Jéssica Antunes
jessica.antunes@jornaldebrasilia.com.br
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A crise hídrica enfrentada por parte do território nacional acendeu o sinal de alerta para o consumo consciente do recurso. Apesar de haver muitos locais com torneiras vazias, enquanto a abundância cai dos céus, o Distrito Federal ainda não enfrenta problemas com o abastecimento. Mas o que será do futuro da água na capital? Teremos racionamento? No Dia Mundial da Água, celebrado hoje, o Jornal de Brasília mostra o que está sendo feito para garantir que a região não sofra pela falta do líquido.
“É preciso proporcionar uma mudança cultural pela educação formal. A questão da sustentabilidade é um modo de vida. Tudo está relacionado com como cada um vive e isso deve ser pensado desde cedo. É fazer com que as crianças cresçam sabendo que é possível fazer as coisas sem contaminar a água, o solo, o meio ambiente”, entende Cláudio Jacintho, engenheiro florestal e mestre em desenvolvimento sustentável.
Educação
Ele é também coordenador do Projeto Águas do Cerrado – O Futuro em Nossas Mãos, que, ciente das ameaças às bacias do Lago Paranoá e do Rio São Bartolomeu pelo crescimento urbano, trabalha para recuperar as áreas e fomentar o uso sustentável da água com estudantes da rede pública.
Mudança
Aos 19 anos, Iana Mallmann é uma entusiasta da causa ambiental e do projeto. No ano passado, ela participou como aluna do Centro de Ensino Médio da Asa Norte (Cean) e, mesmo depois de formada, frequenta ambos. “A gente nunca teve um preparo, nunca se preocupou e sempre esteve muito confortável com isso. É comum achar que, numa cidade completamente urbana, fazer um projeto totalmente sustentável é impossível. E não é”.
Mallmann conta que “nesta iniciativa, nos mostraram que é realmente possível fazer diversos projetos com a água dentro da escola, de forma sustentável”.
Para ela, isso desperta maior engajamento dos alunos, que tem mais ciência do que está acontecendo com a água no mundo. “Não é só dar descarga e acabou o problema”, diz. Em casa, a jovem já reaproveita a água de lavar roupas limpando a garagem.
Hábitos e consumo revistos
Cláudio Jacintho, coordenador do projeto Águas do Cerrado, confessa que a aceitação dos alunos é surpreendente: “Eles vão percebendo a importância daquilo e já começam a ver soluções de aproveitamento de água. Chegam em casa e aplicam de alguma forma”. Os conceitos, conta, extrapolam a educação ambiental, já que é focada na sustentabilidade.
“Não adianta ficarmos falando da questão socioambiental se não rever os hábitos e as relações de consumo. O segredo é a pessoa perceber que faz parte do problema e, consequentemente, da solução”, ressalta. Para o projeto, não há média de idade de participação. Entre os mais novos, há atividades lúdicas e de sensibilização, enquanto mais velhos encaram atividades práticas e técnicas “para que experimentem as soluções, como utilizar banheiros que não usam água”.
2018
“Nos últimos 20 anos, as chuvas diminuíram significativamente e as ocupações ilegais comprometem as nascentes. É preciso controlar a expansão”, afirma André Lima, secretário de Meio Ambiente. “A curto prazo não corremos risco de desabastecimento. Até 2018 o sistema atual atende. Nossa preocupação é que a população ainda cresce em um ritmo muito acima da média nacional”, adverte.
Produção
Atualmente, o DF possui dois grandes produtores de água: o Descoberto e o Santa Maria/Torto, responsáveis por 85% da produção do DF. Os outros 15% ficam sob a responsabilidade de pequenos sistemas, como a utilização de poços profundos. Ainda neste ano, deve ser iniciada a captação do Bananal, que gerará em etapa única mais 700 litros por segundo. As obras no Paranoá, por outro lado, deverão ser licitadas neste primeiro semestre, gerando 2,8 mil litros de água por segundo até 2018.
Ocupações irregulares
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Distrito Federal cresceu o dobro do ritmo registrado no ano passado pelas demais cidades brasileiras do mesmo porte. Se comparado a todas as capitais, somos a quarta região mais populosa, com 2,85 milhões de habitantes. Até o ano passado, o DF tinha 25% do território de ocupações irregulares.
A primeira coisa a ser feita, “e com maior impacto”, é a elaboração do zoneamento ecológico-econômico, explica o secretário de Meio Ambiente, André Lima. Isso deve indicar as áreas que podem ser recuperadas, os locais em que ainda é possível haver expansão e aqueles em que é preciso investir, sempre em função da proteção das águas.
Projeto
A conclusão de uma minuta do projeto de lei está prevista ainda para este ano e, de acordo com o secretário, a aprovação vai garantir a integração do planejamento da ocupação territorial com a sustentabilidade ambiental.
A questão do crescimento desordenado também é ressaltada pelo presidente da Caesb, Maurício Luduvice: “É preciso chamar a atenção para as ocupações irregulares, que podem, sim, comprometer o abastecimento. São feitas ligações clandestinas que tiram a água de quem é regular e paga impostos, e sobrecarrega o sistema. Existe a necessidade de estudar o uso e ocupação do solo no DF”.
Ambos concordam, também, com os investimentos que devem ser feitos hoje para garantir abastecimento no futuro. “Teremos muito trabalho para garantir que a gente não tenha crise como ocorreu na região Sudeste. A sociedade tem que contribuir com o uso cada vez mais inteligente do recurso”, destacou o secretário. “Vamos nos esforçar para que não ocorra desabastecimento”, assegurou o presidente da Caesb.
Diógenes Mortari, diretor da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico (Adasa), é categórico ao falar dos recursos hídricos do DF: “Não há nenhum perigo de desabastecimento”. Mas, para o futuro, há “estudos com alguns cenários em grande desenvolvimento” e outras formas de abastecimento se encaminhando.
Serviço
Corrida e Caminhada das Águas celebrando o Dia Mundial da Água
Horário: 8h de hoje
Local: Parque da Cidade
Haverá categorias feminina, masculina, Pessoas com Necessidades Especiais, master (acima de 60 anos) e infantil.
Quem não for correr ou caminhar poderá praticar atividades como aulas de alongamento e zumba.
Saiba mais
Assim como o projeto Águas do Cerrado, existem ações governamentais e dentro das escolas que incentivam a educação ambiental e ecológica. A Adasa diz que já visitou mais de 200 escolas e a Caesb revela que tem um “pequeno porém muito diligente” programa do tipo.
Segundo a Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, até dezembro deve ser implementado um sistema de informações sobre gestão da água no DF que permitirá à população acompanhar a situação da região, como questões de abastecimento.
A Caesb diz que a companhia está investindo na proteção de mananciais, além do engajamento no projeto Descoberto Coberto, pela preservação e orientação educacional ambiental. As obras do Corumbá IV devem, também, ser retomadas.
Vinte e sete por cento da água tratada é desperdiçada no caminho que percorre até a casa dos consumidores. De acordo com o titular da Caesb, já foram instaladas mais de 750 válvulas nos canos para reduzir as perdas oriundas da distribuição.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília
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