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domingo, 11 de novembro de 2018

Nova postura --Como a política externa de Bolsonaro pode afetar as exportações goianas

Presidente eleito pode mudar a embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, além de tomar outras medidas que impactariam a política externa
O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) | Foto: reprodução




Fonte: Jornal Opção                                                                                                                                   

Ainda no período de campanha, o agora presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) fez algumas promessas que desagradou aliados. A começar pela transferência da embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para a cidade de Jerusalém. A princípio, a alteração parece inofensiva, mas pode acarretar dificuldades comerciais com antigos — e grandes — aliados.
Para um melhor entendimento das especulações que giram em torno dessa hipótese, retomemos ao fator histórico que torna Jerusalém uma terra de interesses e ameaças. Desde o ano de 1967, os israelenses dominam a terra sagrada das montanhas da judeia. Por anos, porém, os palestinos lutam pelo controle da parte oriental de cidade na tentativa de torná-la sua capital. Enquanto isso, Israel continua como uma das principais razões do embate israelo-palestino.
Em defesa da paz e das boas relações comerciais com ambas as partes, o Brasil se manteve isento ao longo dos anos. Em dezembro de 2017, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump reconheceu Jerusalém como a capital de Israel e optou por transferir a embaixada americana, até então localizada em Tel Aviv para a cidade sagrada para as três principais religiões monoteístas. A medida, obviamente, desagradou palestinos e demais países aliados.
Seguindo os passos de Trump, Bolsonaro demonstrou a intenção de fazer o mesmo durante sua campanha política. A decisão consequentemente fortaleceria os laços do País com Israel. Contudo, desagrada profundamente os palestinos, bem como o bloco de países que apoiam a causa palestina.
Após a eleição, o capitão reformado do Exército conversou com o primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Há rumores de que o presidente eleito possa visitar o país do Oriente Médio antes mesmo de tomar posse. Cogita-se também que autoridades israelenses compareçam à cerimônia de posse no Brasil.
Mas o que soa amigável de um lado gera inimizades do outro. Sob o argumento de que a segurança do governo é uma prioridade, Bolsonaro também cogitou afastar a embaixada palestina de Brasília. Apesar das promessas, o embaixador palestino, Ibrahim Alzeben, diz não acreditar na consolidação das ideias do presidente eleito.
Acontece que o possível desgaste das relações do Brasil com os palestinos poderia comprometer exportações bilionárias para países árabes e muçulmanos. Segundo informações da Câmara de Co­mércio Árabe Brasileira (Secex), o País exportou os países árabes, entre janeiro e setembro deste ano, um total de US$ 2,1 bilhões em açúcar; US$ 1,2 bilhão em minério e ferro; US$ 1,6 bilhão em frango; US$ 755 milhões em carne bovina e, por fim, US$ 474 milhões em milho.
De acordo com informações do jornal “Folha de S. Paulo”, os países árabes representam o segundo maior comprador de proteína animal brasileira. Ao todo, no ano passado, o Brasil exportou US$ 13,5 bilhões e o superávit para o País foi de US$ 7,17 bilhões.
Na terça-feira, 6, Jair Bolsonaro deu indícios de que poderá recuar da decisão ao afirmar que a transferência da embaixada ainda não é definitiva. Ele se manifestou após o Egito, um dos principais aliados da Palestina, cancelar um encontro diplomático com representantes brasileiros.
Para o superintendente executivo de Comércio Exterior do Esta­do de Goiás, Willian O’Dwyer, só o tempo e as negociações futuras poderão mostrar as reais mudanças do cenário comercial, caso a ideia do presidente eleito seja, de fato, consolidada. “A princípio, isso poderia afetar a relação comercial do Brasil com alguns países, como Egito, Irã, Emirados Árabes e até a Indonésia. Esperamos que tudo seja feito de maneira consciente.”
Willian O’Dwyer: “É preciso considerar que o Brasil começa a respirar de novo para a comunidade internacional” | Foto: arquivo
O’Dwyer não descarta a possibilidade de Jair Bolsonaro optar por recuar totalmente com a proposta pré-estabelecida durante a campanha. “Pode ser que isso não aconteça e que o presidente eleito mude sua posição sobre o assunto. De qualquer forma, permaneço muito otimista em relação às futuras definições do governo.”
Em relação ao otimismo, o superintendente executivo argumenta que durante o governo do ex-presidente Lula da Silva e da ex-presidente Dilma Rousseff, o Brasil trabalhou com uma política direcionada apenas aos países que “o governo brasileiro queria proteger como Venezuela, Cuba, Bolívia e outros”.
“O presidente eleito tem apresentado algumas controvérsias, mas é preciso considerar que o Brasil começa a respirar de novo para a comunidade internacional. Estamos revigorando as nossas relações. O itamaraty terá um papel muito mais relevante do que tivemos nos últimos 16 anos”, completou O’Dwyer.
Exportações goianas
Para o presidente da Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja Brasil) e primeiro vice-presidente da Federação da Agricultura de Goiás, Bartolomeu Braz, a política externa do presidente eleito tende a favorecer as exportações brasileiras e atrair novos investimentos. “Penso que grande parte dos acordos serão firmados com maior transparência, o que dará ao mercado internacional mais confiança para ampliar os seus negócios com o Brasil.”
Bartolomeu Braz: “Estamos tranquilos e otimistas de que iremos alavancar nossas relações internacionais” | Foto: reprodução
Bartolomeu reforça a necessidade o País se preocupar em manter exportações crescentes para além da América do Sul, onde os mercados são “praticamente irrisórios”. “Com base na forma com que a equipe do presidente eleito tem trabalhado essas questões, esperamos uma ampliação desses mercados. A expectativa da nossa categoria é essa. Estamos tranquilos e otimistas de que iremos alavancar nossas relações internacionais.”
Sobre a transferência da embaixada para Jerusalém, o presidente diz não acreditar que tal mudança seria capaz de influenciar a relação dos mercados brasileiros. “Temos um dos mercados mais competitivos do mundo. Temos os produtos de maior qualidade do mundo. Ainda que a mudança ocorra, não vejo dificuldades em continuar abastecendo o comércio com essas mercadorias.”
Por sua vez, o ex-presidente da Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultura (SGPA) Hugo Goldfeld afirma que o País tende a mudar de uma maneira inimaginável. Em termos de relações internacionais, o empresário acredita que haverá a possibilidade de resgatar parcerias políticas, bem como o comércio pujante. “Tenho certeza as relações passarão a ser pautadas pelo mérito e não mais por interesses partidários.”
Hugo Goldfeld: “Relações passarão a ser pautadas pelo mérito e não mais por interesses partidários” | Foto: arquivo
Na visão de Goldfeld, os privilégios ecológicos do Estado farão com que Goiás consiga atender com tranquilidade às demandas do comércio exterior nos próximos anos. Para ele, as relações comerciais com os todos os países do mundo tendem a ser alavancadas. “Temos que trabalhar todos como iguais, vender e comprar do mundo todo. Os privilégios do comércio exterior são para quem se dispõe a comprar e vender. É uma verdadeira guerra e deve ser tratada como tal.”
“Pode haver um alarde no começo [caso a embaixada seja transferida], mas depois o pessoal irá se acostumar.” Goldfeld acredita que o processo de aceitação aconteceria de maneira semelhante ao ocorrido com os Estados Unidos. “Eles [EUA] possuem negócios com aquela região, e mesmo depois da transferência da embaixada continuam parceiros de muita gente no Oriente Médio. Não acredito que haveria tantos escândalos em relação a isso.”
Na visão do presidente da Federação do Comércio do Estado de Goiás (Fecomércio), Marcelo Baiocchi, ainda não há uma política definida por parte do governador eleito. No campo de política externa, o presidente enxerga o Brasil como um país “muito pequeno” para entrar neste tipo de briga. “Vejo essa política com delicadeza e acredito que deva ser tratada com todo cuidado possível para não haja o risco de afetarmos a economia do nosso país.”
Marcelo Baiocchi: “Vejo essa política com delicadeza e acredito que deva ser tratada com todo cuidado possível” | Foto: Jornal Opção
Ele acredita que a mudança do local da embaixada brasileira poderia repercutir negativamente nas relações comerciais brasileiras, caso os países árabes interpretem a atitude como um afronta. “Sabemos o quanto o Estado de Goiás se transaciona, principalmente na área de proteína animal, com esses países”, sub linha. Entendo que a mudança da embaixada de uma cidade para outra agrega pouco valor econômico”.
O que pensam os especialistas
Doutor em Ciência Política pela Universidade de Liège, na Bélgica, e professor de Direito e Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), Paulo Henrique Faria Nunes considera a possível alteração precipitada. “Esse gesto representa muito mais uma tentativa de alinhamento maior com os Estados Unidos do que Israel.” O docente justifica que o mercado israelense é pequeno e tal agrado não acarretaria em impactos significativos no que diz respeito às relações comerciais com o país. “A população de Israel está abaixo dos 8,5 milhões de habitantes”, lembra.
Paulo Henrique Faria Nunes: “Poderíamos comprometer parcerias com países árabes e islâmicos” | Foto: arquivo
“Ao contrário disso, poderíamos comprometer parcerias com países árabes e islâmicos, que representam um contingente muito maior de pessoas. Comercialmente não seria benéfico”, avalia o professor. Na visão de Paulo Henrique, os reflexos só poderiam ser percebidos a médio prazo, mas ele não hesita em afirmar que o maior prejudicado seria o agronegócio. “Os países árabes consomem uma grande quantidade de frango e de outras carnes que o Brasil produz. Isso teria um custo comercial elevado, ou, ao menos, em potencial.”
Por sua vez, o mestre em Antropologia pela Universidade de Moscou, na Rússia, Wilson Ferreira da Cunha concorda com o posicionamento do professor Paulo Henrique no sentido de que o Brasil se aproximará ainda mais dos Estados Unidos, caso a medida venha a ser concretizada. “Isso favorece uma abertura muito maior também com outros países que possuem a mesma ideia sobre economia e política.” Por outro lado, o especialista acredita que o relacionamento com a comunidade internacional não deve ser prejudicado.
Wilson Ferreira da Cunha: “Algumas decisões de Bolsonaro representam uma mudança de paradigmas | Foto: Jornal Opção
“Diabolizar pessoas ou governos é radicalismo. Seria um ato de muita coragem do presidente eleito efetivar essa intenção,. As pessoas exigem novas posturas. Algumas de suas decisões representam uma mudança de paradigmas e ele está mostrando isso ao mundo. São decisões corajosas que podem levar o País a um novo posicionamento”, argumenta o antropólogo.
Para ele, o Brasil é muito grande e foi diminuído nos últimos anos. “A mudança começa por tomar um lado e o Bolsonaro deixou claro que pretende destrancar o País. É preciso chacoalhar o Brasil de tantas ideias medíocres. Inclusive, isso é muito bom para a democracia. Agora temos novo oxigênio na praça.”

Outros temas da política externa de Bolsonaro

Um dos nomes mais aguardados para compor o grupo liderado pelo capitão reformado do Exército é o do futuro ministro das Relações Exteriores. Aparentemente, as negociações seguem em ritmo acelerado em busca de um chanceler de carreira para o cargo. Ao que tudo indica, o anúncio do novo ministro deve ocorrer ainda nesta semana. Assim, os posicionamentos que serão tomados pelo governo de Bolsonaro nos próximos anos seriam melhor esclarecidos pelo novo ministro do Itamaraty.
Na última terça-feira, 6, o Egito cancelou compromissos diplomáticos com empresários brasileiros. O país suspendeu a visita do chanceler Aloysio Nunes Ferreira ao Egito e cogita-se que o motivo esteja ligado ao fato de Bolsonaro querer transferir a embaixada para Jerusalém. Por sua vez, o presidente eleito teria afirmado que o cancelamento do compromisso estaria relacionado a questões de agenda. “Acho que seria prematuro um país anunciar uma retaliação sobre uma coisa que não está decidida ainda”, declarou.
Estados Unidos
Após a vitória do candidato do PSL, outro a parabenizá-lo foi o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Depois de uma conversa telefônica, Trump declarou no Twitter que irá trabalhar com o brasileiro nas áreas do comércio, Forças Armadas e “tudo mais”.
Durante uma transmissão ao vivo via Facebook, o deputado federal disse que o presidente americano desejou boa sorte. “Foi um contato bastante amigável.” O parlamentar sempre demonstrou sua admiração por Trump e tende a visitá-lo durante sua segunda viagem internacional.
Para Paulo Henrique Faria Nunes, as declarações de Paulo Guedes, atreladas a aproximação de Bolsonaro com o presidente americano, soam de maneira contraditória. “Eles pretendem inserir o Brasil em uma política de livre mercado, como forma de estimular o setor industrial. Porém, estão adotando como modelo os Estados Unidos, onde política implementada por Trump é protecionista.”
China
Em março deste ano, antes mesmo da consolidação de sua candidatura à Presidência da República, Bolsonaro fez uma viagem a Taiwan e desagradou as autoridades chinesas. O Estado insular não possui uma relação amigável com a China desde a Segunda Guerra Mundial.
Acontece que os chineses são os principais parceiros comerciais do Brasil. De acordo com o Conselho Empresarial Brasil-China, entre os anos de 2010 e 2015, US$ 37,1 bilhões foram investidos pelos chineses no País.
À época, a embaixada chinesa do Brasil chegou a manifestar profunda preocupação e indignação com a atitude do então pré-candidato. Apesar dos atritos, ao ser eleito, Jair Bolsonaro foi parabenizado pelo país asiático, que reforçou sua intenção de continuar a grande parceria de mercado.
O presidente eleito chegou a receber a visita do embaixador da República Popular da China no Brasil, Li Jinzhang, na segunda-feira, 5. A relação comercial entre os dois países é expressiva. De janeiro a setembro de 2018, o vínculo resultou em US$ 49,3 bilhões.
Paulo Henrique Faria Nunes diz acreditar que o fato de o parlamentar visitar Taiwan sem demonstrar interesse pela China pode prejudicar as relações comerciais do País com seu maior parceiro comercial. “Sem contar que coloca em cheque algumas parcerias que vem sendo desenvolvidas no âmbito do Brics [grupo político de cooperação formado por Brasil, Índia, Rússia, China e África do Sul]. Quanto menos atrito com a China nesse momento, melhor”, reforçou.
Mercosul e Argentina
Tradicionalmente, a primeira viagem internacional de um presidente eleito no Brasil é para Argentina. Porém, Bolsonaro optou por fazer diferente. O presidente eleito irá ao Chile e, provavelmente, seguirá para os Estados Unidos depois da visita. A data ainda não foi definida, mas o compromisso está firmado com o presidente do país, Sebastián Piñera, a quem Bolsonaro já teria reforçado sua profunda admiração.
O futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, também surpreendeu os sul-americanos, especialmente a Argentina, ao afirmar que o País e o Mercosul não serão uma prioridade no governo de Jair Bolsonaro. Guedes justificou sua afirmação dizendo que o Brasil se tornou um “prisioneiro de alianças ideológicas”. Na ocasião, o economista também considerou o Mercosul “muito restritivo” e disse que a junção de tudo isso “é ruim para a economia”. Finalizou seu pronunciamento dizendo que pretendem “negociar com o mundo”.
A Argentina é o segundo maior país do Mercosul, ficando atrás apenas do Brasil. Segundo informações do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, de janeiro a setembro de 2018, o Brasil exportou US$ 12,3 bilhões para o vizinho sul-americano. Jornais locais, bem como os de países como Uruguai e Paraguai, repercutiram as afirmações do futuro ministro que anseia por relações mais flexíveis.
Repercussões no Senado
Os pronunciamentos de Bolsonaro também foram repercutidos por senadores que pertencem à Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado Federal durante uma reunião realizada no dia 30 de novembro.
De acordo com a Agência Senado, a senadora Ana Amélia (PP-RS) comentou algumas das medidas adotadas pelo presidente eleito, como a ida a Taiwan e a declaração de que a China estaria “comprando” o Brasil. Para ela, o País não tem a mesma potência dos Estados Unidos para restringir o relacionamento com os chineses.
“Uma coisa é os Estados Unidos tomarem medidas restritivas de comércio contra a China, outra coisa muito diferente é o Brasil seguir esta mesma trilha. Os Estados Unidos são uma superpotência e continuarão a ser, além de serem a maior economia do mundo. Já nós temos hoje uma dependência comercial com a China, nosso maior parceiro. Nosso poder de fogo não pode ser comparado com o dos Estado Unidos”, declarou a pepista.
Já o senador Cristovam Buarque (PPS-DF) demonstrou preocupação em relação à possível transferência da embaixada brasileira para Jerusalém. Buarque repudiou a iniciativa sob argumento de que isso poderia trazer consequências graves para as relações com grande parte dos países árabes e islâmicos. “Nossos produtores de frango e de carne correrão um risco concreto de perder esses grandes mercados.”

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