CAMPANHA DE UTILIDADE PÚBLICA--INFRAESTRUTURA

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domingo, 5 de maio de 2013


Os lances políticos de Caiado, Marconi, Friboi e Vanderlan
Vanderlan Cardoso, ganhando Eduardo Campos como aliado, passa a ter palanque nacional em Goiás. Ronaldo Caiado mantém o discurso da ética. Júnior do Friboi precisa provar que tem consistência, e não apenas dinheiro. Iris Rezende está na ativa. O tucano Marconi Perillo é candidatíssimo
Dilma Rousseff, do PT, Aécio Neves, do PSDB , e Eduardo Campos, do PSB: de repente, o candidato da terceira via, o governador pernambucano, pode surpreender os nomes “oficiais”
A política, parte da vida, não para. O movimento dos atores sociais ocorre de modo permanente. Entretanto, em alguns momentos, fica-se com a impressão, e ressalte-se que se trata de mera impressão, que as coisas não andam. Na verdade, “andam” e, até, “correm”. O grande historiador inglês Eric Hobsbawm, marxista às vezes ortodoxo, sugeriu que há períodos em que a história se move mais rapidamente. É quando ocorrem as revoluções, depois substituídas pela rotina. As revoluções são a forma de os indivíduos sacudirem a poeira do comodismo e mudaram os rumos de suas vidas, de suas sociedades. Todavia, depois das grandes mudanças, a sociedade cobra rotina — que é quando, de fato, se constrói e, portanto, se dá o rompimento com o caos e reinstala-se a ordem, ou seja, se reordena a capacidade produtiva dos homens. Porém, como as revoluções sociais e políticas têm sido trocadas, em larga medida, pelas revoluções tecnológicas — que convocam os homens mais para o consumo do que para a vida pública —, produziu-se a imagem de que a sociedade moderna é algo letárgica, ensimesmada.

Informa-se muito, via computador e celulares, e discute-se a respeito de tudo, pelas redes sociais da internet, mas a participação efetiva talvez tenha diminuído. O mundo está mais próximo, e de fato mais plano, como diz o jornalista Thomas Friedman, mas a diversidade tem sido mantida. Portanto, como ressalva o filósofo inglês John Gray, o mundo não é tão plano assim. Apesar de tudo, da zona de conforto que envolve os indivíduos no mundo moderno, as contradições persistem e a vida é mais movimentada do que parece. Veja-se o caso da política nacional e da política goiana.

Em termos nacionais, no início, apostava-se que o debate de 2014 — que já começou — se daria única e exclusivamente entre a presidente Dilma Rousseff, do PT, e o senador Aécio Neves, do PSDB. Como Aécio Neves, com sua cautela mineira, demorou a se apresentar como “o” oposicionista-mor, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB, pôs-se em campo e tornou-se “uma” alternativa. A pressa do PSDB, ao forçar a indicação de Aécio Neves, tem a ver com a velha e sempre nova política de ocupação de espaço. O espaço da oposição estava “vazio”, com Dilma Rousseff nadando de braçada como o nome da situação, por isso, numa jogada de mestre, Eduardo Campos decidiu pôr seu bloco na rua, conquistando espaços generosos na imprensa nacional. Com sua imagem de governador competente, que tem contribuído para modernizar a economia de Pernambuco, e com sua estampa de galã de novela e cinema, o líder socialista, neto de Miguel Arraes, um dos primeiros coronéis de esquerda do Nordeste, tornou-se uma referência. Uma alternativa ao próprio Aécio Neves. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso parece ter sido um dos primeiros a perceber a nuance e “alertou” o PSDB e o senador mineiro.

No começo, o PT, inclusive o expert Lula da Silva, avaliava que se tratava de um blefe e que Eduardo Campos estava apenas forçando a barra com o objetivo de se tornar vice de Dilma Rousseff, tentando arrancar o “naco” de poder do PMDB. A revista “Época” entrevistou o governador e, de maneira inábil e precipitada — talvez tentando agradar a sra. do Palácio do Planalto —, tascou no título que ele não seria candidato a presidente. As palavras do socialista, examinadas não dolosamente, sugeriam outra coisa: o líder pernambucano pretende ser candidato a presidente da República. Sua candidatura, que divide parcialmente as forças aliadas do PT não apenas no Nordeste (mas há aliados de Eduardo Campos que preferem apoiar a presidente), é mais complexa do que a de Aécio Neves, porque, como se sabe, o PSDB “viciou-se” em perder para o PT. O motivo é simples: o PT tomou o discurso socialdemocrata do PSDB, que, sem argumentos alternativos, tornou-se uma costela do petismo.

Eduardo Campos, embora se diga socialista, é, no fundo, ideologicamente vago. Ele sabe, porém, que uma eleição presidencial é travada apenas parcialmente no campo ideológico. Ganha não aquele que é mais consistente em termos ideológicos, e sim aquele que se torna capaz de fazer o eleitor acreditar que seu projeto de esperança em dias melhores é mesmo verdadeiro — e não mais uma ilusão do mercado político. Mesmo com baixo crescimento econômico, e com a volta do dragão da inflação, Dilma Rousseff permanece bem avaliada em termos de popularidade pela sociedade. As razões?

Primeiro, o crescimento quase negativo não corresponde a uma sensação de crise insuportável — dada a estabilidade geral da economia. O país não vai mal — é o que todos dizem. Segundo, apesar da ocorrência de corrupção no governo — os acusados foram afastados sem a leniência do governo anterior, o de Lula da Silva —, Dilma Rousseff não foi contaminada. A sociedade pode até desconfiar do governo, mas acredita em sua retidão moral. Parece que, moralmente, a presidente é “superior” ao seu governo. Este é produto de alianças oriundas da necessidade de se ter governabilidade.

Eduardo Campos, uma “parte” do grupo que elegeu a candidata petista, se sair mesmo da aliança amputa, por assim dizer, um dos pés de apoio de Dilma Rousseff num dos Estados mais importantes do Nordeste. Uma política inteligente do PSDB seria apoiar o governador de Pernambuco, lançando seu vice. Como se sabe, política não se faz apenas com inteligência e altruísmo, mas também e sobretudo com conveniências. Os “cartolas” de São Paulo e Minas Gerais sabem que, se apoiarem Eduardo Campos e ele for eleito, o PSDB se tornará o PMDB do PSB. Sua escora no Congresso e, claro, no ministério. Por isso, devido ao realismo absoluto da política — realismo que às vezes leva à derrota —, é mais provável que, em 2014, o país tenha três candidatos consistentes a presidente: Dilma Rousseff, Aécio Neves e Eduardo Campos. Pode ser a garantia de segundo turno. Aí, possivelmente, o senador de Minas e o líder pernambucano estarão juntos contra a petista.

Se no plano nacional o quadro mudou, em Goiás não é muito diferente. No Estado parecia que quase nada acontecia e que, mais uma vez, o governador Marconi Perillo — apesar de dizer-se pouco motivado a disputar a reeleição — enfrentaria tão-somente o ex-prefeito de Goiânia Iris Rezende. Noutras palavras, mais do mesmo. De repente, como se os deuses da política tivessem acordado, ocorre uma reviravolta, ou quase.

O empresário Vanderlan Cardoso, candidato derrotado a governador em 2010, e o deputado federal Ronaldo Caiado anunciavam-se como uma terceira via ética e mudancista. No entanto, apesar do discurso em defesa da ética e da reorganização administrativa do Estado, não se apresentavam de modo muito atrativo ao eleitor. Caiado, por exemplo, parecia fadado a apoiar Aécio Neves em termos presidenciais, porque seu partido, o DEM, se tornou, ao longo do tempo, uma espécie de satélite do PSDB. Mas, quando José Batista Júnior, o Friboi, deixou o PSB, em busca de um partido mais estruturado, o PMDB, Eduardo Campos começou a dialogar com Ronaldo Caiado e Vanderlan Cardoso.

Das conversas resultou que Vanderlan vai se filiar ao PSB e isto significa uma mudança talvez qualitativa. Primeiro, Eduardo Campos, ao aceitar a filiação de Vanderlan Cardoso, praticamente exigiu que se tenha um candidato a governador em Goiás, o que lhe dará um palanque como candidato a presidente da República. Segundo, como Vanderlan Cardoso é um político cauteloso, acreditava-se que, no fundo, pretendia compor com o governador Marconi Perillo. Ele seria o seu vice ou então Ronaldo Caiado disputaria mandato de senador ao lado do tucano. A aliança com Eduardo Campos garante uma certa “independência” a Vanderlan. Talvez possa se dizer que, agora, o político goiano passa a ter um projeto. E mais: Ronaldo Caiado, que pode disputar o governo ou Senado, tende a apoiar o governador pernambucano para presidente.

O empresário Júnior do Friboi, de pouca consistência política e formação cultural precária — basta dizer que nunca leu sequer um conto, uma poesia ou um romance de escritor goiano (e talvez de nenhum de outro Estado ou país) —, pôs uma ideia na cabeça: quer ser governador de Goiás, e pelo PMDB. Iris Rezende, pressionado pela cúpula nacional — leia-se o vice-presidente da República, Michel Temer, e o presidente do partido, senador Valdir Raupp —, “aceitou” a filiação de Friboi. Mas isto não significa que o empresário, conhecido como “o homem do dinheiro” no interior de Goiás, será o candidato do partido. Iris, que quer disputar, é um político que tem história, experiência e capacidade administrativa. Friboi, mesmo na sua empresa, sempre fez a “segunda voz” — nunca decidiu sobre os negócios. Falta-lhe consistência política e gerencial. Por que, então, alguns peemedebistas o querem candidato? Porque tem dinheiro para bancar candidatos a deputado estadual e a deputado federal. Nas entrevistas, o eleitor-leitor só com muita sorte pode capturar alguma ideia — ainda assim, de segunda — do dito empresário. Friboi tem um projeto de desenvolvimento alternativo para Goiás? Não tem, e nem parece preocupado com isso. Na campanha, mesmo que não o entenda, poderá encomendar um a especialistas.

O PMDB está numa encruzilhada: está trocando sua história e um político consistente, Iris Rezende, por um homem sem história e sem consistência política e administrativa, Friboi. Noutras palavras, está sugerindo que Iris é um fenômeno do passado, ainda que lidere as pesquisas atuais, e que Friboi, por ter muito dinheiro, é um fenômeno do presente. Trata-se de um pragmatismo que, no fundo, beira ao pueril. Numa campanha, políticos experimentados como Ronaldo Caiado e Marconi Perillo tendem a “triturar” Friboi.

O PT está fora do jogo? Não. Mas o PT de Goiás, como não tem força política nacional, submete-se aos ditames da realpolitik do PT de Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff. Por isso, tende a apoiar o candidato do PMDB a governador. De qualquer maneira, se a aliança peemedebista-petista quiser mesmo inovar — e apostar no novo de fato —, em termos de experiência administrativa no setor público e de consistência política, não deve bancar Júnior do Friboi, e sim o prefeito de Goiânia, Paulo Garcia, ou o prefeito de Anápolis, Antônio Gomide, ambos do PT. Gomide, por sinal, parece “pronto” para disputar o governo — se as forças políticas quiserem mesmo apostar no novo e naquele que é visto como bem-sucedido administrativamente e não tem desgaste considerável e comprometedor. Nas hostes palacianas costuma-se dizer que Gomide é o adversário mais difícil de ser batido. Primeiro, porque praticamente “tira” Anápolis de Marconi — este sempre teve boas votações no município — e, segundo, terá forte apoio na Grande Goiânia, com dois cabos eleitorais de primeira, Paulo Garcia e Iris Rezende, na capital, e outro cabo eleitoral consistente em Aparecida de Goiânia, o prefeito Maguito Vilela.

Quanto a Marconi Perillo, anote: vai disputar o governo. Não há, nos quadros políticos de sua base, nenhum político com sua experiência eleitoral e, mesmo, administrativa. Ele será candidato, nem que seja por W. O. de seus aliados. Sobretudo, na falta de outro nome sólido e experimentado, sua base eleitoral vai pressioná-lo para que dispute a reeleição. É a falta de uma alternativa real que praticamente obrigará o tucano-chefe a disputar. Mas também sua vontade política — a vocação do governador é voltada exclusivamente para o Executivo, pois tem pouco interesse pelo Legislativo.   
FONTE:JORNAL OPÇÃO

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