Situação de Dilma Rousseff e de Marconi Perillo é parecida: têm de apresentar resultados em 2014
Os eleitores estão de olho menos nos discursos e mais nas realizações da presidente petista e do governador tucano. As oposições só terão sucesso se os gestores federal e estadual fracassarem do ponto de vista administrativo
Há mais similitudes do que diferenças entre a presidente da República, Dilma Rousseff, do PT, e o governador de Goiás, Marconi Perillo, do PSDB. São candidatos à reeleição, estão em franca campanha e suas táticas são idênticas.
Comecemos por falar dos indivíduos-políticos Dilma e Marconi. Não há dúvida de que são gestores, têm autoridade e, apesar de opositores, são socialdemocratas. São preocupados com o social e, aos poucos, planejam programas para tornar independentes, por intermédio da qualificação profissional e do mercado, os beneficiários do Bolsa Família e do Renda Cidadã. Trata-se de uma política mais humanista e integradora do que uma decisão liberal.
A presidente Dilma começou com uma popularidade extremamente alta — decorrente, em larga medida, da ampliação dos programas sociais e, ao mesmo tempo, de seu posicionamento moralizante. Quando se descobre corrupção no governo, a petista não titubeia: demite os denunciados. Fica-se com a impressão, porém, que o esquema continua, pois, se a corrupção é sistêmica, quando se retira um corrupto, mas aqueles que o indicaram são responsáveis pela nova indicação, no fundo não muda muita coisa. Acusa-se a presidente de, ao demitir, não apurar o que havia acontecido. É certo que poderia ampliar a investigação, “limpando” o ministério e remontando a estrutura, mas, ao afastar os corruptos, abre as portas para o Ministério Público Federal investigar e fazer uma denúncia mais aprofundada, que, se obtiver resultados, pode resultar em devolução de dinheiro ao Erário e penalização pela Justiça dos agentes públicos e/ou privados venais.
Durante algum tempo, especialmente quando na oposição, o PT havia operado a tese de que era o “partido da ética”, tornando-se um referencial moral para a sociedade. Depois do mensalão, ao se tornar uma legenda como outra qualquer — esta interpretação precisa ser relativizada, porque, ao lado do PSDB e do PSB, o PT é o que ainda se tem de melhor ou menos pior no espectro político patropi —, o PT agarrou-se à tese de que se tornou o “partido do social”. Com a presidente Dilma, operou-se outra via — o PT começou a fazer, mais uma vez, a junção entre o social e o ético. Há (ou houve) corrupção no governo Dilma? Certamente, sim. Mas ninguém pôde provar qualquer corrupção da petista — que é decente e determinada.
Entretanto, se há o Bolsa Família e se há a posição ética como regra — apesar, insistamos, dos percalços —, o governo Dilma começa, se não a fazer água, como dizem os opositores, a enfrentar problemas sérios. Um deles, o que pode levar a um ciclo de amplo retrocesso, é o baixo crescimento da economia. Baixo, vírgula. O país, na verdade, não está crescendo. A expansão de 0,6% no trimestre — sinalizando para um crescimento de 1% a 2,5% em 2013 — significa, na prática, que o Brasil está, aos poucos, “parando”. Se se tratar de um ciclo de baixo ou nenhum crescimento — portanto, 2014 sofrerá “contaminação” —, Dilma terá sérios problemas daqui para frente, como o desemprego, que se avizinha. A inflação está batendo à porta, como se estivesse dizendo: “Estou de volta e para ficar”. Recessão combinada com inflação é um fenômeno explosivo e, às vezes, letal para candidatos que estão no poder.
A popularidade de Dilma ainda é alta, decorrente de expectativa passada, mas, sobre o presente e o futuro, tende a cair. Para quem parte para uma reeleição, depois de um ciclo de bonança — em que todas as classes, dos ricos aos pobres, se tornaram menos classes e cada vez mais consumidores (o capitalismo dinamitou as classes sociais ao abrir oportunidade de consumo mais amplo) —, a situação da presidente não é nada confortável. Talvez seja possível sugerir que o aspecto ético — num tempo em que equivocadamente se pensa que todos os males são gerados pelos políticos, como se estivéssemos abolindo a responsabilidade global dos indivíduos-sujeitos da história — está “segurando” a popularidade da petista-chefe, aliado ao programa Bolsa Família e outros.
O que fazer? O que se espera de Dilma? O mesmo que se espera de Marconi. Que o gestor, acima do político, aquele que vai disputar mais uma eleição, apareça — ou reapareça — e faça as obras necessárias para o país crescer e desenvolver-se. Obras de infraestrutura são vistas como “obreirismo”, como forma de se pôr dinheiro nas mãos dos empreiteiros. Trata-se de uma visão redutora dos movimentos da economia. Na década de 1930, nos Estados Unidos, o presidente Franklin D. Roosevelt percebeu que, quanto mais recursos o governo colocava no mercado, financiando a reconstrução da infraestrutura, mais desenvolvia a economia como um todo. Se o Estado investe, ampliando as oportunidades, as empresas, que às vezes se resguardam para não sacrificar capital e não falir, voltam a aplicar nos negócios tradicionais ou abrem novos negócios. Então o que se espera de Dilma daqui pra frente é que faça as obras, que aplique bem o dinheiro público. Porque as obras, ao movimentar a economia globalmente, geram crescimento, aquilo que é repartido em geral entre os empresários e altos executivos (uma nova classe?), e desenvolvimento, aquilo que é compartilhado pelos cidadãos, pela sociedade.
O governo de Dilma está ficando conhecido como aquele que começa mas não termina as obras. Claro que há obras que, dadas à sua dimensão ou à burocracia — às vezes alguns burocratas criam dificuldades para obter facilidades para si —, não são mesmo termináveis em quatro anos. No geral, porém, o que há é falta de capacidade de execução, de gerenciamento mais preciso, e mais presença da presidente.
Como o Bolsa Família já se tornou uma conquista e a questão ética é uma obrigação — noutras palavras, já estão assimiladas pela sociedade —, os eleitores devem avaliar, em 2014, a capacidade de gerir de Dilma (seus principais opositores, o senador Aécio Neves, tucano de Minas Gerais, e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB, têm fama de gestores eficientes. Marina Silva, embora não tenha experiência como gestora, é admirada pela sociedade brasileira, especialmente por suas posições em defesa do meio ambiente. Ela é uma espécie de Lula sem o PT). Por isso a presidente precisa apressar-se e terminar e inaugurar as obras essenciais para o crescimento e para o desenvolvimento do país. Todos sabem que se trata de uma técnica capaz — e que, como política, depende do ex-presidente Lula da Silva para as articulações —, mas querem verificar os resultados. Karl Marx vale para este caso: basta de teorias — é hora de transformar o Brasil.
Comecemos por falar dos indivíduos-políticos Dilma e Marconi. Não há dúvida de que são gestores, têm autoridade e, apesar de opositores, são socialdemocratas. São preocupados com o social e, aos poucos, planejam programas para tornar independentes, por intermédio da qualificação profissional e do mercado, os beneficiários do Bolsa Família e do Renda Cidadã. Trata-se de uma política mais humanista e integradora do que uma decisão liberal.
A presidente Dilma começou com uma popularidade extremamente alta — decorrente, em larga medida, da ampliação dos programas sociais e, ao mesmo tempo, de seu posicionamento moralizante. Quando se descobre corrupção no governo, a petista não titubeia: demite os denunciados. Fica-se com a impressão, porém, que o esquema continua, pois, se a corrupção é sistêmica, quando se retira um corrupto, mas aqueles que o indicaram são responsáveis pela nova indicação, no fundo não muda muita coisa. Acusa-se a presidente de, ao demitir, não apurar o que havia acontecido. É certo que poderia ampliar a investigação, “limpando” o ministério e remontando a estrutura, mas, ao afastar os corruptos, abre as portas para o Ministério Público Federal investigar e fazer uma denúncia mais aprofundada, que, se obtiver resultados, pode resultar em devolução de dinheiro ao Erário e penalização pela Justiça dos agentes públicos e/ou privados venais.
Durante algum tempo, especialmente quando na oposição, o PT havia operado a tese de que era o “partido da ética”, tornando-se um referencial moral para a sociedade. Depois do mensalão, ao se tornar uma legenda como outra qualquer — esta interpretação precisa ser relativizada, porque, ao lado do PSDB e do PSB, o PT é o que ainda se tem de melhor ou menos pior no espectro político patropi —, o PT agarrou-se à tese de que se tornou o “partido do social”. Com a presidente Dilma, operou-se outra via — o PT começou a fazer, mais uma vez, a junção entre o social e o ético. Há (ou houve) corrupção no governo Dilma? Certamente, sim. Mas ninguém pôde provar qualquer corrupção da petista — que é decente e determinada.
Entretanto, se há o Bolsa Família e se há a posição ética como regra — apesar, insistamos, dos percalços —, o governo Dilma começa, se não a fazer água, como dizem os opositores, a enfrentar problemas sérios. Um deles, o que pode levar a um ciclo de amplo retrocesso, é o baixo crescimento da economia. Baixo, vírgula. O país, na verdade, não está crescendo. A expansão de 0,6% no trimestre — sinalizando para um crescimento de 1% a 2,5% em 2013 — significa, na prática, que o Brasil está, aos poucos, “parando”. Se se tratar de um ciclo de baixo ou nenhum crescimento — portanto, 2014 sofrerá “contaminação” —, Dilma terá sérios problemas daqui para frente, como o desemprego, que se avizinha. A inflação está batendo à porta, como se estivesse dizendo: “Estou de volta e para ficar”. Recessão combinada com inflação é um fenômeno explosivo e, às vezes, letal para candidatos que estão no poder.
A popularidade de Dilma ainda é alta, decorrente de expectativa passada, mas, sobre o presente e o futuro, tende a cair. Para quem parte para uma reeleição, depois de um ciclo de bonança — em que todas as classes, dos ricos aos pobres, se tornaram menos classes e cada vez mais consumidores (o capitalismo dinamitou as classes sociais ao abrir oportunidade de consumo mais amplo) —, a situação da presidente não é nada confortável. Talvez seja possível sugerir que o aspecto ético — num tempo em que equivocadamente se pensa que todos os males são gerados pelos políticos, como se estivéssemos abolindo a responsabilidade global dos indivíduos-sujeitos da história — está “segurando” a popularidade da petista-chefe, aliado ao programa Bolsa Família e outros.
O que fazer? O que se espera de Dilma? O mesmo que se espera de Marconi. Que o gestor, acima do político, aquele que vai disputar mais uma eleição, apareça — ou reapareça — e faça as obras necessárias para o país crescer e desenvolver-se. Obras de infraestrutura são vistas como “obreirismo”, como forma de se pôr dinheiro nas mãos dos empreiteiros. Trata-se de uma visão redutora dos movimentos da economia. Na década de 1930, nos Estados Unidos, o presidente Franklin D. Roosevelt percebeu que, quanto mais recursos o governo colocava no mercado, financiando a reconstrução da infraestrutura, mais desenvolvia a economia como um todo. Se o Estado investe, ampliando as oportunidades, as empresas, que às vezes se resguardam para não sacrificar capital e não falir, voltam a aplicar nos negócios tradicionais ou abrem novos negócios. Então o que se espera de Dilma daqui pra frente é que faça as obras, que aplique bem o dinheiro público. Porque as obras, ao movimentar a economia globalmente, geram crescimento, aquilo que é repartido em geral entre os empresários e altos executivos (uma nova classe?), e desenvolvimento, aquilo que é compartilhado pelos cidadãos, pela sociedade.
O governo de Dilma está ficando conhecido como aquele que começa mas não termina as obras. Claro que há obras que, dadas à sua dimensão ou à burocracia — às vezes alguns burocratas criam dificuldades para obter facilidades para si —, não são mesmo termináveis em quatro anos. No geral, porém, o que há é falta de capacidade de execução, de gerenciamento mais preciso, e mais presença da presidente.
Como o Bolsa Família já se tornou uma conquista e a questão ética é uma obrigação — noutras palavras, já estão assimiladas pela sociedade —, os eleitores devem avaliar, em 2014, a capacidade de gerir de Dilma (seus principais opositores, o senador Aécio Neves, tucano de Minas Gerais, e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB, têm fama de gestores eficientes. Marina Silva, embora não tenha experiência como gestora, é admirada pela sociedade brasileira, especialmente por suas posições em defesa do meio ambiente. Ela é uma espécie de Lula sem o PT). Por isso a presidente precisa apressar-se e terminar e inaugurar as obras essenciais para o crescimento e para o desenvolvimento do país. Todos sabem que se trata de uma técnica capaz — e que, como política, depende do ex-presidente Lula da Silva para as articulações —, mas querem verificar os resultados. Karl Marx vale para este caso: basta de teorias — é hora de transformar o Brasil.
Com o goiano Marconi não é diferente. O que pode reelegê-lo é menos o discurso para o futuro, a “venda” de esperança — que, agora, cabe de modo mais adequado na “boca” da oposição —, e muito mais o que construir e puder mostrar à sociedade.
Pesquisas qualitativas indicam que os eleitores não estão avaliando Marconi exclusivamente — como às vezes parece pensar a oposição — pelo escândalo do Caso Carlos Cachoeira, até porque, se existem dúvidas, o arquivamento da CPI do Cachoeira sinaliza que nada foi provado, concretamente, contra o governador goiano. PMDB, PT e PSDB, uns menos e outros mais, contribuíram para arquivá-la. Por quê? Porque, sobretudo PMDB e PT, perceberam que o principal alvo, Marconi, seria, ao final, o menos atingido. Porque o envolvimento da Delta com vários assuntos pouco católicos — Carlos Cachoeira acabaria se tornando uma gota d’água no oceano pantanoso das empreiteiras patropis — contaminava mais “celebridades” peemedebistas e, até, petistas do que tucanas. A Delta, antes do PT, figurava numa posição vexatória no mercado — não estava sequer entre as 100 maiores empreiteiras. No governo petista, que azeitou-a com mais de 4 bilhões de reais — e o governo peemedebista de Sérgio Cabral, no Rio de Janeiro, pagou-lhe mais de 1,5 bilhão de reais —, a Delta conquistou um lugar entre as dez maiores empreiteiras do país. Um fenômeno empresarial, mas também político. José Dirceu — e não há registro de que tenha se envolvido com corrupção — atuou como consultor da Delta. Uma espécie de abre-portas.
As pesquisas indicam que os eleitores estão observando não os discursos de Marconi, mas o que está de fato fazendo. O governador, perspicaz e examinador contumaz de pesquisas, sabe o que os eleitores estão pensando e dizendo. Como, em 2014, terá concluído seu terceiro governo, os eleitores vão avaliar o que fez e, se o que fez entre 2011 e 2014, serve de cabedal para sufragá-lo mais uma vez. Se concluiu as obras, se elas são de qualidade e de ampla utilidade pública. É isto que os eleitores vão avaliar. Quando a oposição criticá-lo, os eleitores terão como avaliá-lo, positiva ou negativamente.
O governador Marconi está recuperando e ampliando a malha rodoviária de Goiás — e, mais, está fazendo obras de qualidade reconhecida pelos empresários e por aqueles que apenas viajam sem fins comerciais — e faz obras em outros campos. Em Goiânia, garante que, antes do término do governo, terá concluído o Hospital de Urgências da Região Noroeste e o Hospital da Mulher. Além de viadutos na capital, pretende construir centro de recuperação para dependentes químicos na Grande Goiânia (e noutros municípios do interior). Os credeqs, se funcionarem bem, podem ser a obra consagradora e redentora de Marconi, mais até do que as obras puramente físicas. O Centro de Reabilitação Henrique Santillo (Crer), em Goiânia, começa a se tornar uma referência nacional, com governadores de outros Estados, depois de passarem pelo Sarah Kubitschek em Brasília, visitando-o em busca do projeto tanto físico quanto a respeito de como funciona e se financia.
Há uma diferença crucial entre o Brasil, representado pela presidente Dilma, e Goiás, governado por Marconi. O Brasil não está crescendo. Goiás, pelo contrário, tem um crescimento próximo do chinês. Como sabem os economistas, os Estados, como os países, não crescem no piloto automático. Por isso, os incentivos fiscais dados aos empreendedores de várias áreas — das indústrias automobilística, dos medicamentos e do leite (a desoneração da carga tributária possibilitou a expansão das empresas locais; antes, Goiás vendia leite in natura e, agora, vende produtos industrializados, agregando valor), para citar três exemplos fortemente alavancados pelo governo — foram e são decisivos para Goiás crescer acima de 6% (e até mais) ao ano.
A intervenção do Estado não tem sido negativa. Mas claro que sem a vontade dos empreendedores, que correram riscos, o Estado também não cresceria.
Em suma, o sucesso eleitoral de Dilma e Marconi vai depender mais do que terão feito, até outubro de 2014, do que de belos e maquiados discursos. Um possível sucesso das oposições resultará mais do fracasso de quem está no governo do que de discurso mudancista. Porque os eleitores não acreditam muito em palavras. Preferem exemplos. Dilma, Marina Silva, Eduardo Campos, Aécio Neves, Marconi, Iris Rezende, Júnior do Friboi, Vanderlan Cardoso, Ronaldo Caiado, Paulo Garcia e Antônio Gomide — pré-candidatos — devem ficar de olho naquilo que efetivamente pensam os eleitores, que estão cada vez mais realistas, pragmáticos e independentes.
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