CAMPANHA FÉRIAS DEZEMBRO 2024

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domingo, 2 de novembro de 2014

As doenças dos mosquitos

DIÁRIO DA MANHÃ
DIVANIA RODRIGUES


Foto: Arquivo DM
Foto: Arquivo DM

Quem nunca teve dengue? Quem está com medo de ter febre chikungunya ou assombrado com a possibilidade de contrair malária em plena Capital goiana? Dengue, febre chikungunya, malária, febre amarela, elefantíase, leishmaniose, o que esses nomes têm em comum além de serem doenças? São males transmitidos por meio da picada de mosquitos. Eles são quase imperceptíveis, apesar do zunido que produzem, mas podem e ainda levam muitas pessoas à morte ao redor do mundo.
As enfermidades que mais estão em visibilidade no momento são as três primeiras da lista porque têm causado surtos e epidemias mundo afora. Este ano a Organização Mundial de Saúde (OMS) promoveu como campanha do Dia Mundial da Saúde com o tema "Pequena mordida, grande ameaça". A organização destaca que as doenças transmitidas por vetores colocam em risco metade da população mundial, afetam por ano cerca de um bilhão de pessoas, e que destas, cerca de um milhão morrem principalmente em países subdesenvolvidos ou áreas pobres de regiões tropicais.
Doenças vetoriais são aquelas que não são transmitidas diretamente no contato entre as pessoas ou pelo ar, água, objetos contaminados e hereditariamente. Elas necessitam dos vetores que são seres intermediários que carregam vírus, parasitas ou bactérias que posteriormente contaminam os seres humanos. Os vetores, além dos mosquitos, podem ser besouros, moscas, carrapatos, caramujos – cada qual sendo hospedeiro de determinado agente patógeno.
O Relatório Mundial da Malária 2013 mostra que a doença causou a morte de 627 mil pessoas de um total de 207 milhões de casos no ano anterior. No documento há o alerta de que pelo menos 3,4 bilhões estão em risco de serem infectados no Sudeste da Ásia e na África. Na Grécia recentemente houve a reintrodução da doença, após 40 anos.
A dengue se espalhou pelo mundo e hoje, conforme a OMS, 40% da população mundial, cerca de 2,5 bilhões de pessoas, pode ser afetada pela doença. Ela pode ser encontrada em mais de cem países espalhados pelo globo, com o montante de 100 milhões de casos por ano. Outra doença que tem causado alarde é a febre chikungunya, identificada entre 1952 e 1953 na Tanzânia, que se tornou epidêmica nos países em que foi introduzida. 
No Brasil, a malária é tipicamente uma doença da região Amazônica, que registra cerca de 98% dos casos –  300 mil por ano. Já a dengue está espalhada pelo Brasil inteiro e após alguns anos de queda no número de doentes, houve uma elevação nessa quantidade recentemente. Somente em 2013, o Ministério da Saúde registrou 1,4 milhão de casos prováveis de dengue, sendo que em 10 anos, entre 2000 e 2010, foram 8,44 milhões. A febre chikungunya também já foi introduzida em pelo menos três Estados brasileiros, mas no Amapá, conforme a Agência Brasil, o número de notificações chegou a mais de 600. A cidade de Oiapoque, localizada a 590 quilômetros da capital Macapá, havia confirmado 366 casos da doença.
Goiás
Nas últimas duas semanas um assunto em alta no Estado foram os casos de malária, que tiveram como local provável de infecção o Parque Flamboyant, no Jardim Goiás, Região Sudeste de Goiânia. No Estado, são 41 casos em Goiás, sendo oito de outros países, 10 de outros Estados, sete de Goiânia e 16 de origem não identificada, de acordo com informações da assessoria da Secretaria Estadual de Saúde em 29 de outubro (SES).
O último boletim sobre a situação da dengue no Estado, do dia 18 passado, relata 107.180 notificações e 67 óbitos. Já os casos de chikungunya são apenas dois os confirmados em Goiânia.
Na Capital, dois casos de febre chikungunya importados foram confirmados. De acordo com Flúvia Amorim, as pessoas com a doença haviam sido contaminadas, uma na Guiana Francesa e outra na Caribe. O número de notificações de dengue, divulgado no último dia 28, registradas pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) é de 24.566, com 18 óbitos. Casos de malária, de acordo com o boletim divulgado no último dia 29, de 10 notificados, dois foram descartados. Sete foram confirmados, sendo um que foi importado e seis são autóctones (infectados na própria cidade). O informe da SMS também indica mais um caso sob investigação. 
Vítima
Mayara Malagoni de Almeida, 22 anos, passou neste mês, juntamente com toda a família, um dos períodos mais difíceis de sua vida. Estava doente e os médicos não conseguiam descobrir qual era o mal que a acometia. Cogitaram várias doenças, como câncer, leucemia, lupus, pneumonia, e chegou mesmo a fazer tratamento contra dengue. "Fiz exame para várias doenças", comenta a jovem que passou 20 dias internada, sendo dois na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Por fim, em um exame da medula, o laboratório conseguiu o diagnóstico: malária. Três dias depois do início do tratamento e com quatro quilos a menos (de 42 passou a pesar 38 quilos), Mayara voltou para casa no Crimeia Oeste, região Norte de Goiânia. Ela mora longe do local de contaminação, mas explica que frequentava quase diariamente o Parque Flamboyant no final da tarde e início da noite, onde costumava ficar à beira do lago estendida em um lençol.
A doença começou com sintomas parecidos com os da dengue. Febre muito alta, vômitos, só não existia, conforme Mayara, as dores pelo corpo. "Quando havia a febre muito alta, sentia calafrios e chegava a bater queixo", conta ainda debilitada e com dificuldades para falar. 
"Estou bem fraquinha ainda e com falta de ar. A doença permaneceu em mim durante quase um mês e atacou o fígado, o baço e acumulou líquido nos pulmões". Porém a jovem, que está se formando em Arquitetura, disse não culpar ninguém pela demora no diagnóstico e que não recomenda a ninguém visitar os parques da cidade antes que os casos se esclareçam. Ela conta que a família toda ficou muito abalada e que agora estão aliviados. "Meu pai chorava muito", narra.

As doenças vetoriais

Os especialistas alertam que as doenças transmitidas por vetores afetam as populações mais pobres, particularmente onde há falta de acesso à moradia adequada, água potável e saneamento, onde esses insetos encontram locais fáceis para a procriação. Nos últimos tempos, muitas doenças transmitidas por vetores reapareceram ou se espalharam para outros lugares do mundo.
As doenças vetoriais, de acordo com Clarissa F. Etienne, diretora da Organização Pan-americana de Saúde (Opas) em anúncio para o Dia Mundial da Saúde, são responsáveis por uma alta carga de morbidade e mortalidade, especialmente nos países mais pobres, causando ausência escolar, aumento da pobreza, diminuição na produtividade econômica e sistemas de saúde sobrecarregados com procedimentos de alto custo. Conforme a OMS, esses males são responsáveis por 17% da carga global estimada de enfermidades infecciosas. 
Causas de aumento
Entre as causas de aumento das doenças vetoriais e a inserção de outras em várias partes do mundo estão as mudanças ambientais, aumento substantivo de viagens e do comércio internacional, mudanças nas práticas agrícolas e uma rápida urbanização não planejada. Há também, de acordo com os especialistas da OMS, o desmatamento acelerado juntamente com a migração e as práticas agrícolas que causam o desequilíbrio no habitat natural dos insetos transmissores e de seus predadores naturais.
prevenção 
A OMS lembra em relatório as doenças vetoriais podem ser exterminadas com medidas de controle e prevenção. "Ninguém no século 21 deveria morrer com uma mordida de mosquito, mosca ou carrapato", escreveu Margaret Chan, diretora-geral da OMS em comunicado. Para ela, intervenções de baixo custo, como redes e sprays de inseticidas, podem salvar muitas vidas.
Entre as medidas, é preciso levar em consideração quando se viaja para áreas endêmicas, o uso de roupas que protejam pernas e braços contra a picada de insetos além do uso de repelentes e a vacinação para as doenças para as quais existam a imunização. Também é importante onde são registradas epidemias a instalação de telas em portas e janelas das residências, cobrir recipientes onde é armazenada a água e não deixar água parada ou acúmulo de lixo.
Aos governos, a OMS recomenda melhorar as medidas de prevenção e as de vigilância constante. Os especialistas indicam que autoridades sanitárias trabalhem em conjunto com autoridades do meio ambiente e com nações vizinhas.
Huima Alves Cardoso, há três anos gerente da Vigilância Epidêmica de Doenças Transmissíveis ligada à Secretaria Estadual de Saúde, esclarece que o cuidado com as doenças vetoriais é uma parceria das esferas federal, estadual e municipal, mas que a população precisa participar ativamente do controle dos transmissores e tem papel fundamental nessa luta. "O Estado acompanha e monitora o trabalho dos municípios, fornece ajuda técnica, equipamento e insumos para pulverizações" explica.
O desagradável Aedes aegypti
Dados da Opas/OMS mostram que somente o Aedes aegypti é responsável pela contaminação por dengue de mais de dois milhões de pessoas na América Latina. Porém o mosquito pode ser o transmissor de outras duas doenças: febre amarela e febre chikungunya. No final do ano passado, a organização, em parceria com outras redes que lutam contra as doenças vetoriais, realizou uma reunião internacional, "Por que não podemos controlar o Aedes aegypti? Situação atual e perspectivas futuras".
Em pauta estava a discussão de novas ferramentas e procedimentos, a troca de conhecimento entre os especialistas, identificar as lacunas e propor aperfeiçoamento dos métodos para melhorar o controle do Aedes. Mais de 300 técnicos da área de vigilância e controle de vetores de 23 países participaram do evento.
Em 2013, mais de 2,3 milhões de latino-americanos tiveram dengue de acordo com a Opas. Os dados também demonstram que há uma expansão da doença; em 2004, foram registrados 267 mil casos com 74 mortes, sendo este número hoje 20 vezes maior. Os especialistas acreditam que essa pode se por causa da maior capacidade de reprodução do mosquito aliado a fatores climáticos e a mutações genéticas do Aedes que o tornam cada vez mais resistente aos inseticidas.
Aedes aegypti é um mosquito hematófago (a fêmea se alimenta de sangue) da família Culicidae. É menor que os mosquitos comumente conhecidos, preto com pequenos riscos brancos no dorso, na cabeça e nas pernas. Têm asas translúcidas e o ruído que produzem é praticamente inaudível. 

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