terça-feira, 26 de março de 2024

Entenda por que cantora Ariana Grande é um fenômeno do pop

 

Ariana Grande, cantora: artista segue Madonna e mira o futuro com novo disco de inéditas - Foto: Katia Temkin

Artista lança obra versátil e revela influência de clássicos, especialmente do velho e bom rhythm and blues


Ariana Grande, 30, encabeça as paradas de sucesso mais uma vez. “Eternal Sunshine”, que acaba de sair, estreou há duas semanas no topo da Billboard, a mais importante da música norte-americana. Esse é o sexto de sete discos da cantora a conseguir tal façanha.

Pode-se dizer que Ariana compõe parte considerável da música tocada no Spotify. Sim, é dela o som grudento e o ritmo dançante pelo qual a Geração Z se apaixonou perdidamente. Perdidamente apaixonada, ou identificada, sabe-se lá, com hino de romantismo fugaz. Rock’n roll virou coisa demodê, música empoeirada, relíquia do passado. Há tempos, uma parcela dos jovens não se interessa mais por guitarras barulhentas ouvidas no carro dos pais.

Rob Sheffield, jornalista especializado em cultura pop, descreve o single “Yes, And?”, de Ariana, como “um hino da rainha da discoteca que aumenta as expectativas para seu tão esperado retorno”. O disco tem lá seus atributos: ouve-se um piano rhythm and blues, uma batida chicletona tocada na bateria e, então, Ariana dá as caras. Digo, ela dá a voz. Uma voz bonitinha, sim, mas um tanto enjoativa - se você enfrenta certa resistência ao pop atual.





A música começa falando de relacionamentos tóxicos, pra usar uma nomenclatura contemporânea: “In case you haven't noticed/ Well, everybody's tired/ And healing from somebody/ Or something we don't see just right”, ou algo como “Caso você não tenha percebido/ Bem, todo mundo está cansado/ E se curando de alguém/ Ou de algo que não estamos vendo direito”. De Shakira a Luísa Sonza, passando por Dusty Springfield ou Aretha Franklin, os desassossegos são temas utilizados em larga escala na música pop.

Com 30 anos recém-completados, familiarizada com as questões do mundo neste século 21 e dona de si, Ariana gosta da rainha Madonna. Isso fica evidente no single que antecedeu “Eternal Sunshine”. Muitos críticos consideram uma saudação inteligente à diva, que foi uma das precursoras no movimento de nos lembrar como somos controversos. Se existe na música alguém controverso, como a gente sabe, esse alguém é - sem dúvida - Madonna.

Mais ou menos com a mesma idade de Ariana, Madonna resolveu acelerar a caminhada em direção ao futuro, num trabalho que até hoje é obra-chave em sua discografia: “Like a Prayer”. Lançado em 1989, o disco a impulsionou rumo a um brilhantismo poucas vezes visto em alguém que sequer tinha completado três décadas de vida. Se a rainha tinha sofisticação e demonstrava vocação lírica, por que Ariana Grande - pupila - não a teria?


Capa do disco "Eternal Sunshine". Foto: Divulgação

É certo que Ariana viveu relacionamentos midiáticos, percorreu o mundo com turnês gigantescas e acumulou sucessos. Cansada da espetacularização criada por veículos de comunicação, optou pela reclusão - o que, convenhamos, se mostrou pra lá de eficaz. Talvez esse tempo, em que levantou um muro para preservar a intimidade, tenha sido proveitoso. E, pensando bem, foi proveitoso, porque ela tirou de dentro de si emoções complexas.

Álbum conceitual

Nos últimos anos, a jovem andou atarefada nos múltiplos trabalhos em que atuara. Foi escalada para participar do filme “Wicked”, que disse ser um sonho. Ariana tem falado que “Eternal Sunshine” é - na verdade - um álbum conceitual, em torno do qual gravitam referências cinéfilas, caso de “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças”, e canções que marcaram a música pop, tal qual fica perceptível na introdução do álbum “Intro (End Of The World”: por algum instante, somos capazes de acreditar que retornamos ao passado.




É boa escolha os acordes suingados da guitarra, seja a linha tocada no instrumento durante a abertura do álbum ou na disco “Bye”, que irá transportar o ouvinte às discotecas dos anos 70. Os instrumentos desnudam algo bem gravado. “This ain´t first time I´ve been hostage to these tears”, vocaliza a artista, libertando-se dos seus relacionamentos tóxicos. Traduzindo: Ariana confessa que “esta não é a primeira vez que sou refém dessas lágrimas”.Por isso, não fica tão difícil saber por que “Eternal Sunshine” causa frisson. Começou em primeiro lugar nas paradas, com 227 mil vendas em formato físico nos Estados Unidos. Nas plataformas, houve 195 milhões de streams e 77 mil cópias vendidas como parte de uma ação descrita como “pacote completo”, conforme o “New York Times”. Em janeiro último, “Yes, And?” alcançou o topo das paradas, anunciando o que viria no dia 8 de março, quando o trabalho de Ariana saiu - e, atente-se ao detalhe, em pleno Dia Internacional da Mulher.

Ariana Grande, artista pop. Marcus Vinícius Beck

Os adjetivos fáceis irão descrevê-lo como “cintilante” e “potente”. Ora, sabemos que é bom, com harmonias bem encaixadas e arranjos interessantes, caso de “Yes, And?”, do synth-pop “We Can´t Be Friends (Wait For Your Love)” e do R&B retrô “The Boy Is Mine”. Vale a pena apostar em bons fones de ouvido durante 47 minutos para escutar as 17 músicas de “Eternal Sunshine”. São canções espertas mas dolorosas. Difícil fazer sucesso por engano, não é?

Desde os anos 2010, só um disco lançado por Ariana não conseguiu entrar no topo da Billboard: “Dangerous Woman”, lançado em 2016, que ficou em segundo lugar. Os números de Ariana são melhores do que os de qualquer outro artista neste ano. Pode-se cravar, portanto, “Eternal Sunshine” dentre os prováveis favoritos ao Grammy do ano que vem, porque o amor - eixo sobre o qual se estrutura o álbum - ainda é capaz de bombar.

Fonte:  https://www.dm.com.br/


Nenhum comentário:

Postar um comentário