Lena Baker — A mulher que a Geórgia executou por sobreviver
No Sul segregado dos Estados Unidos da década de 1940, Lena Baker era uma mãe negra e pobre de três filhos, lutando todos os dias para mantê-los alimentados em um mundo onde a pobreza e o racismo caminhavam lado a lado. Lavava roupas, limpava casas, fazia qualquer trabalho que aparecesse. Quando foi contratada para cuidar de Ernest Knight, um dono de moinho branco e idoso, acreditou que seria apenas mais um emprego — difícil, talvez, mas honesto.
Não sabia que estava entrando num cativeiro.
Knight, com o quadril quebrado e o coração corrompido, logo transformou o trabalho em prisão. Trancou Lena no moinho, espancou-a, humilhou-a e tentou violentá-la repetidas vezes. Ela suportou enquanto pôde — até a noite em que o medo se tornou coragem.
Em 30 de abril de 1944, Knight a encurralou novamente, levantando um cano de ferro e prometendo matá-la. Lena agarrou a arma dele e atirou.
Ela não fugiu. Caminhou até a delegacia e contou o que havia acontecido.
Mas a verdade não tinha lugar no tribunal que a julgou.
Diante de um júri todo branco e masculino, sua história de sobrevivência foi transformada em crime.
Chamaram-na de assassina, não de vítima. O julgamento durou menos de um dia. Sua vida foi decidida em horas.
Em 23 de fevereiro de 1945, Lena Baker entrou na cadeira elétrica da Geórgia vestindo um simples vestido branco. Suas últimas palavras foram serenas, quase sagradas:
> “O que fiz, foi em legítima defesa. Não guardo rancor de ninguém.
Deus me perdoou. Estou pronta para me encontrar com Ele.”
Demorou sessenta anos para o Estado admitir o erro.
Em 2005, Lena foi perdoada postumamente — um gesto tardio, vazio, para quem já havia partido.
Mas seu nome permanece.
Não como o de uma criminosa, e sim como o de uma mãe, uma sobrevivente, uma mulher que ousou viver — e pagou com a vida por isso.
Símbolo de todos aqueles que foram silenciados por um sistema que via a cor antes da humanidade.
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