De olho no crescimento do número de fiéis, pré-candidatos a governador disputam a preferência e o apoio dos líderes evangélicos em Goiás

Igreja Videira/Divulgação
Com o passar dos anos, o interesse dos líderes evangélicos, principalmente os protestantes pentecostais e neopentecostais, na busca por representantes eleitos nos cargos legislativos e executivos que atendam às suas agendas e princípios. Se o objetivo maior do ensino da palavra de Deus, calcado principalmente nos livros sagrados da Bíblia, é fazer com que ela chegue ao maior número de pessoas possível, o crescimento da população que se declara evangélica no Brasil passou a atrair cada vez mais o interesse de candidatos no voto dos fiéis dessas igrejas, que ganham poder.
Ainda de maioria católica – sabe-se lá até quando –, o Brasil tem convivido e verificado a ampliação do campo protestante entre a população. São três os números, levantados com metodologias diferentes, que mostram o avanço da fé evangélica frente à redução do tamanho do alcance do catolicismo em nosso País. Com base nos dados do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados em 2010, a Igreja Católica caiu de 91,8% fiéis no País em 1970 para 64,6%. No mesmo período de 40 anos, os evangélicos saíram de 5,2% da população para 22,2%.
Igrejas pentecostais, como a Assembleia de Deus, que acreditam na fé e na salvação a partir do batismo no Espírito Santo, e que se norteiam pelo ensinamento pleno da Bíblia, como sagrada e inquestionável, tem no evangelho quadrangular o centro de sua crença. Enquanto a Igreja Católica convive com sua burocracia que dificulta o avanço nas mudanças para se adequar às necessidades e anseios da população, os evangélicos pentecostais se espalharam e cresceram a partir da segunda metade do século XX no Brasil em localidades que os católicos não chegavam.
Pelo censo de 2010, a Assembleia de Deus tinha há oito anos 12.314.410 fiéis. Quando o IBGE divulgou os dados, a população evangélica no Brasil era de 42,2 milhões. Em Goiás, a Assembleia de Deus tinha 637.663 adeptos. Outro levantamento que traz dados significativos sobre o avanço da nação evangélica é o do instituto Pew Research Center de 2014. Nele, 61% dos brasileiros se diziam católicos e 26% evangélicos. A terceira fonte de dados usada habitualmente para apontar o tamanho da população religiosa no Brasil é a pesquisa do Datafolha, de dois anos depois.

Pastor Abigail de Almeida, da Assembleia de Deus Ministério Fama, deve apoiar Caiado (DEM) para governador | Foto: WS Fotografias/Divulgação
O último levantamento realizado pelo Datafolha aconteceu no final de 2016. Essa pesquisa mostra que 44% dos evangélicos hoje no Brasil são ex-católicos. Em dezembro daquele ano, o Datafolha divulgou que, entre os cristãos, 50% dos brasileiros se dizem seguidores do catolicismo e 29% são de igrejas evangélicas. Dos 29% que seguem igrejas oriundas do protestantismo, 39% são fiéis da Assembleia de Deus. Como o Datafolha não faz uma amostra probabilística do brasileiro, o que é adotado no censo demográfico do IBGE, não é possível comparar os dados dos dois institutos.
Mas cabe utilizar os percentuais divulgados por IBGE, Datafolha e também da Pew Research para entender a mudança do perfil religioso no País, que tende a ficar cada vez mais evangélico.
Isso justifica a peregrinação de pré-candidatos a deputado estadual, federal, senador e governador a igrejas evangélicas em anos eleitorais, o que já começa a se intensificar em fevereiro deste ano. A projeção linear dos dados do Datafolha entre 1994 e 2016 mostra que os evangélicos podem chegar a 45,4% da população em 2040 e os católicos caírem para 22,7% dos brasileiros. Esse foi o dado levantado pelo sociólogo, mestre em economia e doutor em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), José Eustáquio Diniz Alves, com base nos dados dos três institutos citados no texto.
Com essa tendência de que a população evangélica seja maior do que a católica no Brasil a partir de 2036, o cronograma político-eleitoral inclui a busca pela confirmação do apoio desses líderes religiosos. As articulações e conversas políticas incluem nas agendas oficiais e fechadas encontros, reuniões e visitas a pastores de igrejas protestantes históricas, como os presbiterianos e luteranos, líderes de templos pentecostais, que incluem as Assembleias de Deus, e pastores, bispos e apóstolos das denominações neopentecostais, impulsionadas pela teologia da prosperidade, como Videira, Fonte da Vida e Universal do Reino de Deus.
“Nós temos mais de 600 mil fiéis no Estado”, diz pastor Oídes do Carmo

Irmão de Luiz Carlos do Carmo (PMDB), o pastor Oídes José do Carmo diz que ainda é cedo para falar em apoio | AD Campinas/Divulgação
Presidente da Convenção Estadual e líder da Assembleia de Deus Campo de Campinas, o pastor Oídes José do Carmo mostra o tamanho do Ministério de Madureira em Goiás. “A Assembleia de Deus tem igrejas em todos os municípios goianos. Nós temos mais de 600 mil fiéis no Estado”, descreve. Irmão do ex-deputado estadual Luiz Carlos do Carmo (PMDB), que hoje é primeiro suplente na vaga do senador Ronaldo Caiado (DEM), o pastor Oídes afirma que as cerca de 70 matrizes da Assembleia de Deus em Goiás ainda não colocaram o assunto eleição de 2018 em discussão. “Nós não fizemos nenhuma reunião para falar ainda sobre isso.”
A negativa do pastor Oídes sobre o início da discussão para decidir qual pré-candidato a governador a Assembleia de Deus pode vir a declarar apoio não é tão certeira assim. O Jornal Opção ouviu outras pessoas próximas ao grupo de pastores e bispos em Goiás que integra a diretoria nacional do Ministério de Madureira da Assembleia de Deus que falam outra coisa. Liderança importante, o pastor Oídes tende a apoiar naturalmente a pré-candidatura a governador de Caiado. O interesse estaria na consolidação da ocupação do cargo de senador por um assembleiano de confiança.
Se Caiado for eleito governador, Luiz Carlos do Carmo assume como suplente e teria, quem sabe, a possibilidade de ser reeleito e se manter no cargo além dos quatro anos em que o Democrata assumiria o governo de Goiás se conseguir se eleger. Mas o pastor Oídes, ao menos publicamente, não confirma essa possibilidade. “Essa é uma leitura natural que as pessoas fazem. Mas essa discussão ainda não aconteceu.”
Na Assembleia de Deus hoje, há quem acredite e confirme ao Jornal Opção que o grupo do pastor Oídes caminhe com Caiado, que também deve ter o apoio do também pastor elevado a bispo Abigail de Almeida, da Assembleia de Deus Ministério Fama e vice-presidente da Convenção estadual presidida por Oídes. Abigail é pai de Samuel Almeida, secretário municipal de Governo na gestão Iris Rezende (PMDB). Como o filho está no grupo do peemedebista que se uniu a Caiado na eleição de 2014, quando o democrata chegou ao Senado, parece natural a manutenção da aliança, agora do grupo de Iris à pré-candidatura do senador ao governo estadual.
Outro que pode fortalecer o grupo de líderes evangélicos assembleianos na base do pré-candidato Caiado é o pastor Romeu Ivo, que comanda a Assembleia de Deus Esperança. Se o apoio dos três for confirmado ao nome do senador do DEM, aumenta o poder de influência de Caiado sobre o voto de parte dos mais de 600 mil fiéis da igreja em Goiás. Mas há quem ainda defenda a ideia de que somente em abril será possível saber para que lado as lideranças religiosas da Assembleia de Deus irão politicamente. “O candidato que tiver mais vocação para o social deve receber o apoio do segmento”, diz uma das pessoas ouvidas pelo Jornal Opção durante a semana.
Igreja com partido

No PRB, reduto da Igreja Universal, João Campos está com José Eliton | Foto: Divulgação / Câmara dos Deputados
Outra base evangélica, esta neopentecostal, que atrai o interesse de políticos, é a Igreja Universal do Reino de Deus. No censo demográfico de 2010 do IBGE, a Universal era responsável por 64.744 fiéis nos municípios goiano. Em 2016, a Igreja Universal conseguiu eleger um prefeito dela na capital fluminense. O ex-senador Marcelo Crivella (PRB) comanda hoje o Executivo de uma das maiores cidades brasileiras. E os planos da Universal, por meio do PRB, são de expandir sua entrada nos cargos eletivos, tanto nos Legislativos quanto nos Executivos pelo País.
Em Goiás, a chegada de Rogério Cruz à Câmara de Goiânia foi a entrada da Universal na política de Goiânia. Com prefeitos ligados ao PRB em Cachoeira Dourada, Nerópolis e Paraúna, o partido abriu mão de ter um integrante da igreja no comando da sigla para chegar à Câmara dos Deputados com um membro goiano. Foi então que Ricardo Quirino deu lugar na presidência ao recém-chegado deputado federal pastor João Campos, da Assembleia de Deus, e que havia deixado o PSDB.
A ligação de João Campos com a base aliada do governador Marconi Perillo (PSDB) coloca o PRB, da Igreja Universal, no grupo de apoio à pré-candidatura a governo de José Eliton (PSDB), que assume o cargo em abril. “Estamos na base do governo, mas somos procurados e dialogamos com outras lideranças estaduais. Vamos caminhar com o governador, a não ser que algo aconteça”, explica Quirino. Não se sabe até quando o apoio de João Campos ao PSDB manterá o PRB no grupo de sustentação eleitoral do vice-governador José Eliton. Segundo o vereador Rogério Cruz, a sigla ainda não discutiu quem irá apoiar nas eleições para governador.
Outro grupo evangélico que parece querer a manutenção da base aliada de Marconi no comando do governo é o Conselho Estadual de Diretores (CED) da Igreja Quadrangular. Presidido pelo pastor Washington Luiz, a CED se reuniu na última quarta-feira, 7, com o governador no Palácio das Esmeraldas em um jantar. Durante o encontro, o líder eleito pela convenção da Igreja Quadrangular disse que se sente um parceiro do governo. Outro integrante do grupo que é próximo do chefe do Executivo é o pastor Vilson Guedes, que ocupa o cargo de primeiro secretário no CED.
“Tudo depende dos sete conselheiros da igreja”, explica o pré-candidato a deputado estadual Frederico Bispo, que conta com o apoio da Quadrangular. Na tentativa de atrair o apoio dos pastores da Igreja Quadrangular, o senador do DEM se reunirá com o Conselho Estadual de Diretores no dia 22 de fevereiro. Mas, na visão de Frederico, há pouca chance de os líderes mudarem de lado. “A reunião com o Caiado não significa nada”, declara.
Outras forças

Simeyzon Silveira diz que a igreja não faz campanha para candidato | Foto: Alego
Entre membros de igrejas fortes nos segmento evangélico neopentecostal, o deputado Simeyzon Silveira (PSC) diz que não há a possibilidade de a Luz Para os Povos declarar apoio a ninguém. “A igreja não caminha com apoios dentro do ministério. Não há manifestação de apoio por parte da Luz Para os Povos.” Já sobre o PSC, Simeyzon, que lembra ter ajudado a fundar o partido e fazer parte dele há 15 anos, diz que a decisão da sigla continua a de fazer parte da coligação de Caiado. “Estou aguardando umas conversas. Vou ajudar o novo presidente do partido, Eurípedes do Carmo, a fortalecer o PSC. Caso isso não seja possível, vou procurar outros caminhos”, afirma o parlamentar.
Perguntado se está insatisfeito com os rumos políticos e eleitorais do PSC, Simeyzon desconversa e diz que não há qualquer problema ou incômodo hoje na sigla.
A mesma postura do deputado estadual é a que adota o pastor Aluízio Silva sobre a posição da Igreja Videira. O líder religioso afirma que a igreja não se posiciona enquanto instituição e que seus membros ainda não fizeram qualquer discussão sobre o assunto. “Ainda nem sabemos quem são os candidatos”, se resguarda.
Bispo da Fonte da Vida, o deputado federal Fábio Sousa estava com um pé e uma mão no PSL, prestes a anunciar sua saída do PSDB em definitivo. Mas aí veio a decisão da executiva nacional do Partido Social Liberal de entregar o controle da sigla ao pré-candidato a presidente da República, que ainda não se desfiliou do PSC carioca, deputado federal Jair Bolsonaro. “Eu iria para o PSL para ajudar a fortalecer o partido em Goiás, mas resolveram entregar para o Bolsonaro. Agora estou ouvindo, avaliando o que fazer”, lamenta.
Influente na Fonte da Vida, Fábio Sousa defende que não é papel da igreja fazer propaganda ou apoiar qualquer candidato. Ele, que é filho do apóstolo César Augusto, diz ter até março para decidir o que fazer já que a ida para ao PSL, que deve ser presidido em Goiás pelo deputado federal delegado Waldir (PR), passa a não fazer mais sentido. Fábio Sousa diz que deve apoiar o candidato a governador da base aliada. “A minha candidatura a reeleição é certa”, define. E, aos risos, brinca: “A não ser que eu saia candidato a senador ou governador”. l
Fonte: Jornal Opção
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