quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Ceilândia e Samambaia lideram casos de dengue no DF

 

Flávio Sousa Nascimento, ao lado da esposa Ana Lúcia, conta a angústia, até o diagnóstico, para conseguir atendimento - (crédito: Fotos: Kayo Magalhães/CB/D.A Press)

Transmitida pelo Aedes aegypti, a dengue pode levar à morte. Dores no corpo, na cabeça, febre e náuseas são característicos das infecções e podem atrapalhar sonhos. Por todo o Distrito Federal, casos da doença se multiplicam, colocando em risco a vida de moradores que residem próximos a focos do acúmulo de água parada e lixo.


Foi o que aconteceu com Fabio Santos Reis, 30 anos, cerca de 20 dias antes de seu casamento. O quadro de febre persistente e prostração se agravou, e ele começou a apresentar vômitos. O professor de história teve de ficar internado por seis dias no hospital Santa Lúcia, e chegou a desenvolver uma inflamação na vesícula como complicação do arbovírus (doença causada por vírus propagado, principalmente, por mosquitos), transmitido pela picada da fêmea do Aedes aegypti. "Fiquei sabendo na UTI do hospital, onde fiquei, que havia pelo menos sete internados com dengue, em uma unidade com 40 leitos", lembra.


Dias antes de começar a apresentar os sintomas, Fabio, que é morador do Gama, acredita ter contraído a enfermidade em outro setor. "Estive no setor central próximo a rodoviária, e na praça dos cristais do quartel general em dias de chuva. Na praça, há alguns trilhos de água que parecem bem turvos, onde não há peixes, e pode ser que a água fique parada", observa.

Também morador do Gama, Héricle Souza Santos, 27, ainda está se recuperando da dengue, que contraiu pela segunda vez desde a infância, quando, aos 9 anos de idade, desenvolveu a forma hemorrágica da doença. Ele recebeu o diagnóstico em 17 de dezembro. "Fiz o acompanhamento na UBS (Unidade Básica de Saúde) do Guará 1, e fazia coleta de sangue a cada 48 horas para saber se estava melhorando", comenta.

Héricle diz que se juntou aos familiares para tomar uma atitude preventiva sobre a dengue. Próximo a entrada do Gama 1 há um córrego e área de mata, onde o grupo, por conta própria, removeu focos de água parada e resíduos. "Tomamos essa atitude como prevenção, porque na região moram muitos idosos", explica ele. "Já vi o carro do fumacê, mas, além dele, não vi nenhum tipo de distribuição de folhetos informativos, ou formas de chamar atenção da população para a conscientização sobre a dengue", relata.


Flávio de Souza Nascimento, 30, também contraiu a doença no fim do ano passado. O morador da Estrutural conta que teve dificuldades para conseguir o atendimento adequado. "Eu procurei a UPA duas vezes e não tive atendimento. Até que voltei lá e a médica me deu um encaminhamento para que eu fosse ao Hospital do Guará. Lá confirmaram que era dengue", conta. "Eu comecei a sentir dor no corpo, moleza, febre e dor de cabeça, mas a pior foi a dor abdominal", conclui.

Casos

Em 2023 foram notificados 52.864 casos suspeitos de dengue, no Distrito Federal, dos quais 40.934 eram prováveis, segundo o último boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Saúde (SES-DF). Os dados, captados entre 1º de janeiro e 30 de dezembro, apontam que a doença apresenta um comportamento sazonal, ocorrendo, principalmente, entre os meses de outubro a maio. Prova disso é que, na última semana do ano foram registrados cerca de 1.500 casos prováveis a mais do que em junho.

Entre as regiões administrativas, Ceilândia apresentou o maior número de casos prováveis (5.280), seguida de Samambaia (3.518), Recanto das Emas (2.566), Brazlândia (2.545) e Taguatinga (2.169), localidades que concentraram 41,7% dos casos prováveis da doença no DF. Também no ano passado, foram confirmadas 500 ocorrências da infecção com sinais de alarme — que a infecção possa estar evoluindo —, 22 casos graves e nove óbitos, decréscimo de 44,4% em relação a 2022, que registrou 13 óbitos.
Segundo André Bon, infectologista do Exame Medicina Diagnóstica, da rede Dasa, o aumento ou a redução de casos de dengue ao longo dos anos depende tanto do regime de chuvas, quando há maior volume de água e proliferação de mosquitos, quanto da quantidade de pessoas suscetíveis à doença naquela localidade. "As infecções virais são cíclicas, então, anos seguintes a uma grande epidemia tendem a ter menos casos, porque, de certa forma, a comunidade está imune a novas infecções", explicou.
Engana-se quem pensa que em altas temperaturas a proliferação do Aedes aegypti diminui. De acordo com o especialista, na chuva ou no calor, o risco de transmissão dos mosquitos é alto, devido ao clima tropical do Brasil. "O inseto não consegue se propagar em temperaturas baixas, por isso, regiões de clima temperado não têm um número elevado de casos", ressaltou.

Tratamento

O ovo do mosquito pode ficar até 400 dias no seco e, ao primeiro contato com água, pode eclodir, de forma que, em até sete dias, já se tem o mosquito adulto. "É importante o apoio da população para vistoriar, ao menos uma vez por semana, o seu quintal e retirar tudo aquilo que possa acumular água: potes, vasos de planta e brinquedos das crianças. Até mesmo uma tampinha de garrafa pode ser um local para criadouro do mosquito. Dentro de casa olhe também as pingadeiras do bebedouro e o degelo atrás da geladeira", recomendou a SES.

Vale lembrar que não existe um tratamento específico para a dengue. São apenas prescritas medicações sintomáticas para dor e para febre, além de muita hidratação, visto que, na forma grave da doença, a principal complicação é a perda de líquido. Dipirona e paracetamol são os únicos medicamentos indicados para aliviar os sintomas; os demais podem aumentar o risco de hemorragia, uma vez que contribuem para a queda no número de plaquetas, já reduzidas durante a doença. Nas formas graves, o principal manejo é a hidratação venosa com soro no hospital.

Enfrentamento

Neste contexto, a SES elaborou o Plano para Enfrentamento da Dengue e outras arboviroses para os anos de 2024 a 2027, cuja estratégia central baseia-se na leitura rápida do cenário local com tempo resposta adequado e rápido. Objetiva-se, também, maximizar a capacidade de resposta integrada dos serviços de Assistência e de Vigilância do Distrito Federal, a fim de reduzir a incidência e os óbitos por dengue e por outras arboviroses transmitidas pelo Aedes aegypti.

Em nota, a secretaria informou que a Vigilância Ambiental do DF conta com cerca de 800 profissionais que se dividem nas atividades. São 15 Núcleos de Vigilância Ambiental que atendem as Regiões Administrativas. Os profissionais são divididos em duplas para seguirem o itinerário das inspeções domiciliares por RA. São visitados todos os tipos de imóveis, incluindo os pontos estratégicos, que são os terrenos abandonados, borracharias, ferro velho, floriculturas, entre outros. As visitas ocorrem todos os dias úteis.

O uso de armadilhas, como as ovitrampas, e a aplicação do inseticida pelo UBV pesado, chamado popularmente de fumacê, são mais estratégias utilizadas pela pasta. O objetivo do fumacê é matar o mosquito já na sua fase adulta, por isso, a aplicação ocorre nos locais em que há maior incidência de casos e em que há comprovação pelas equipes da vigilância ambiental de aumento de mosquitos na fase adulta. Para a fase larvária, por exemplo, é aplicada a pastilha de larvicida.

A Subsecretaria de Vigilância à Saúde reforça que o trabalho de prevenção e combate ao Aedes aegypti necessita da participação popular. Todos os dias os agentes de vigilância ambiental estão nas ruas realizando as inspeções nos imóveis do DF, mas é necessário que a população colabore e atenda as orientações que são repassadas pelos profissionais.

Prevenção

A principal forma de se proteger do mosquito é evitar o acúmulo de água parada no entorno do domicílio. Pratos de plantas, pneus e até poças d’água que possam perdurar por mais tempo são focos de deposição de ovos e proliferação do mosquito, que podem levar à transmissão da dengue;
A utilização de repelentes nas áreas expostas do corpo — devendo ser reaplicado a cada 10 horas — mosquiteiros e janelas teladas também são opções de prevenção;
Há, ainda, a vacina, que pode ser aplicada em pessoas de 40 a 60 anos de idade.

Sintomas

Febre
Dores no corpo, nas articulações; na cabeça e atrás dos olhos;
Náuseas;
Vômitos;
Falta de apetite;
Manchas avermelhadas pelo corpo.

Atendimento

É necessário procurar a Unidade Básica de Saúde (UBS) de referência para realizar o diagnóstico. É possível encontrar a UBS mais próxima por meio do site InfoSaúde, adicionando o Código de Endereçamento Postal (CEP);

Para casos graves, recomenda-se buscar atendimento em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e Hospitais Regionais.

Fonte:   https://www.correiobraziliense.com.br/

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