o carro.
No relato, o condutor contou ainda que não se lembra do segundo ponto de bloqueio. "Ele disse que o plugin do acelerador travou e por isso o carro começou a andar e que não conseguiu frear", destacou o delegado-chefe. De acordo com o motorista, ele saiu do carro e desmaiou, sendo acordado com agressões de um PM. "Disse que levou tapas na cara, socos na costela e um pisão na cabeça", detalhou o delegado-chefe sobre o depoimento.
Aos investigadores, Raimundo comentou também que acredita que Islan foi atingido logo nos primeiros disparos. O motorista disse que não se lembra se o carro quebrou para que parasse ou se parou por vontade dele.
Segundo o relato do motorista, ele foi encontrar com o Islan em uma casa de shows no Setor de Garagens e Oficinas (SGO), próximo ao Eixo Monumental, para entregar um dinheiro que ele havia pedido emprestado. Raimundo disse que não bebeu e que estava indo levar o Islan para casa quando caiu na blitz.
Raimundo é formado em administração e cursa o último semestre de Engenharia Civil. Atuante no ramo da construção civil, ele tem uma empresa e administra outra que está registrada em nome da esposa. Em depoimento, ele comentou ainda que era amigo de Islan. O rapaz havia sido funcionário dele.
O motorista foi preso em flagrante. Ele passou por audiência de custódia na manhã desta segunda-feira (30/10), sendo convertida a prisão em preventiva. A polícia aguarda o resultado da perícia no veículo e o laudo cadavérico da vítima. Não há informações de quantos tiros atingiram o carro e se algum chegou a atingir o pneu.
Morte na blitz
Islan estava no banco do passageiro de uma BMW 350i branca, que fugiu da Operação Álcool Zero, na madrugada de domingo (29/10), no Eixo Monumental. Os policiais militares deram ordem de parada, mas o condutor, Raimundo Cleofás Alves Aristides Júnior, 41, desobedeceu e acelerou em alta velocidade atropelando um PM e furando o bloqueio.
Após a tentativa de fuga, os agentes de segurança dispararam contra o veículo, atingindo Islan. Ele morreu no local, antes da chegada do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). O veículo tinha marcas de tiro nos vidros traseiro e dianteiro, capô e porta.
A PMDF afirma que o condutor desobedeceu às ordens emitidas pelos policiais, o que teria dado início à perseguição, até o momento em que o condutor parou, saiu do carro e deitou-se no chão, na via S1, perto da Esplanada dos Ministérios. Os tiros, segundo a corporação, eram em direção aos pneus para que o carro parasse.
O corpo de Islan foi velado e enterrado na manhã desta terça-feira (31/10), no Cemitério Campo da Esperança, da Asa Sul.
Investigação
Durante coletiva de imprensa para esclarecer detalhes acerca da abordagem em blitz com tentativa de fuga e morte, o delegado-chefe da 5ª Delegacia de Polícia (Área Central), João de Ataliba Neto, afirmou que foram instaurados dois inquéritos policiais. O primeiro é relativo ao flagrante do motorista, Raimundo Cleofás, preso pelos crimes de tentativa de homicídio contra um policial militar e por embriaguez ao volante. Já o segundo é para apurar as circunstâncias da morte do passageiro Islan da Cruz Nogueira, causada pelo Estado.
No entanto, as oito armas de oito PMs que dispararam foram apreendidas para saber de qual pistola de 9mm saiu o disparo que vitimou o passageiro. O motorista passou por audiência de custódia e teve a prisão convertida em preventiva. A PCDF tem dez dias para concluir o inquérito policial.
A PCDF ainda vai ouvir mais testemunhas, entre policiais, que serão identificados e que estavam na operação, e pessoas presentes no local do ocorrido. Ao todo, foram 15 agentes, sendo cinco por ponto de bloqueio. As câmeras de segurança da via também serão analisadas para entender a dinâmica da fuga. “Hoje, a gente tem mais perguntas do que respostas”, concluiu o delegado.
Segundo o coronel da PMDF, Edvã Sousa, os PMs envolvidos na ação foram afastados da função. “Eles estão afastados para poder preservar as questões psicológicas deles, não porque estão sendo investigados. Eles fazem parte de um processo e, como eles estavam no ambiente, vão sofrer toda a investigação policial militar e pela questão do inquérito civil. O afastamento não é por serem culpados. É o rito processual estabelecido”, pontuou.
Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/