Está pontuado no calendário eleitoral que a disputa para as eleições de outubro começa em 5 de julho.
A partir dessa data, os concorrentes podem se apresentar ao público, desde que sigam as diretrizes da Justiça.
Apesar de a regra ser clara, a ousadia de alguns pré-candidatos, sedentos por visibilidade, já alcança as dimensões de um outdoor — recurso proibido, inclusive durante o período regulamentar da campanha. Sob o pretexto de divulgarem programas de rádio, de TV ou até capa de revista, os pretendentes a mandatos desafiam os limites da lei e se exibem pelos quatro cantos do Distrito Federal. Além de ser composto de políticos, o grupo contém empresários que, no contexto da corrida pelos cargos públicos, aproveitam suas bases de negócios para inflar a própria imagem.
Quem pega a Estrutural provavelmente já reparou no anúncio de uma revista que traz como destaque o ex-secretário de Habitação e deputado federal Geraldo Magela (PT). Em quatro anos de existência, é a primeira vez que a publicação, direcionada para o universo feminino, opta por colocar um político na capa e anuncia em outdoor. O momento não poderia ser mais oportuno para Magela, que pretende se lançar ao Senado em outubro próximo. “Foi coincidência. Nossa meta é vender a edição, que trouxe um assunto absolutamente afim ao nosso público-alvo. Toda mulher está antenada com os rumos de sua cidade”, afirma Telma Mello, editora da revista. Em uma circunstância bem parecida, só que referente à campanha de 2002, a Justiça Eleitoral teve uma interpretação menos permissiva. Entendeu que o outdoor para divulgar a capa da revista Foco, estrelada na época por José Roberto Arruda, então pré-candidato à Câmara dos Deputados, era propaganda antecipada. A consequência foi sentida no bolso. Multa para Arruda e para Consuêlo Badra, diretora-presidente da Foco. Hoje, Consuêlo diz que, apesar do assédio de candidatos, não se aventura mais nessa seara. A despeito da sanção judicial, ela arrisca um nada modesto palpite: “Acredito que Arruda tenha chegado lá graças à revista”. O episódio do passado não parece assustar Magela, para quem os referidos outdoors são um “elementar direito à informação”...
Se até os mais conhecidos buscam argumentos para escantear as restrições eleitorais, imagine aqueles que precisam ganhar notoriedade até outubro. Esses, aparentemente, encontraram uma brecha-padrão. Primeiro, tornam-se locutores de rádio. Depois, com a desculpa de divulgar seus programas, espalham outdoors na cidade dando conta do dia e do horário de suas aparições. É o caso, por exemplo, do delegado Mauro Cezar (PRP). No fim de 2013, ele descobriu seu talento para se comunicar via frequência modulada. Durante o programa Chumbo Grosso, da 104,1 FM, o assessor da Secretaria de Segurança comenta casos de violência, assunto sob medida para a sua plataforma de campanha. Com a bandeira eleitoral fincada na saúde, o enfermeiro Jorge Vianna (PSD) tem em comum o amadorismo no rádio e a pretensão de ocupar um assento na Câmara Legislativa. “Meu ‘programete’ é um trabalho de utilidade pública”, acredita Vianna. “São inserções que aumentam a audiência da emissora”, defende o colega de mídia Mauro Cezar. Não é exatamente essa história que narra o diretor e locutor do programa, Toninho Pop: “A gente vende esses espaços. Não tem nada a ver com conteúdo editorial”. Segundo ele, os pré-candidatos foram alertados sobre o risco de a divulgação ser considerada irregular. “Eles, inclusive, tinham de pedir autorização para usar a marca da rádio e não o fizeram”, complementa Toninho Pop, que também é candidato, também exibe outdoors na cidade, mas acredita que sua situação é diferente porque ostenta 25 anos como radialista.
Na gincana para livrar-se das limitações eleitorais, há quem consiga superar a visibilidade proporcionada pela combinação rádio e outdoors. De olho em cargos públicos, alguns empresários figuram como garotos-propaganda de seus negócios na TV. José Wilson Granjeiro (PSB) dispensa interlocutores para anunciar descontos em sua rede de cursinhos. O dono da Casa das Molduras, Higino França, também preferiu divulgar as novidades de seu empreendimento por conta própria. Assim como fez Godofredo Filho, da Axiomas Brasil, empresa de pesquisa de mercado. Os três concorrem a uma vaga de deputado distrital no próximo pleito.
Na legislação eleitoral não há nenhuma linha que proíba expressamente a gaiatice de alguns pré-candidatos. O antídoto para eles é o olhar treinado de quem conhece as entrelinhas da lei e tenta brecar a ação de oportunistas. “Ficamos atentos para descobrir onde aparecem as distorções entre a inofensiva rotina de divulgação e a tentativa de antecipar um futuro programa de candidatura”, afirma o procurador eleitoral do DF, Elton Ghersel. É bom lembrar que, em caso de condenação, os mais afoitos estão sujeitos à multa de quase 16 000 reais e até à cassação do registro da candidatura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário