Por que um povo que acabou de ser liberto consegue reclamar como se ainda estivesse preso?
No deserto, a cena se repetia o tempo todo. Faltou água, veio o alvoroço. Veio o maná, reclamaram do gosto. Pediram carne, receberam, e logo aquilo também virou motivo de queixa. Nada durava. Nada satisfazia. O problema nunca era só a água, o maná ou a carne. Era a incapacidade de lidar com o processo.
Moisés não era confrontado com ideias melhores. Era cercado por murmuração. Arão não foi pressionado por um plano, mas pelo desgaste de ouvir reclamação sem fim. Não havia proposta. Havia barulho. Gente que não sabia o que queria, só sabia que estava irritada.
E é aqui que a comparação com hoje fica mais clara.
Essa multidão barulhenta não exige mudança real. Não cobra projeto, não discute solução, não aponta caminho. Só xinga. Se tem algo, reclamam. Se não tem, reclamam também. A ofensa virou substituto de pensamento, como se gritar resolvesse o que nunca foi refletido.
Não é cobrança consciente. É descarga emocional. Não é debate político. É frustração jogada nos outros. Igual no deserto: não era sobre água, maná ou carne. Era sobre gente que saiu da escravidão, mas não aprendeu a lidar com a liberdade.
Quando não se sabe o que pedir, qualquer grito parece resposta. E assim o deserto continua, só muda o cenário.
Por: Kelly Maria Ferreira

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