domingo, 23 de março de 2014

Desafio mundial é preservar e saber distribuir a água do planeta


 (Phill Moore)

Estima-se que em 50 anos a população mundial duplicará, mas para especialistas, os recursos hídricos não precisam virar motivo de pesadelo



Poço no interior da República do Quirguizistão: segundo as Nações Unidas, a cada 21 segundos uma criança morre por ingerir água contaminada (Vladimir Pirogov/Reuters)
Poço no interior da República do Quirguizistão: segundo as Nações Unidas, a cada 21 segundos uma criança morre por ingerir água contaminada


Em 12 de abril de 1961, o cosmonauta soviético Yuri Gagarin tornou-se o primeiro homem a viajar pelo espaço sideral. A bordo da nave Vostok 1, observou o planeta lá do alto e disse esta memorável frase: “A Terra é azul, ela é incrível”. O que Gagarin viu foi uma esfera iluminada, repleta de rios e oceanos que cobrem mais de 70% da superfície.

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Diante de tanta água, parecia inacreditável imaginar que essa abundante substância química composta de hidrogênio e oxigênio pudesse um dia representar enormes problemas de escassez para a humanidade. No entanto, segundo relatórios divulgados pela Organização das Nações Unidas (ONU), atravessa-se hoje, principalmente nos países mais pobres, uma crise sem precedentes de distribuição dos recursos hídricos.

Estima-se que nos próximos 50 anos o número de pessoas que habitam a Terra duplicará. À medida que a população cresce, aumenta a demanda por água potável. Indústria, comércio, agricultura e residências poderão sofrer racionamentos prolongados que afetariam não somente camadas complexas da sociedade, como a economia, mas também simples tarefas cotidianas de qualquer indivíduo.

Para complicar ainda mais, estudos da ONU Água mostram que o aquecimento global pode fazer com que a captação de recursos hídricos seja comprometida. Cidades litorâneas seriam as primeiras a sentir o efeito, pois o derretimento das calotas polares aumenta o nível do mar e a salinidade afetaria os reservatórios de água própria para o consumo humano.

Thakkar defende ainda o princípio de que preservar apenas os recursos hídricos não resolve o problema. “A água é uma entidade ecológica inserida em sistemas bem mais complexos. Se não cuidarmos do clima, das florestas, da terra, da biodiversidade de maneira geral, não teremos água limpa para consumir. E todos os habitantes do planeta têm responsabilidades nesse processo”, alertou.

Com o intuito de promover o compromisso de países nas questões que envolvem a água, a ONU tem apresentado projetos voltados para a conscientização de governantes e civis. No início do século 21, decidiu nomear o período entre 2005 e 2015 como a Década Internacional para Ação.

Entrementes, 2013 foi escolhido de maneira simbólica o Ano Internacional de Cooperação pela Água. “Levar água limpa para todos os habitantes do mundo é uma prioridade internacional. Se melhorarmos o acesso à água, melhoraremos também a saúde e a educação das pessoas”, disse recentemente Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU.

Um dos fundadores do Conselho Mundial da Água, Loïc Fauchon tem se entusiasmado com a presença significativa do público nos fóruns sobre sustentabilidade. “Vejo milhares de participantes de diversos lugares do globo, entre eles chefes de Estado, ministros e figuras eminentes das ciências, o que me enche de esperança. Mostra que estamos, sim, preocupados com as condições do nosso planeta.”

Fauchon espera que as iniciativas adotadas em países desenvolvidos possam, em breve, ajudar nações que correm maiores riscos: “Na França, 1% do imposto é direcionado a projetos de preservação da água. Com a tecnologia disponível nas regiões mais ricas e políticas adequadas, poderíamos reverter a frágil situação na qual nos encontramos”.

Expectativas

Então, pelo que se vê, o futuro será desolador? Apesar das inúmeras previsões catastróficas, percebe-se que a comunidade internacional tem buscado soluções a fim de impedir que as coisas fujam do controle. Para Himanshu Thakkar, coordenador de projetos hídricos na Ásia e colaborador da ONU, os países devem sempre pensar em parcerias sustentáveis se pretendem obter resultados significativos a curto prazo: “Cooperação mútua, em todas as etapas do processo, é uma alternativa interessantíssima”.

780 milhões
de pessoas não têm acesso a água potável. Isso é mais de duas vezes a população dos Estados Unidos

99%
das mortes causadas por água contaminada ocorrem em países subdesenvolvidos

(Fonte: water.org)

Palavra de especialista

Ban Ki-moon - Secretário-geral da ONU  (Andrew Burton/AFP)
Ban Ki-moon - Secretário-geral da ONU

A população mundial não para de crescer e a agricultura precisa se expandir, a fim de produzir alimentos. Consequentemente, o consumo de água tem aumentado perigosamente. Temos que ter um cuidado muito específico com esse elemento crucial à vida humana. O esforço de todos nós é necessário para evitar que milhões de pessoas sofram com a falta de água nos próximos anos.

Irina Bokova - Diretora-geral da Unesco  (Seyllou/AFP)
Irina Bokova - Diretora-geral da Unesco

O problema da água é uma responsabilidade mundial. Se quisermos viver com dignidade neste planeta, precisamos preservar nossas bacias hidrográficas. Mostra-se imprescindível uma participação efetiva de toda a sociedade.

Michel Jarraud - Secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial   (Fabrice Coffrini/AFP)
Michel Jarraud - Secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial
Hoje, graças ao comprometimento de civis e governantes, a água é um item prioritário na agenda internacional. Espero que se continue a buscar soluções para os problemas de saneamento e distribuição. Cada etapa é importante.

História
Década Internacional para Ação (2005-2015) — "Água, fonte de vida"Coordenado pela ONU, o programa Década Internacional para Ação foi criado em dezembro de 2003, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas. Oficialmente, a década começou em 22 de março de 2005 — Dia Mundial da Água. O foco principal dessa iniciativa é promover a cooperação internacional. Além disso, o objetivo é contribuir com os países a fim de atingir as metas propostas na Declaração do Milênio, na Declaração de Johannesburgo e na Agenda 21. O programa já ajudou cerca de 1,3 bilhão de pessoas nos países em desenvolvimento a obter acesso a água potável.

2013 — Ano Internacional de Cooperação pela Água

Em dezembro de 2010, a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou 2013 como o Ano Internacional de Cooperação pela Água. A ideia contemplou ciências naturais e sociais, cultura, educação e comunicação, além do envolvimento de longo prazo com programas que contribuem para o manejo sustentável de fontes de água potável no mundo.

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