CAMPANHA DE UTILIDADE PÚBLICA--INFRAESTRUTURA

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domingo, 15 de dezembro de 2013

Por que o PT de Antônio Gomide tem de se submeter ao PMDB de Júnior do Friboi?


Os prefeitos Paulo Garcia e Antônio Gomide, em termos públicos, são mais qualificados do que o empresário Júnior do Friboi. Fica-se com a impressão de que o PMDB prefere perder para Marconi Perillo a eleger um petista
Antônio Gomide e Marconi Perillo: o petista pode ser o grande adversário do tucano em 2014, mas não reúne apoio. Parece que todos os temem, inclusive o PMDB e o próprio PT













Na política, como na vida, nem sempre ga­nha o melhor. Nem sempre o mais qualificado, como político e gestor, consegue ser candidato a governador. Em 2006, o governador Marconi Perillo tentou lançar Leonardo Vilela, médico e produtor rural competente, para o governo. No entanto, como candidato a senador, teve de desincompatibilizar-se. Assim, o vice, Alcides Rodrigues, assumiu o governo e se tornou candidato “natural” à reeleição. O resultado? Um dos maiores desastres administrativos da história de Goiás. Alcides não tinha aptidão nenhuma pela gestão pública e terceirizou o governo para um aliado que ficava satisfeito quando era chamado de “primeiro-ministro”, numa referência explícita ao fato de que o governador que não governava era uma autêntica rainha da Inglaterra, com a única diferença de que veste calça. Sete anos depois, assiste-se, como se a história estivesse se repetindo — quem sabe, diria Karl Marx, como farsa —, uma situação parecida. O governador Marconi Perillo será candidato à reeleição e lidera as pesquisas. Trata-se de um adversário temível. Em 2010, mesmo fora do poder, articulou uma estrutura poderosa, com um marketing de primeira — que possibilitou que se apresentasse como “o” candidato de oposição, rompendo, do ponto de vista do eleitor, a ideia de ciclo —, e derrotou, pela segunda vez, Iris Rezende, do PMDB, e o candidato do governo Alcides, o empresário Vanderlan Cardoso, então no PR. Agora, no poder, o tucano-chefe se torna um adversário ainda mais perigoso para seus adversários. A realidade cobra, para enfrentá-lo, um político altamente profissional e com estrutura política e financeira adequada.

Os adversários de Marconi não estão inteiramente definidos. Co­mecemos por Vanderlan Cardoso, pré-candidato do PSB. Trata-se de um empresário vencedor e tem um cartel positivo como prefeito de Senador Ca­ne­do, quiçá sua Ítaca. Não se deve dizer que se tra­ta de um político perdedor. Porque só perdeu uma eleição, para o governo, em 2010, e contra dois políticos experimentados: Marconi Perillo, o vencedor, e Iris Rezende, o segundo colocado. O quadro de 2014 ainda está se delineando e, por isso, não se pode falar em definições. A política é como vento, circunstância, e por isso um quadro que se avalia como fixo pode mudar de repente, surpreendendo aqueles que trabalham apenas com certezas, esquecendo-se das dúvidas. Mas Vanderlan enfrenta problemas sérios.

Vanderlan tem um partido, o PSB, com estrutura nacional e com um pré-candidato a presidente da República, Eduardo Campos (ou Marina Silva). Mas um partido sem militantes qualificados — como prefeitos e vereadores — vale muito pouco numa eleição. Pois o empresário “ga­nhou” um partido, foi imposto como presidente por Eduardo Campos, mas não levou o principal — seus militantes. Como na campanha de 2012, o PSB havia sido bancado financeiramente por Júnior do Friboi, então seu poderoso chefão, agora a maioria dos prefeitos e vereadores decidiu segui-lo — abandonando Van­derlan na chapada do deus-dará.

O pré-candidato do PSB, gestor qualificado mas político que articula mal, enfrenta outro problema. Falta-se expectativa de poder.

A expectativa de poder está, se se pode dizer assim, com o PSDB de Marconi Perillo e com a aliança PMDB-PT. Romper a polarização é muito difícil, o que não quer dizer impossível. Isto só costuma acontecer quando o candidato da terceira via consegue empolgar a população, que passa a observá-lo com atenção redobrada, deixando os candidatos supostamente “oficiais” de lado. Pode parecer estranho o que se vai dizer a seguir: falta charme — “it”, diria um inglês com espírito renascentista — a Vanderlan. O socialista-capitalista, mesmo quando diz as coisas mais importantes para os goianos — por exemplo, ao discutir o endividamento do Estado —, não empolga. Fica-se com a impressão de que não motiva nem mesmo seus aliados. O brasileiro, mesmo o mais racionalista, não aprova político com a cara mal-humorada de José Serra. Vanderlan é o José Serra do PSB. Observe-se Vanderlan e Eduardo Campos, o governador de Pernam­buco, conversando. O primeiro não ri, não se abre. Deixa a impressão de que se deve viver para o trabalho, pois a vida não abre espaço para o samba. O segundo sempre abre um sorriso cordial, deixando a imagem de que o trabalho é decisivo, mas a vida também exige festa, sorriso, samba. Vanderlan tem cara de “fado”; Eduardo Campos, de “samba”. Agora, do ponto de vista estritamente técnico, está qualificado para governar Goiás. Mas o socialista precisa entender que isto não basta. O molejo de sua cintura não é suficiente. Ele precisa de mais pilates e menos continência militar. Sua imagem de sargentão não é positiva eleitoralmente.

Veja-se agora o PT dos prefeitos Paulo Garcia, de Goiânia, e Antônio Gomide, de Anápolis. O novo desta eleição está no PT.

Paulo Garcia é um gestor competente e sério. Goiânia está bem administrada, apesar de uma “propaganda” sutil — com poderosa instrumentação nas redes sociais (a história de que, repetindo, vira verdade) —, que sugere que há problemas “seriíssimos” na capital, quando não há (a questão da segurança pública não é da alçada da Prefeitura de Goiânia). Por ser moderno e respeitar a inteligência do eleitor, o jovem petista rejeita a política de fazer publicidade exacerbada de projetos com fitos eleitorais. Sua prática é diferente: só divulga o que já fez. Há muito por inaugurar, e seus aliados pedem pressa na divulgação, mas o prefeito sempre faz valer sua autoridade. Como o populismo está entranhado no brasileiro, não apenas nos políticos, desconfia-se do político que é moderno de fato, não apenas na teoria. A modernidade de Paulo, que é fato e não discurso, não agrada, muitas vezes, nem mesmo seus aliados. Mas o eleitor goiano deve observá-lo com cuidado, separando o que se divulga como “verdade” da verdade factual. Pode ser candidato a governador? Pode. Mas tudo indica que prefere ficar na Prefeitura de Goiânia, com o objetivo de concluir seus projetos. No entanto, se Iris Rezende for sagrado candidato ao governo — isto se Júnior do Friboi fracassar como pré-candidato —, o petista pode ser o seu vice, o que preservaria a aliança política vitoriosa na capital.

Há um dado curioso sobre o PT. Costuma-se dizer que os petistas são mais políticos do que gestores — caso, por exemplo, de Lula da Silva, que, como presidente, delegava a gestão para terceiros, como José Dirceu e, em seguida, para Dilma Rousseff, seus ministros. No caso de Antônio Gomide dá-se o inverso: é muito mais gestor do que político. O político da família, se se pode dizer assim, é o deputado federal Rubens Otoni, irmão do prefeito anapolino.

Anápolis era tida como uma cidade-desastre. Nenhum prefeito, nos últimos anos, conseguiu terminar bem o mandato. Todos diziam que a arrecadação municipal era insuficiente para cobrir as despesas e, por isso, havia um quadro permanentemente falimentar. Os prefeitos quase sempre deixavam folhas do funcionalismo para o sucessor pagar e o problema era repassado pelos gestores seguintes. Antônio Gomide foi eleito prefeito do município em 2008. Quatro anos depois, em 2012, foi reeleito com quase 90% dos votos válidos. Gestor eficiente, zeloso no trato das contas públicas, em pouco tempo organizou as finanças municipais, dinamizou os serviços da prefeitura e fez as obras necessárias para o desenvolvimento de Anápolis. Fez mais: contribuiu para que o cidadão anapolino recuperasse a autoestima. Sobretudo, Anápolis voltou ao debate político estadual, com a possibilidade de lançar um candidato a governador, o próprio Antônio Gomide.

Entretanto, se Antônio Go­mide é gestor e político qualificado, se é reconhecido pelos goianos — muitos ainda não o conhecem, é fato —, se é visto como o novo pelos políticos e pelos eleitores, por que não pode ser candidato a governador em 2014? Detalhe: o petista quer ser candidato e está preparado para a disputa. Nas hostes palacianas, as do governador Marconi Perillo, o “candidato” que mais se teme, exatamente por ser o novo competente e referencial — porque não basta ser novo —, é o prefeito de Anápolis.

Porém, se no caminho do poeta Carlos Drummond de Andrade havia uma pedra, no caminho de Antônio Gomide há a presidente Dilma Rousseff. Alguns projetos regionais serão sacrificados porque o objetivo principal do PT nacional é a reeleição de Dilma Rousseff. O raciocínio petista tem lógica. O governo federal concentra a maioria dos recursos do país e os governadores e prefeitos estão sempre de pires nas mãos, como se fossem agregados. Não adianta ter, digamos assim, dez governadores, mas perder o governo federal — fonte de recursos quase inesgotáveis.

No caminho de Antônio Gomide a pedra maior de fato é Dilma Rousseff. Mas há outras pedras, e não muito pequenas. Na verdade, ninguém, exceto sua tendência política, quer o prefeito de Anápolis como candidato a governador de Goiás. Enganam-se aqueles que pensam que apenas o governador Marconi Perillo, temendo a força do novo — e que o prefeito se torne o Marconi de 1998 —, torce para que Antônio Gomide não dispute o governo em 2014. O PMDB, sem explicitar isto em palavras, prefere perder com Júnior do Friboi, ou qualquer outro candidato, a ganhar com Antônio Gomide. O motivo? Como oposição ao governo de Marconi Perillo, o peemedebismo goiano é a principal força auxiliar da presidente Dilma Rousseff em Goiás, ocupando cargos federais e conseguindo distribuir recursos para “suas” prefeituras. No entanto, se Antônio Gomide for eleito governador, o PMDB, que é a oposição hegemônica, passará para o segundo lugar como força aliada da presidente Dilma Rousseff, se esta for reeleita. Se Marconi Perillo não conseguiu devastar inteiramente o PMDB, em 16 anos de hegemonia política — tanto que Iris Rezende perdeu por muito pouco na disputa de 2010 —, o PT, em quatro anos de governo, pode se tornar a força política dominante em Goiás. Fica-se com a impressão de que o PMDB prefere perder mais uma vez para Marconi Perillo do que se tornar peça auxiliar de um possível governo petista. Diga­mos que Antônio Gomide, can­di­dato a governador, seja eleito em 2014. Em 2018 certamente seria candidato à reeleição. Re­sultado: o PMDB ficaria longe do poder por 20 anos.

Ou 24 anos se o petista for reeleito. Nou­tras palavras, o PMDB se tor­naria a terceira força política do Estado — atrás do PT e do PSDB. Há setores do PT que tam­bém não se entusiasmam com a candidatura de Antônio Gomide.

Resta, por fim, a pergunta mais inconveniente: Antônio Gomide (ou Paulo Garcia) é pior candidato do que Júnior do Friboi? Não é. Então, segue-se outra pergunta, talvez impertinente: se não é “pior” do que Júnior do Fri­boi — antes, é visto como superior, em termos administrativos, políticos e, até, cognitivos —, por que tem de abrir espaço para o pré-candidato peemedebista? A se­gunda pergunta tem de ser respondida pelo PT, é claro. Mas uma coisa é certa: poucas vezes, talvez nenhuma vez, o PT teve um candidato tão competitivo em Goiás. Se desistir dele, se não bancá-lo, dificilmente voltará a ter uma chance semelhante.
Fica-se com a impressão que, dado o volume de dinheiro que pode movimentar e ao apoio maciço dos candidatos a deputado, Júnior do Friboi é o candidato dos sonhos da sociedade goiana. A se julgar pelas manifestações das ruas, pelos protestos populares, o empresário não tem o perfil exigido pela sociedade. Antônio Gomide tem mais este perfil. E mais: na falta de novidade, o que o eleitor está dizendo, segundo as pesquisas de intenção de voto? Que é melhor continuar com o governador Marconi Perillo, que demonstra ser um gestor eficiente e moderno.

O eleitor que vasculha as linhas dos jornais, não descendo aos bastidores das entrelinhas, certamente aposta que Iris Rezende é carta fora do baralho para 2014. O ex-prefeito de Goiânia e ex-governador de Goiás não está blefando quando afirma que — se conseguir viabilizar-se do ponto de vista eleitoral, chegando aos 30% entre março e abril, superando Vanderlan Cardoso e aproximando-se do governador Marconi Perillo —, o empresário Júnior do Friboi será o candidato a governador de Goiás pelo PMDB. Iris Rezende está dizendo o que realmente pensa.

Entretanto, se Júnior do Friboi for acometido de raquitismo político, mantendo-se atrás de Van­derlan Cardoso — e é provável que ele supere o ex-prefeito de Senador Canedo, dada sua imensa estrutura —, o PMDB pode aclamar Iris Rezende como candidato a governador. Na verdade, não é o que o PMDB quer. O partido, a maioria dos candidatos a deputado, prefere a candidatura de Júnior do Friboi, porque, com o empresário, passa a contar com uma estrutura satisfatória de campanha. Mas nenhum candidato a deputado é ingênuo e, se Júnior do Friboi não emplacar — o que prejudicará as candidaturas majoritárias —, o apoio a Iris Rezende será “espontâneo”. Mas hoje o candidato é mesmo o empresário.

Há outro fator que fortalece Iris Rezende. O PT rejeita Júnior do Friboi, e com uma tese prosaica mas verdadeira: por que apoiar um candidato neófito, que nunca disputou nada, se o partido tem dois bons nomes, Paulo Garcia e Antônio Gomide? Mas, se não banca o empresário, ex-sócio do grupo JBS, o PT não rejeita Iris Rezende. Mais: uma tendência do PT, a Articulação de Paulo Garcia, é francamente favorável à candidatura do ex-prefeito de Goiânia. Em suma, Iris Rezende une o PT, mas curiosamente, no momento, não une o PMDB.

Uma coisa é certa: com as oposições desarticuladas, brigando mais entre si — deixando a impressão de que fazem oposição a si mesmas e não ao governo tucano —, o governador Marconi Perillo poderá brevemente encomendar o terno para sua quarta posse, em 1º janeiro de 2015.  

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