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domingo, 8 de dezembro de 2013

Exército de lagartas deve provocar prejuízo superior a meio bilhão de reais para Goiás

Agricultura
Exército de lagartas deve provocar prejuízo superior a meio bilhão de reais para Goiás
A Helicoverpa armigera, um inseto que até então não existia na América Latina, já causou muitos danos às lavouras. Porém, especialistas apontam que sua incidência no Estado não é de hoje e pode, inclusive, chegar a dez anos de existência no Brasil
Fábio Santos
A vilã do momento: a lagarta Helicoverpa armigera. Pela foto, não parece que essa criaturinha já causou um prejuízo de quase R$ 600 milhões para o Estado. Na foto menor pode-se verificar o tamanho real da lagarta
Marcos Nunes Carreiro 
Era um dia de vento em Palmeiras de Goiás, a pouco mais de 70 quilômetros de Goiânia. A extensa plantação de soja balança ao som do vento, enquanto o sol se aproxima do seu auge de temperatura. O dia estava calmo até ali. E o espetáculo verde agraciava os olhos da professora doutora em entomologia pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Cecilia Czepak.

A plantação costuma gostar bastante do vento. Afinal, quem não gosta de sentir os cabelos balançando naquela sensação imensa de liberdade? Bem, imagine que boa a sensação de uma planta quando sente suas folhas ao vento. Porém, há de se dizer que naquele dia existia uma preocupação a mais sobre os vegetais. E essa consternação não deixava que elas aproveitassem bem o vento a bater em suas folhas. O motivo estava sob a folhagem de algumas plantas.

Era uma jovem lagarta verde com traços não tão peculiares: sua cápsula cefálica –– a cabeça –– tingida numa cor parda clara, linhas finas brancas laterais, além da presença de pelos brancos. Protegida por uma folha do calor intenso, ela se segurava na soja em formação enquanto a devorava. A plantação estava ainda na fase de florescimento, logo, o fruto era pequeno o suficiente para que a lagarta, que tem entre 30mm e 40mm de comprimento, comesse um quarto de sua extensão em menos de dois minutos. A voracidade daquele inseto é incrível.

A lagartinha era verde. Porém, naquela mesma plantação existiam outras da mesma espécie, mas de outras cores. Algumas de um tom amarelo-claro, outras marrom avermelhado e outras até mesmo pretas. Mas, independentemente da cor, aquela lagarta era, definitivamente, o único inseto naquela plantação. Motivo: após a aplicação aérea do inseticida, apenas ela havia sobrado. A brava lagarta resistiu aos produtos e em seu estágio final, já quase pronta para se tornar uma adulta, ou seja, uma mariposa, ela devorava os pequenos frutos da soja.

O motivo para que ela resistisse ao inseticida estava em algo que, no fim, era uma diferença, talvez uma característica particular sua, se em comparação aos seus familiares: ela possuía uma camada de pigmentação um pouco mais coriácea, isto é, tinha uma cobertura mais espessa, grossa. E isso lhe garantia uma condição especial para continuar ativa e dominar o espaço que antes nem era seu. E era por causa dela que a professora aguardava seus alunos naquele dia.

Era quase meio-dia quando os acadêmicos chegaram a fim de recolher algumas espécies da lagarta que estava atacando a plantação. Naquele mês de outubro com a soja recém-plantada, inevitavelmente, a professora não conseguiu refrear a lembrança de que meses antes, ela estava ali, naquele mesmo local, esperando a chegada dos técnicos do Minis­tério da Agricultura, Pecuária e Abaste­cimento (Mapa). O trabalho a ser feito por eles naquele momento iria ter um impacto significativo na produção agrícola do Brasil, principalmente de Goiás.

Acontece que nos dias anteriores daquele mês de março –– no dia 22, para ser mais preciso –– a professora, juntamente com um grupo de colegas da Fundação Mato Grosso, havia notificado o Mapa acerca da entrada de uma praga quarentenária no Brasil, o inseto Helicoverpa armigera, ou H. armigera. Era a lagarta. As notícias desta praga não eram nada boas para um país agrícola como o Brasil, uma vez que ela dava um trabalho danado para os produtores nos lugares onde se encontrava. Afinal, em seu estágio final –– já prestes a se tornar uma adulta mariposa ––, a fome da lagarta era maior. Logo, os estragos para a plantação eram grandes.

Fora isso, a H. armigera tem alta capacidade reprodutiva, sendo que cada fêmea pode botar de mil a 1.500 ovos, sempre de forma isolada e em lugares mais altos, como talos, flores, frutos e folhas, preferencialmente no período noturno. O período larval da Helicoverpa armigera –– quando o inseto ainda é uma lagarta –– contém de cinco a seis estágios e pode durar de duas a três semanas, dependendo das condições climáticas. Nos estágios finais, além de maior fome, ela apresenta no primeiro segmento abdominal, o formato de uma “sela”, devido à presença de tubérculos abdominais escuros.

Além disso, a H. armigera é uma espécie de inseto extremamente polífaga (come de quase tudo), cujas larvas foram registradas em mais de 60 espécies de plantas cultivadas e silvestres e em cerca de 67 famílias hospedeiras. Ou seja, ela pode causar danos a diferentes culturas de importância econômica, como o algodão, soja, leguminosas em geral, sorgo, milho, tomate, plantas ornamentais e frutas, inclusive frutas cítricas, como laranja.

Quando a lagarta está na planta ela come folhas e caules, embora tenha preferência por brotos, inflorescências, frutos e vagens, o que causa danos tanto na fase vegetativa quanto reprodutiva da planta. Em resumo, quando a H. armigera chega à plantação é uma complicação para o produtor. Isso, em grande parte, diz respeito ao seu ataque ao fruto, produto pelo qual o produtor se interessa. Afinal, sem fruto para vender, nada de lucro.

Os acadêmicos do curso de agronomia da UFG que visitavam a fazenda naquele dia queriam identificar e verificar a quantidade de lagartas que havia na plantação para aplicar técnicas de manejo com o objetivo de controlar a incidência do inseto, que já havia dado um prejuízo na casa de R$ 1 bilhão no oeste da Bahia no início do ano. Assim, a preocupação com Goiás é grande, uma vez que o Estado é o maior produtor de soja do País, além de grande produtor de outras culturas.

Na verdade, Goiás produz de tudo. Talvez, por isso, o cálculo estimado do prejuízo goiano já esteja na casa dos R$ 600 milhões. Mas a grande consternação dos pesquisadores está no fato de que, sendo ela extremamente adaptável, ela pode se adaptar às plantas nativas do Cerrado, uma vez que ela é extremamente associada à florescência. Se isso ocorrer, o gosto goiano pelo pequi pode estar ameaçado.

E de onde veio a H. armigera? Como ela chegou a Goiás? A resposta para como ela chegou a Goiás é mais simples. Afinal, ela já havia sido constatada na Bahia e no Mato Grosso, que, tão logo se deram conta dos prejuízos, requisitaram declaração de estado de emergência fitossanitária. Depois disso, ela já foi encontrada em quase todos os Estados brasileiros. Do Rio Grande do Sul a Roraima. A grande questão é que, além de se reproduzir rapidamente, a H. armigera tem uma migração de longa distância –– pode voar até mil quilômetros em dois ou três dias, utilizando o vento.

E a mariposa nem é grande em tamanho. É mais ou menos do mesmo tamanho de outras mariposas que se encontram em casa às vezes. Nessa fase, a H. armigera apresenta, sobre as margens das asas anteriores, uma linha com sete a oito manchas e, logo acima, uma faixa marrom ampla, irregular e transversal. Na parte central, ela tem uma marca em forma de vírgula. As asas posteriores são mais claras e mostra na extremidade uma borda marrom escura, com uma mancha clara no centro. A cor do primeiro par de asas dos machos é cinza esverdeado e a das fêmeas pardo alaranjado.

Além disso, ela consegue se adaptar muito bem a qualquer ambiente. Não à toa ela é encontrada tanto no clima quente da Austrália ou árido da África quanto no frio europeu. Assim, cogita-se que a H. armigera tenha entrado no Brasil vindo da Austrália, do Paquistão, da Índia e da China. Ou seja, ela não migrou para cá vindo apenas de um lugar e nem apenas uma vez.
“Disseram-me que havia uma helicoverpa numa laranja. Ora, isso nunca havia acontecido antes”
A professora Cecilia Czepak estava sentada em frente à mesa de madeira escura em seu escritório no Departamento de Pragas e Manejo da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal de Goiás (UFG). Ela listava alguns números quando a reportagem chegou. Chovia. Um bonito quadro estava pendurado na parede imediatamente às costas da professora. Re­presentava um porto.

Com um sorriso no rosto, ao ver o interesse pela obra, a professora logo revelou sua autoria: Gabriella Czepak Gaston, sua filha de 15 anos.

–– Sua filha tem um belo traço.

–– É. Ela tem o dom, embora nunca tenha feito nenhum curso. São delas as ilustrações que uso em minhas palestras. Tem umas coisas bastante interessantes. Mas me diga: em que posso te ajudar?

–– Quero saber mais a respeito da lagarta que está assustando os produtores de Goiás.

–– Ah sim. Bom, ela é de uma família já conhecida no Brasil, cuja incidência ficava por conta de duas espécies desse grupo: a Helicoverpa zea e a Helicoverpa gelotopoeon. São insetos já conhecidos dos produtores. Porém, ainda não havia registros da Helicoverpa armigera. E, sendo da mesma família, esses insetos são bastante parecidos. É como se elas fossem parentes próximas. Na verdade, acredita-se que eram apenas uma espécie, que adotaram características particulares, após a divisão dos continentes. Assim, a identificação é bastante complicada, pois depende do trabalho de um taxonomista, que, por meio de lâminas, consegue comparar a genitália dos adultos machos e diferenciar as espécies. É uma espécie muito voraz, principalmente nos últimos estágios. Por isso, o controle deve ser feito nas fases iniciais. E o grande problema é que em seus países de origem, a H. armigera causa problemas justamente nas culturas que temos aqui, principalmente o tomate. Mas ela se adapta fácil a outras culturas.

–– Ela chegou ao Brasil como e quando, a senhora saberia dizer?

–– Com certeza, não. Mas tenho a teoria de que ela já está no Brasil há muitos anos. Olhando algumas fotos antigas e observamos que em 2005 vimos uma mariposa da espécie em meio a outras mariposas. Ou seja, a infestação dessa praga não é algo exatamente novo. Mas por que não conseguimos identificá-la antes? Acontece que o agrônomo estava indo para o campo e vendo pessoas dizendo que existia uma lagarta que estava sobrando, isto é, o inseticida não estava matando essa lagarta.

Bom, acontece que temos algumas espécies nativas que geralmente sobram, além de que a H. zea e a H. gelotopoeon não podem ser diferenciadas a olho nu facilmente, como já disse. A rigor, elas são praticamente iguais a olho nu. Então, imaginávamos que fossem essas espécies. Contudo, de alguns meses para cá, vínhamos observando que essa lagarta estava dando mais trabalho que o normal. Além de que começamos a ver alguns fatos que não são normais. Um exemplo: um dia, um aluno me disse que havia achado uma Helicoverpa em uma laranja. Ora, isso nunca havia acontecido antes. Em um primeiro momento, chegamos a pensar que os insetos nativos estavam mudando de hábito devido a grande quantidade de inseticida que alguns produtores aplicam no campo. Isso poderia acontecer. Então, certo dia, outro aluno me enviou uma foto em que um macho de Helicoverpa estava copulando com uma fêmea de Heliothis. Nesse momento, surgiu a teoria de que, talvez, estivéssemos lidando com uma espécie invasora, pois quando um macho de uma espécie copula com uma fêmea de outra espécie, geralmente significa uma invasão. Eles fazem isso para sobrepujar as espécies nativas, entende? Assim, por curiosidade, peguei uma amostra desse inseto e trouxe para o laboratório. Criei e enviei uma amostra para o taxonomista Vitor Becker, que faz a identificação dos insetos dessa família no Brasil. Alguns dias depois, ele disse, então, que se tratava da espécie Helicoverpa armigera. Foi quando nós, juntamente com a Fundação Mato Grosso, fizemos a primeira ocorrência dela e notificamos de imediato o Ministério da Agricultura.

A notificação feita pela UFG e a Fundação MT se dá pelo fato de a H. armigera ser considerada uma praga quarentenária, isto é, um organismo de natureza animal ou vegetal, que não existe no país e que, estando presente em outros países ou regiões, mesmo sob controle permanente, constitui ameaça à economia agrícola do país. E a H. armigera representa uma séria ameaça ao Brasil. Não à toa três dos maiores Estados produtores do país estão em estado de emergência fitossanitária.

Além disso, na Austrália –– que é um importante país produtor agrícola ––, a H. armigera está sob constante controle, pois já causou problemas sérios por lá. Os australianos têm um programa de manejo rígido, intensificado e contínuo. Eles contam, por exemplo, com uma prática pouco aplicada no Brasil: a destruição do resto de produção e da tiguera –– áreas de terra plantada onde já se fez a colheita, e que crescem plantas esporádicas. Por exemplo, em uma área de plantação de soja em que a colheita já foi feita, os grãos que sobraram acabam germinando e dando origem a novas plantas. Isso é tiguera.

Por que isso é feito? É simples. Enquanto houver alimento para lagarta, ela ficará no local. Contudo, esse problema está de forma muito mais enraizado em um Estado como Goiás, onde há produção durante todo o ano. Ou seja, depois que a soja é colhida, planta-se tomate. Depois do tomate parte-se para o feijão e milho, que abre espaço para a soja novamente. E de tudo isso a H. armigera se alimenta.

Em Goiás, a lagarta já foi identificada em frutas cítricas –– como laranja ––, tomate, feijão, soja, crotalárea, girassol, plantas daninhas, algodão, pimentão, pimenta, etc. E, como já dito, a grande preocupação agora é de que ela se adapte às plantas nativas do Cerrado, pois ela é extremamente associada à florescência, tanto o adulto quanto a forma larval. Eles gostam da parte reprodutiva da planta.

Em Bonfinópolis, por exemplo, há produtores colhendo e cultivando laranjas, ou seja, ao mesmo tempo, esse produtor tem frutos maduros assim como também tem frutos em fase de formação. E há casos em que a H. armigera comeu tanto as laranjas maduras quanto os produtos em formação. Isto é, até o momento, nada escapou da voracidade da lagarta.
–– Mas se o inseticida não consegue controlar a H. armigera, o que se pode fazer?

–– O produtor hoje não pode apenas aplicar os produtos na época certa. Ele tem que ir ao campo e monitorar. Se não fizer isso, não há como identificar a praga. Sem identificação, não há como aplicar o inseticida no momento correto e de nada adianta. Esse é o quadro na maior parte do país. O produtor precisa entender que lidamos com uma praga que, efetivamente, entrou no país para ficar. E nós não temos como destruí-la. Se tivéssemos feito essa identificação há cinco ou seis anos atrás, talvez pudéssemos conseguir. Mas não foi o caso. Agora, precisamos conviver com ela. O produtor tem que estar no campo na fase vegetativa da produção pelo menos uma vez por semana. Na fase reprodutiva, pelo menos duas vezes por semana. E não adianta identificar. É preciso quantificar essa praga em uma proporção que é possível ver a existência de ovo e lagarta, pois a eficácia do combate é garantida na fase inicial. São as boas práticas agrícolas que o produtor precisa voltar a fazer, como aplicação noturna, que garante a eficácia dos produtos. A lagarta é menos ativa no período diurno. Além disso, durante a noite, devido a temperatura mais amena, ela sai mais e o produto não evapora. E há outras práticas também, como o controle do adulto por meio de iscas feitas com açúcar, inseticida e água. E a aplicação deve ser feita por faixas e não na área inteira. Fazendo isso, o produtor conseguirá bloquear o fluxo de adultos e diminuir a população da praga.
Situação de emergência fitossanitária  deverá ajudar no controle da lagarta 
 
A safra de grãos deste ano em Goiás está estimada para aproximadamente 19 milhões de toneladas, podendo chegar a 20 milhões. Tudo depende das condições climáticas e do desempenho da segunda safra –– a que os produtores geralmente chamam “safrinha”. Contudo, é certo que os produtores estão apreensivos.
 
De acordo com o presidente da Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de Goiás (Faeg), José Mario Schreiner, a maior preocupação dos produtores está no fato de que, atualmente, a soja ainda está pequena, o que facilita a identificação da presença de alguma praga. Contudo, quando a soja estiver maior será mais complicado vê-la. Além disso, não se sabe ao certo o tamanho do prejuízo causado até o momento pela infestação da praga.
 
Schreiner calcula que o dano esteja na casa dos R$ 600 milhões, devido às perdas dos produtores e ao aumento do custo na produção, visto que com a incidência da H. armigera foi necessária a compra de uma quantidade maior de defensivos agrícolas, além de outros custos relacionados a técnicas de manejo. E o fator agravante é que a maioria dos inseticidas usados de nada adianta, uma vez que a H. armigera resiste a eles.
 
Para isso, explica Schreiner, o estado de emergência fitossanitária deverá auxiliar nesse combate. “A situação oficial de emergência fitossanitária permite a aplicação de outros planos além do usual, como a importação de produtos combativos mais eficazes. Os inseticidas geralmente utilizados não combatem a lagarta de modo efetivo. Fora isso, estamos lidando com a baixa de produtos, uma vez que os produtores estão usando uma maior carga de produtos”, diz.
 
Um desses produtos é o benzoato de emamectina, um inseticida produzido na China. Ele não é registrado no Brasil e só entrará no país devido ao estado de emergência de alguns Estados. Pelo telefone, o secretário estadual de Agricultura, Antônio Flávio, explicou que os pedidos de importação desse e de outros produtos já começaram a ser feitos visando o controle da lagarta.
 
–– Tomamos todas as providências necessárias para reverter a infestação desde o mês de abril. Reunimos 15 entidades públicas e privadas e elaboramos um plano de ação específico para o controle dessa lagarta, que é resistente aos nossos defensivos. No plano de ação, capacitamos técnicos da Agrodefesa [Agência Goiana de Defesa Agropecuária] e da Emater [Agência Goiana de Desenvol­vimento Rural e Fundiário] para identificar a lagarta, o que não é nada fácil. Fizemos sete seminários voltados para produtores com o objetivo de explicar a dimensão do problema, assim como as ações que podem ser realizadas. Esse foi o primeiro plano de ação voltado para o combate à praga feito no Brasil. Consequentemente, o mais rápido. Estamos atentos para evitar um prejuízo maior. Nossa preocupação atual é quanto à capacidade de destruição que a lagarta tem, se ela se encontra presente em todas as lavouras e quanto a sua dispersão pelo ambiente.
 
Até o momento, 19 municípios –– quase todos concentrados nas regiões sudoeste, sudeste e sul do Estado –– tiveram a presença da H. armigera confirmada em suas lavouras. Flávio diz que um material está sendo elaborado para ser entregue aos produtores com o objetivo de informar também acerca de sobre outras medidas de manejo que não sejam ligadas aos defensivos agrícolas, como inimigos naturais que podem diminuir sua população. 
 
Especialista, secretário e líder classista admitem possibilidade de biopirataria 
 
Com uma praga tão feroz atacando as produções de um dos maiores países produtores do mundo –– um dos maiores produtores de tomate, milho e soja do Brasil e o maior produtor de grãos do País –– logo surgiu-se especulações acerca de biopirataria ou bioterrorismo. Isto é, a Helicoverpa armigera, que até então não existia nas Américas, teria sido trazida e criada com o único objetivo de prejudicar a economia do país, que gira praticamente em torno das produções agrícolas.
Assim, a reportagem fez a mesma pergunta para a professora da UFG Cecilia Czepak, para o presidente da Faeg, José Mário Schreiner, e para o secretário de Agricultura de Goiás, Antônio Flávio. A resposta dos três partilha do mesmo núcleo: não é possível provar que sim, ao passo em que não se pode afirmar que não.
 
Cecília Czepak: “Um inseto exótico nunca entra em determinado país causando estragos imediatos. Há cinco meses criamos esse inseto aqui no laboratório e ele é muito melindroso. Então, para alguém ter criado essa quantidade enorme de insetos e espalhado pelo país, requer uma habilidade fora de compreensão. Agora, dizer que há alguns anos, de forma desavisada ou mesmo maldosa, alguém entrou no país com alguma amostra de fora e deixado aqui, é possível, mas não se pode provar. Fora isso, existe um material publicado pelos australianos dizendo que houve várias entradas no Brasil e de várias origens. Ou seja, os insetos podem ter vindo da Austrália, do Paquistão, da Índia e da China. Para se ter uma ideia, nos Estados Unidos ocorreram 20 interceptações dessa lagarta em apenas um ano e eles já estão esperando que a incidência e Helicoverpa armigera logo chegue a eles, já que a praga está agora no Brasil e em outros países da América Latina”.
 
José Mario Schreiner: “Com a globalização, onde tudo trafega com maior facilidade, não podemos afirmar nem descartar. Mas é certo que o Brasil tem um controle bastante rigoroso e, por isso, sua entrada no Brasil é bastante estranha. Mas teremos que aprender a conviver com ela. Acredito que a pesquisa ajudará bastante nesse aspecto”.
 
Antônio Flávio: “É uma novidade por aqui, pois ela não existia em nosso ambiente e isso causa preocupação, pois representamos um importante local na produção de alimentos. Agora, cabe ao Ministério da Agricultura vigiar nossas imensas fronteiras. Essa é uma preocupação que precisa ser bem pensada, pois há várias maneiras de se entrar com uma praga como essa no país. Porém, não poderia afirmar que esse é um ato de biopirataria. É preciso identificar o modo de sua entrada e lutar contra sua infestação.”

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