Após deixar o hospital, Wederson foi levado à 8ª DP para prestar depoimento, quando confessou o crime e disse que pretendia se entregar - (crédito: Letícia Guedes )
Na manhã de domingo (16/6), o suspeito do oitavo feminicídio ocorrido neste ano foi capturado pela polícia. Segundo a Secretaria de Segurança Pública, todos os autores identificados estão presos
À PMDF, o homem confessou o crime e disse que pretendia se entregar. No interrogatório ontem, na 8ª Delegacia de Polícia, na Estrutural, Wederson declarou ao delegado que a vítima teria afirmado que lhe transmitiu HIV, e que essa seria a motivação do crime. A família nega veementemente que Jainia fosse portadora do vírus. Agora, o suspeito, que estava cumprindo prisão domiciliar desde novembro de 2022, passará por audiência de custódia, hoje ou amanhã.
Alexandre Patury, secretário executivo de segurança pública, destacou a prisão dos autores identificados e apontou que a pasta tem trabalhado junto ao Judiciário e Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios (MPDFT), à Secretaria de Estado da Mulher (SMDF), à imprensa e à sociedade, como um todo, para que os casos sejam evitados. "Há algumas situações, como nesse caso, em que os crimes, infelizmente, acontecem dentro das casas, onde a polícia, muitas vezes, não tem acesso. E quando se olha a ficha criminal de quem cometeu o feminicídio, percebe-se que era uma pessoa de altíssima periculosidade, que já tinha respondido por crimes gravíssimos, inclusive, contra a própria vítima, mas que estava livre, nesse caso, em prisão domiciliar. Fica difícil quando não se tem o apoio da legislação", disse, ressaltando que a denúncia é o melhor e mais eficiente caminho para evitar esse tipo de violência.
O crime
O assassinato aconteceu no último sábado. A PMDF foi acionada por volta das 12h50, quando uma criança de quatro anos pediu ajuda a um homem, informando que a mãe estava dormindo sobre uma poça de sangue. No local, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), constatou o óbito. Jainia, que foi morta com duas facadas no pescoço, deixa três filhos, de 19, 15 e criança de quatro anos.
Segundo familiares, Jainia e Wederson viviam, há aproximadamente dois anos, um relacionamento marcado por brigas e agressões físicas, que se intensificavam quando os dois estavam sob o efeito de álcool. Desde 2023, a vítima obteve uma medida protetiva contra o suspeito, que o proibia de permanecer na casa de Jainia, de entrar em contato com ela e com familiares, além de precisar estabelecer um limite mínimo de 300 metros de distância.
A filha mais velha da vítima, Yara Delfina Jorge da Silva, 19, contou ao Correio que a família está aliviada com a prisão, uma vez que todos estavam traumatizados e passaram a noite de sábado bastante nervosos. "Nós estávamos morrendo de medo. Ele sabe onde todo mundo mora, poderia estar em qualquer lugar", declarou a filha. "Que a Justiça seja feita, aquele homem tem que sofrer muito. A gente sabia do passado dele, a ficha dele é muito suja. Minha mãe já sabia. Eu falava: 'sai mãe, esse homem não presta!' Todo mundo cansou de falar com ela e deu no que deu", disse Yara, em meio às lágrimas.
Irmão de Jainia, Jefferson de Assis, 33, acredita que, com a prisão, a família poderá ficar mais tranquila. Sobre a irmã, lamentou que agora a alegria da rua em que ela morava, onde era conhecida por todos, acabou. "Ela era alegre demais, sempre foi assim, era bem conhecida na Estrutural, mas depois que ela o conheceu, todos os amigos se afastaram por causa dele."
Até o fechamento desta matéria, não havia informações acerca do velório e enterro de Jainia.
Ficha criminal
Apontado como principal suspeito de assassinar Jainia, Wederson carrega uma extensa ficha criminal. O homem tinha uma condenação por homicídio e atentado violento ao pudor, por estuprar e matar uma adolescente de 15 anos dentro do sistema de ventilação da estação de metrô Rodoviária do Plano Piloto. Pelos crimes, cometidos em 2006, ele foi condenado a 20 anos de prisão.
O Correio obteve acesso ao prontuário prisional de Wederson, no qual constam 29 ocorrências — sendo 23 delas praticadas, inclusive, dentro do Complexo Penitenciário da Papuda. O réu chegou a comandar o "jogo do bicho" na cadeia, foi preso por tráfico de drogas e também foi um dos incentivadores das rebeliões que ocorreram entre 2006 e 2022 na prisão.
Uma das ocorrências se refere a uma tentativa de homicídio. Na ocasião, Wederson atacou um colega de cela com duas escovas de dente afiadas.
De acordo com investigadores ouvidos pela reportagem, Wederson é considerado um criminoso de alta periculosidade, e inventou várias identidades ao longo da vida criminosa para tentar escapar.
A irmã da vítima, Amélia Rosa de Assis, 36, relatou que já desconfiava do comportamento de Wederson. "Quando chegou a Brasília, ele não tinha documentos, dizia que tinha vindo do Mato Grosso e que não tinha família, ninguém sabia de onde realmente ele era", disse.
Em 10 de junho de 2023, Jainia solicitou a medida protetiva contra o então companheiro, depois de uma briga. Segundo registro, Wederson teria tido uma crise de ciúmes e ficado muito agressivo, tendo desferido tapas e xingamentos contra a mulher. Posteriormente, no entanto, Wederson voltou a morar na casa da família.
Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/
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