Em vão: Os rios pedem socorro
É a primeira vez na história que a nascente do São Francisco seca. O rio tem 2,7 mil quilômetros de extensão e percorre cinco estados
Os rios brasileiros estão morrendo. E não é silenciosamente. Pelo contrário. A dor de vê-los secar provoca gritos lancinantes de pelo menos cinco bacias hidrográficas do país, já sujeitas a racionamento. São Paulo e Rio de Janeiro chegaram a ensair uma guerra em torno do uso das águas do Paraíba do Sul. ...
Agora, não inesperadamente, mas como típica tragédia anunciada, chega a triste notícia de que, pela primeira vez na história, secou a principal nascente do São Francisco, o Rio da Integração Nacional, que atravessa cinco estados e contempla mais de 500 municípios brasileiros.
O susto provocado pelo sumiço de peixes, estreitamento das margens, surgimento de bancos de areia em leitos antes navegáveis, lixo de toda espécie boiando ou indo depositar-se ao fundo, matas desaparecendo transforma-se num pesadelo. A maior reserva de água doce do planeta agoniza a olhos vistos.
Não se pode negar a parcela de responsabilidade que tem a seca inclemente pelo quadro crítico ora visto. Tanto que a saída imediata depende dos céus. Contudo, às autoridades resta mais do que esperar. As providências para a conservação são conhecidas de todos, muito embora sejam tradicionalmente desdenhadas: limpeza, dragagem dos leitos, reflorestamento das margens, campanhas de conscientização e por aí afora.
Agora é preciso, bem mais do que isso, pôr mãos à obra como nunca jamais se fez, a começar por identificar a razão precisa de os rios estarem mais vulneráveis às secas. Já não é a vida dos ribeirinhos nem a dos quase 9 milhões de habitantes da região metropolitana de São Paulo, ameaçados pelo fantasma do racionamento com o esvaziamento do Sistema Cantareira, que têm de sensibilizar os governantes — na União, nos estados e municípios — a cuidar melhor de bem tão precioso.
Afinal, o problema afeta a produção de eletricidade do país, que tem na energia hidrelétrica a principal fonte, com sérios danos à economia nacional. Sem água, as usinas termelétricas, poluentes e caras, vêm sendo cada vez mais acionadas nos últimos dois anos, a custo que já se reflete na conta de luz.
Talvez Suas Excelências se deixem convencer ao verem a sociedade inteira atingida na parte mais sensível do ser humano: o bolso. Aí, quem sabe surja nova ordem na gestão dos recursos hídricos no Brasil? Instrumentos não faltam. Apesar de recentes, pois da década de 1990, estão em vigor a Lei das Águas, a Política Nacional de Recursos Hídricos e o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Urge reavaliar o potencial desse arsenal de meios legais para ressuscitar nossos rios. Por fim, teria sido mais prudente revitalizar o São Francisco antes de começar o projeto de transposição de suas águas.
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