sábado, 26 de julho de 2014

Risco à saúde: ratos por todos os lados da cidade


Situação preocupa moradores. Neste ano, já são 11 casos de leptospirose - dois deles fatais
Eric Zambon
eric.zambon@jornaldebrasilia.com.br

Eles estão, literalmente, por toda parte. Em Brasília, os ratos não fazem distinção de poder aquisitivo do local onde se aglomeram. A leptospirose, principal perigo causado pela presença dos roedores, já matou duas pessoas e fez outras nove vítimas apenas no primeiro semestre deste ano. E a  eliminação do problema parece distante.
Das 11 confirmações de leptospirose neste ano, um paciente pode ter contraído a doença em Planaltina, um no Setor Comercial Sul, um em Vicente Pires, um no Itapoã, um na Estrutural e um em Brazlândia. Outros cinco casos, incluindo os dois óbitos, não tiveram local de contaminação desvendado pela Vigilância Ambiental.
“Morei 25 anos em São Paulo e nunca vi tanto rato na minha vida”, contou o servidor público e morador da 708 Norte Luiz Viana. Ele procurou o Jornal de Brasília. para denunciar   o problema em sua quadra. “Está demais. Não tem precaução para evitar os bichos, só se andar pelo meio da pista”, reclamou o leitor.
Lixo
Nas proximidades do lar de Luiz, na 706/707 Norte, o dono de uma loja de baterias automotivas  Júnior Lima,   38 anos, convive com a mesma situação. “À noite vemos muitos ratos. Às vezes vou colocar o lixo para fora e eles pulam”, relata o empresário, que credita a ocorrência   à grande quantidade de lixo acumulado, proveniente dos restaurantes e apartamentos da região.
“Falta um certo cuidado da administração. Sempre vai existir lixo, então o órgão competente deveria dedetizar os locais e colocar lixeiras mais altas”, acredita. “O caminhão de lixo também não passa sempre no mesmo horário, então muitas vezes perdemos o prazo  e os contêineres acumulam sacos”, diz.
A Diretoria de Vigilância Ambiental (Dival) da Gerência de Controle de Zoonoses, ligada à Secretaria de Saúde, afirma que os quatro locais com maior incidência dos roedores são as asas Sul e Norte, Cruzeiro e Ceilândia. O mapeamento é feito pelo chamado “índice de positividade”, que avalia a incidência de ratazanas nas caixas de esgoto. O método, porém, não é 100% eficaz.
“A Estrutural, por exemplo, não tem caixa de esgoto, mas é considerada área de risco pela grande quantidade de tocas”, explica o veterinário da Dival,   Ivanildo de Oliveira. “O Setor Comercial Sul também é um local com muitos ratos. As pessoas deixam restos de comida na rua e isso os atrai”, conta. Ele diz que, há dois anos, foram localizadas cerca de mil tocas no local.
Nove bilhões de roedores
O cuidado com a maneira de descartar o lixo e não criar condições para o surgimento de animais como ratos são fundamentais para que a cidade permaneça limpa. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que haja pelo menos nove bilhões desses roedores no mundo. No Brasil, acredita-se que haja cinco para cada habitante. É como uma praga, difícil de ser controlada, porém com possibilidade de ser regulada com rigor.
Animais se reproduzem rapidamente
As ratazanas se reproduzem com facilidade e as fêmeas são capazes de gerar até 12 filhotes em uma ninhada. Eles formam colônias e têm hábitos noturnos, preferindo ambientes em que possam ocultar sua presença.
O comerciante Francisco Aurélio Aquino,   34, tem um quiosque no Setor Comercial Sul há 15 anos. Ele conta que, quando chega para trabalhar, às 5h20, e quando sai, às 19h, são os horários de maior incidência das ratazanas. “Muitas vezes o pessoal está comendo e vejo bichos correndo pelo canteiro, de dia. Também têm alguns que correm pela calha entupida”, reclama.
Ele admite já ter tentado resolver o problema por conta própria, colocando veneno em algumas tocas. “Morrem uns quatro, mas sempre aparecem mais”, resmunga.
A dificuldade de se livrar da praga é a esperteza dos animais, especialmente das ratazanas. Elas não são ingênuas como os camundongos. “Se uma colônia tem 20 ratazanas e você coloca veneno na comida, quem primeiro vai experimentar aquilo são os membros mais fracos do bando”, explica     o veterinário  Ivanildo de Oliveira.
“Se eles morrerem após ingerir a comida, os outros ratos não mais comerão daquele alimento e a fêmea entrará no cio, gerando mais filhotes e podendo aumentar a colônia”, esclarece.
Cuidados partem dos cidadãos
Conforme o relatório Controle Integrado de Ratos, da Embrapa, os roedores devem ser eliminados com uso de raticidas crônicos,   que demoram mais de 24h para fazer efeito. “Com isso não ocorre associação da morte com o produto, continuando o consumo pelos demais ratos da colônia”, descreve o relatório.
A Zoonoses atende chamados e avalia situações em que ratos interferem na vida cotidiana, mas não costuma agir em propriedades privadas. Ela se apoia na Lei 2.095 que define que “compete aos  ocupantes das habitações individuais manter  a higiene dos imóveis e adotar medidas necessárias para evitar entrada e permanência dos animais”.
A recomendação é evitar a presença dos roedores não lhes dando oferta de alimento   nem abrigo. “Eles se alimentam de tudo: restos de alimento, baratas, peixes à beira do lago e até fezes humanas”, alerta o veterinário Ivanildo de Oliveira. Ele adverte a moradores e comerciantes que lacrem os lixos e contêineres.
Conscientização
A dona de um restaurante na 408 Sul  Celina Gonçalves de Sousa,   45 anos, lida com o problema e se preocupa com a postura dos colegas comerciantes. “Eles deveriam lacrar os lixos direito. Tentei conversar com alguns para que colocassem os sacos no contêiner do final da rua, mas não surgiu efeito”, indigna-se.
Para ela, é comodismo e preguiça de caminhar um pouco mais para descartar os resíduos no local correto. “Deveria haver uma campanha sobre limpeza urbana. As pessoas deveriam se conscientizar igual acontece com a dengue”, sugere. O lixo   nas calçadas e a consequente aglomeração de ratos, inclusive, ocasiona custos a mais para o negócio de Celina.
Em vez de dedetizar e desratizar o restaurante uma vez por mês, ela ordena que o procedimento seja feito semanalmente. Mensalmente, isso representa gastos acima de R$ 300. Em um ano, são R$ 3,6 mil que poderiam ser investidos em qualquer outra parte do negócio.
Nove bilhões de roedores
 
O cuidado com a maneira de descartar o lixo e não criar condições para o surgimento de animais como ratos são fundamentais para que a cidade permaneça limpa. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que haja pelo menos nove bilhões desses roedores no mundo. No Brasil, acredita-se que haja cinco para cada habitante. É como uma praga, difícil de ser controlada, porém com possibilidade de ser regulada com rigor.
 
Saiba mais
 
Segundo a Dival, já foram feitos 2,5 mil atendimentos referentes à ocorrência de ratos até junho deste ano, enquanto, no ano passado,  foram quase dez mil até dezembro. O local com maior número de solicitações foi o Guará.
A OMS estima que São Paulo seja a cidade brasileira com mais ratos por habitante: 10. 
 
A Dival acredita que a rede de esgoto interligada de Brasília, em contraste com as redes regionalizadas dos paulistas, dê  aos roedores mais meios de chegar à superfície. Por isso seria mais simples de vê-los por aí.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília

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