Marconi Perillo enfrenta até aliados para permanecer moderno na prática
Nem Jayme Rincon tem sido informado com antecipação das escolhas dos novos secretários do quarto governo de Marconi Perillo? Há quem diga que “sim” e há quem diga que “não”. O tucano-chefe nunca mostrou-se tão reservado e chega a rir, segundo os íntimos, das especulações dos jornais e dos aliados. “As indicações estão sendo tratadas como segredo de Estado. Mas tem um denominador comum: são escolhas ‘de’ Marconi, e não dos aliados. Poucas vezes ele pôde escolher seus auxiliares sem pressões”, diz um aliado, do grupo íntimo. O lobby para a Secretaria da Fazenda, embora a “cota” fosse (é) do líder do PSDB, era poderoso. Havia pelo menos quatro nomes cotados, todos muito bem avalizados. Porém, o governador surpreendeu e indicou a economista Ana Carla Abrão Costa, especialista em mercado financeiro. Teria sido porque é filha da senadora Lúcia Vânia? Nada disso.
Ana Carla, além da competência comprovada, é uma profissional de perfil nacional, com amplos contatos. Não à toa que, ao saber de sua indicação, economistas de São Paulo e Rio de Janeiro disseram que se trata da “Joaquim Levy de saia”. Ao lado do governador, não vai atuar tão-somente como uma burocrata — costurando a necessária conexão entre receita-despesa, que, no setor público, é um pouco diferente da iniciativa privada. A economista vai ser decisiva para encontrar saídas para aumentar a arrecadação e a capacidade de investimento do governo.
Anteriormente, Marconi havia indicado o vice-governador José Eliton para a poderosa Secretaria de Desenvolvimento. Trata-se de um lance mais político do que técnico? Pode até ser, mas o objetivo é preparar o presidente do PP como gestor e fortalecê-lo politicamente. Lêda Borges, como secretária de Cidadania, tem um aspecto técnico, político e comportamental. A ex-prefeita de Valparaíso tem experiência como gestora, é tucana e, claro, é mulher.
Na semana passada, o deputado federal Jovair Arantes esperneou, criticou, até com aspereza, o governador, em conversas com aliados políticos. O supercargo da Cidadania, que absorveu outras secretarias, era apontado como um feudo do PTB. Não é mais — é o recado de Marconi. Ou melhor, o recado é mais amplo: não há mais feudos no governo. Os aliados não vão ser desprezados, deixados de lado, mas o Estado estará muito mais a serviço dos cidadãos do que de políticos e de seus interesses. Todos falam em modernidade, e apostam que ser moderno é positivo para todos, e por isso o tucano-chefe está levando a teoria à prática. No lugar de interesses pessoais, de grupos ou corporativos, Marconi está apostando suas fichas e energia num Estado de fato modernizador, o que, evidentemente, não agrada nem mesmo aqueles que, em tese, defendem a modernização.
Jovair Arantes permanece como um aliado leal, além de amigo, porém não vai mandar no governo. Os feudos acabaram — é preciso insistir. O “Estado para o cidadão” não rima com um “Estado de negócios”. Marconi está sugerindo aos seus aliados que é preciso deixar de lado a teoria e fazer um governo de fato moderno, transparente e que presta serviços eficientes para a sociedade, não apenas para setores localizados e grupos de pressão.
Percebe-se que poucos estão entendendo de fato a determinação de Marconi. Ele não está brincando. Está agindo seriamente e não vai recuar. Porque, legitimado pelos eleitores, vai enfrentar seus próprios aliados — que, em parte, querem cargos e mais cargos — para realizar um governo empreendedor. Em busca do “Estado necessário”, o tucano não está hesitando em desagradar parceiros, alguns até queridos do ponto de vista pessoal, e não vai hesitar. Vale a pena não desafiá-lo sem uma boa razão.
Fonte:Jornal Opção
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