O Jornal Opção perguntou a três pesquisadores e a um marqueteiro a razão da longevidade política do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). Os quatro disseram que, por ser tão debatida e conhecida, a política não tem segredos. Mas admitem que aqueles políticos que são atentos aos detalhes e não se acomodam, mantendo um olho aberto mesmo quando aparentemente dormem, se tornam vencedores.
Marconi, de 1998 para cá, não perdeu nenhuma eleição majoritária — e não enfrentou nenhum Olaria ou Vila Nova. Pelo contrário, só enfrentou pesos pesados, como Santos, Flamengo, Cruzeiro e Corinthians, quer dizer, políticos barra-pesada como Iris Rezende e Maguito Vilela, ambos do PMDB. Não foram vitórias fáceis. Todas foram apertadas. Mas, como se sabe, o que importa é vencer — não é relevante se o placar foi de 1 a 0 ou de 5 a 0.
Mas por que Marconi derrota os pesos-pesados do PMDB há 16 anos — sem nenhuma derrota? Qual é sua mágica? Não há nenhuma “mesmerismo”, dizem os entrevistados. O segredo principal de Marconi é que não dorme no ponto. A política é sua principal atividade — não é lazer. Ele é um político vocacionado, profissional, na acepção do sociólogo alemão Max Weber.
Marconi trabalha com “inteligência” política — há muito desistiu daquilo que, na falta de melhores palavras, chamam de “intuição” e “feeling”. O tucano-chefe se tornou um “investigador” rigoroso da atividade política, até de suas filigranas. Pesquisa intensamente a política e a sociedade. Aprecia saber o que a sociedade pensa e como pensa. Por isso busca interferir na realidade tão-somente depois de ter informações mais precisas sobre o terreno em que está “pisando”, em que está se movendo.
Além disso, frisaram os pesquisadores, Marconi tem uma disposição para o trabalho que impressiona. Alguns políticos jogam cartas, pescam e vão ao estádio. Marconi faz política — é sua segunda pele. Quando vai ao estádio, diverte-se, é fato, mas lá, como em quaisquer outros lugares, faz política, observa detalhes do local e conversa com as pessoas. É tremendamente perceptivo.
Há outra questão que diferencia Marconi de alguns políticos. Ele é focado. Mira numa questão e procura resolvê-la — sem dispersão. Não foge dos problemas reais. Outra característica, uma virtude, é a capacidade reunir equipes competentes e, sobretudo, saber liderá-las. Os pesquisadores sugerem que tem “autoridade”. À sociedade cada vez mais está se apresentando, e sendo aceito, como gestor — e menos como político. Pode-se dizer que Marconi usou a gestão para despolitizá-lo e, com isso, acabou por politizá-lo ainda mais. Noutras palavras, conferindo o que pensa a sociedade, Marconi concentrou-se na gestão e, com isto, obteve (mais) sucesso político.
Do ponto de vista estritamente político, Marconi articula com habilidade, agregando grupos políticos e indivíduos isolados — tendo a percepção exata do valor dos partidos e dos líderes. Ele valoriza como pouco as alianças políticas. Os políticos que estão próximos dele até reclamam de auxiliares, mas, quando tem acesso direto ao governador, geralmente conseguem discutir e resolver seus problemas.
Quanto ao seu marketing, tanto de governo quanto do político, cerca-se do que há de mais moderno. Detesta amadorismo e nunca é enganado pelos palpiteiros de plantão.
Outra de suas virtudes é capacidade de decidir com rapidez e eficiência. Para fazer uma obra não prescinde de um planejamento de qualidade. As oposições não têm percebido com inteligência e clareza como Marconi é um político que tem usado, de maneira ampla e irrestrita, a razão para se manter no poder. As oposições contentam-se com explicações parciais e falhas — como sugerir que investe muito em publicidade (a presidente Dilma Rousseff investe muito também e está caindo nas pesquisas).
Atenção às coisas da modernidade — é dos poucos políticos que usam com desenvoltura, e sem precisar necessariamente de auxiliares, as redes sociais — é outra das virtudes do tucano-chefe.
Em suma, aqueles que quiserem combater Marconi com eficiência precisa entendê-lo sem parti pris ideológico. A crítica perceptiva, entendendo-o na sua integralidade, é a única que pode combatê-lo de verdade. Nos últimos anos, as oposições têm combatido mais uma espécie de caricatura, que elas próprias criaram, e muito pouco o político real de carne e ossos. Como têm sido lentas na formulação, quando tentam “capturar” Marconi, o governador, como as águas de Heráclito, o pai da dialética, está noutra fase. Portanto, a capacidade do tucano de reformular-se, de não ficar paralisado e de usar a ciência em defesa de seu projeto político têm sido bastante úteis. Pode-se dizer que, enquanto Marconi está na fase da informática de ponta, seus opositores estão na idade da pedra polida. Hoje, o político que mais se aproxima do tucano, em termos de modernidade, é o petista Antônio Gomide. Os demais estão muito atrás do tucano-chefe e, por isso, se tornaram fregueses contumazes. Ao contratar Duda Mendonça, Friboi quer capturar o Marconi Perillo real para criticá-lo de modo apropriado e eficaz. Porém, até agora, Friboi tem passado ao largo — assim como Vanderlan, Iris Rezende e, até, Gomide, este, ressalve-se, o mais atento.
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