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quarta-feira, 29 de maio de 2013

Isolamento político

De Suplicy para Lula


Em uma carta encaminhada ao ex-presidente, o senador reclama do isolamento político e mostra as contradições enfrentadas pelo PT quando o assunto é ética


O senador Eduardo Suplicy, do PT (foto) de São Paulo, é um político excêntrico. Ele já botou chapéu de Robin Hood, já vestiu uma cueca vermelha e destilou pelos corredores do Congresso e, vez por outra, canta no plenário para chamar atenção sobre algum assunto. O0 parlamentar também já esteve na linha de frente de causas importantes. Contrariando a orientação do seu partido, ele apoiou a CPI que desmascarou a quadrilha do mensalão. Mais recentemente, esteve ao lado da blogueira cubana Yoani Sánchez, quando os petistas a hostilizavam país afora. Na semana passada. Suplicy subiu ao palco durante um show em São Paulo e implorou a ladrões que devolvessem sua carteira, furtada minutos antes. Ele nem queria de volta o dinheiro que havia nela, cerca de 400 reais. Bastava que devolvessem os cartões e os documentos. Foi ovacionado pela multidão. Esse comportamento autêntico garante ao senador uma imensa legião de admiradores — e uns poucos, mas poderosos, desafetos. Há mais de vinte anos, esses admiradores renovam o mandato de Suplicy a cada eleição. Os desafetos, pela primeira vez, apostam que esse ciclo acabou. ...

 Nos planos da cúpula do PT, Suplicy foi escolhido para o sacrifício eleitoral. Para viabilizarem uma coligação ampla que permita ao partido disputar o governo de São Paulo em 2014, os petistas planejam entregar a vaga do senador a outra agremiação. Pode ser ao PMDB, ao PSD ou até mesmo ao PR do mensaleiro Valdemar Costa Neto. Feito isso, a menos que mude de partido, Suplicy não poderia disputar sua recondução ao Senado. A estratégia petista prevê, no máximo, a possibilidade de ele concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados. "Ele seria o nosso Tiririca", conta uma liderança petista, Suplicy identificou a origem do plano e, durante os últimos meses, tentou uma audiência com o ex-presidente Lula para tratar do assunto. Ligou para a secretária, pediu a ajuda de companheiros, enviou recados. Nada. No último dia 6, sem receber nenhuma resposta, o senador foi ao Instituto Lula e entregou uma carta ao ex-presidente. Uma carta cheia de ponderações e desabafos — uma sutil lição de moral.

 Desde que chegou ao poder, em 2003, o PT abandonou o que se imaginava ser o mais sólido pilar de sustentação do partido: o compromisso com a ética. Na cana a Lula, Suplicy recorda esse propósito: "Sempre teríamos na transparência de nossos atos e na ética na s ida política os valores fundamentais do PT". E depois alfineta: "Foi o que muitas vezes ouvi de você". O senador, com elegância, mas sem esconder a mágoa de saber que o seu futuro político está sendo definido pelos companheiros à sua revelia, disparou: "Há apenas uma hipótese de eu abrir mão de disputar o Senado em 2014: caso você tLitUit queira disputar". Ninguém cogita a hipótese de o ex-presidente se candidatar ao Parlamento. Ainda assim, o senador escreveu: "Li com atenção uma entrevista sua em que lembrava de como Darcy Ribeiro costuma dizer que entrar no Senado era como entrar no céu (...) Acredito que considere algo positivo tornar-se senador". Ironia pura.

 A carta teve algum efeito prático. Depois de tentar uma audiência por mais de quatro meses, Suplicy foi recebido pelo ex-presidente. Quebrando o protocolo, o encontro não foi documentado pelo fotógrafo oficial de Lula. Ficou por conta do próprio senador registrar a reunião em seu celular. Na cena, aparece um Suplicy sorridente ao lado de um Lula aparentemente constrangido. De acordo com o senador, a imagem não reflete o clima do encontro. Lula teria sido simpático e categórico: "Eduardo, não existe hipótese de o PT impedir que você seja o candidato". Na política, o que se fala muitas vezes não se escreve. Mas para o senador está tudo resolvido. Ele conseguiu a garantia da maior liderança petista de que o partido não vai mais lhe bater a carteira nas eleições. Os ladrões também devolveram os documentos e os cartões.


Por Hugo Marques
Fonte: Revista Veja 

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