Com 60 anos de vida pública, político foi
governador e senador por quatro mandatos

Político é natural de Caxias do SulMateus Bruxel / Agencia RBS
Fonte: https://gauchazh.clicrbs.com.br/
Deputado
estadual de oposição ao regime militar, líder do MDB gaúcho, Pedro Simon coordenou,
em meados dos anos 1970, uma comissão que tinha o objetivo de trazer para o Rio Grande do Sul o
terceiro polo petroquímico. O emedebista ajudou a reunir diferentes forças da
sociedade civil e, dentre suas tarefas, esteve a articulação política com
lideranças regionais da Arena.
Quando o presidente Ernesto Geisel concordou
em trazer o empreendimento ao Estado, fez um aviso: o terceiro polo deveria ser
da Bahia, e o Rio Grande do Sul ficaria
com o quarto. O governador Sinval Guazelli (Arena) agendou visita do presidente
para o anúncio oficial. Simon ficou com um pé atrás, pensou que a espera
indefinida poderia resultar em mudança de planos futuros e frustração.
Montou-se, então, uma estratégia para tentar sensibilizar Geisel. Um público
definido por Simon como “mar de gente” foi levado até o ato político em Santana
do Livramento. A ideia era, diante daquela multidão, apelar a Geisel, usando
argumentos técnicos elaborados à época e a expectativa popular como trunfo para
fazê-lo passar o Rio Grande do Sul à frente da Bahia. Ponto delicado era
definir quem usaria a palavra para tentar emparedar o ditador que ocupava o
Palácio do Planalto.
–
O Guazelli olhou, pensou, e anunciou: ‘Em nome do Rio Grande do Sul, vai falar
o líder da oposição, Pedro Simon.’ Eu falei numa boa, claro, disse que seria um
fato histórico e que todos nós deveríamos ao Geisel a vinda do terceiro polo.
Ele acabou concordando. Foi fantástico. Foi uma demonstração de como fazíamos
oposição – diz Simon.
O polo, hoje, se aproxima dos 40 anos de
operação em Triunfo. É referência industrial e de geração de tecnologia. O
papel de ser líder da resistência democrática e, paralelamente, dialogar com a
Arena, em tempos de supressão de liberdades, prisões e tortura, não era tarefa
fácil.
– A principal característica do Simon é a
conciliação. O MDB era
o partido da resistência e, ao mesmo tempo, da legalidade. Isso muitas vezes
era confundido com submissão. A esquerda acusava o MDB e
o Simon de serem conciliadores com a ditadura. E a direita os acusava de serem
conspiradores – recorda o ex-deputado federal Ibsen Pinheiro,
que concedeu a entrevista poucos dias antes de sua morte, ocorrida no último
dia 24 de janeiro.
Ícone da política gaúcha, Simon completa
90 anos nesta sexta-feira, 31 de janeiro de 2020, sendo mais de 60 deles
dedicados à vida pública. Nascido em Caxias do Sul, filho de imigrantes
libaneses, ingressou no velho PTB e se elegeu vereador em 1958.
A entrada no MDB ocorreu
no início da ditadura, quando o Ato Institucional Número 2 instituiu o
bipartidarismo. Foi deputado estadual e, em 1978, se elegeu senador, período em
que passou a ganhar projeção nacional ao ter protagonismo na campanha da
anistia e no movimento das Diretas Já, que começou em Porto Alegre, na Esquina
Democrática.
Nesta época, Simon já era o líder máximo
do MDB gaúcho, atuando como recrutador de lideranças que viriam a desempenhar
funções relevantes: José Fogaça, Luiz Roberto Ponte e o próprio Ibsen, entre
outros.
– Entrei no MDB, em 1986, por causa do
Simon. Surgiu a Constituinte e o pessoal do Sinduscon (sindicato da indústria
da construção civil) achou que eu poderia representar um pensamento liberal. O
MDB, na época, tinha muito economista que chamavam de desenvolvimentista,
keynesiano. Eu não tinha afinidade nenhuma com isso, mas acabei escolhendo o
MDB pela conotação de decência que o Simon representava – conta Ponte.
O
discurso de despedida da política ocorreu no Senado, em 10 de dezembro de 2014.
O velho Simon se aposentou dos cargos públicos, mas não botou o pijama. Aos 90
anos, segue queimando lenha, respirando política em tempo integral, insistindo
na tese de que o Rio Grande do Sul precisa fazer um grande movimento de
encontro de contas com o governo federal. O Estado tem a dívida com a União. E
o governo federal não paga o ressarcimento da Lei Kandir. Que se façam os
cálculos e zerem os passivos, prega ele.
– O que me deixa dolorido é que se formou
um consenso que a dívida não tem solução. É uma grande tristeza que tenho. Muita
gente diz que é bobagem, sugere que eu esqueça, mas eu me nego a esquecer. Essa
compensação de contas é o primeiro passo para resolver a crise do RS. O que eu
ainda puder fazer e debater sobre isso, vou fazer.
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