Postado por Moisés Tavares
Uma menina de 11 anos hospitalizada com mais de 200 bernes (larvas de mosca) na região da cabeça e do pescoço, em Goiânia, disse que sofreu muito até a retirada das larvas. ”Elas andavam sem parar e eu sentia algumas pontadas, como se fossem picadas. Doía demais”, contou ao G1.
A criança ficou três dias internada no Hospital Materno Infantil (HMI) da cidade e foi diagnosticada com pediculose (piolhos) e miíase – nome médico da infestação causada por larvas de mosca.
A garota foi levada ao hospital pelo pai, no dia 28 de janeiro. Segundo o HMI, a paciente foi tratada com antibióticos e recebeu alta no dia 31. Depois, foi entregue ao Conselho Tutelar de Goiânia, que a encaminhou para o Centro de Valorização da Mulher (Cevam).
“Eu estava ficando doida e gritava de dor. Mas tiraram eles [os bernes] e agora está bom, aqui estão cuidando bem de mim”, revelou a menina.
A família dela mora em um barraco às margens do Rio Meia Ponte. No local, não há água encanada nem energia elétrica, e o esgoto corre a céu aberto. Além da criança, os pais têm outros quatro filhos, de 1, 4, 6 e 15 anos. Como a mais velha saiu da casa para morar com o namorado, quem cuidava dos irmãos menores para a mãe poder trabalhar era a garota de 11 anos.
Na cabeça da menina, é possível ver os furos provocados pelos bernes. Agora, tomando medicamentos de 3 em 3 horas, ela diz que já se sente melhor. A única coisa que lamenta é a cabeça raspada.
“Quase não dói mais. O ruim é que agora não tenho mais cabelo, mas sei que ele vai crescer de novo”, apontou a menina.
A conselheira tutelar Daniela Dagilca Fernandes explicou que a família é acompanhada desde 2010 e que esta não foi a primeira vez que a criança foi diagnosticada com bernes.
“O problema deles é muito grave, pois vivem em extrema miséria. Por isso, tivemos que intervir e retirar a menina de casa. Ela corria sérios riscos e precisava de cuidados emergenciais”, destacou.
Segundo a conselheira, normalmente os filhos do casal passam o dia na escola, mas o problema com as larvas ocorreu no período de férias.
“Conseguimos inscrever essas crianças em escolas de períodos integrais, onde tomam banho e se alimentam. Os pais ficam com a responsabilidade na parte da noite. Durante o recesso, ao que tudo indica, os cuidados com higiene foram deixados de lado, e a menina ficou nessa situação”, ressaltou Daniela.
A mãe da garota, uma diarista de 35 anos, disse ao G1 que procurou ajuda quando percebeu uma ferida na cabeça da criança.
“No posto de saúde do bairro Criméia Oeste, eu tive que praticamente brigar com uma médica para que ela examinasse a minha filha, pois diziam que ela não tinha nada. Até que viram o berne e mandaram que ela fosse para o Hospital Materno Infantil. Fiquei assustada ao saber a quantidade de bichos que tiraram” .
A diarista reconheceu que as condições em que os filhos vivem são de alto risco à saúde, mas contou que se cadastrou em programas de habitação e agora está no aguardo de uma casa para deixar o barraco onde a família mora.
“Já nos prometeram muito, mas já são 10 anos e até agora nada. Já faz tempo que eu quero sair daqui, mas não tinha condições. Agora, depois do que aconteceu com a minha filha, eu e meu marido vamos tomar uma atitude e mudar para um barracão”, relatou.
A mulher está desempregada, mas diz que na semana que vem deve começar em um novo trabalho. O marido faz bicos, e os dois contam com doações para sobreviver. “Vamos pagar R$ 300 de aluguel e algumas pessoas se comprometeram a nos ajudar”, disse a mãe.
O caso da menina foi encaminhado ao Juizado da Infãncia e Juventude de Goiânia, e ela permanecerá no Cevam até uma definição sobre seu futuro. A conselheira tutelar diz que os outros irmãos são acompanhados de perto e, nesta semana, devem passar por uma avaliação médica.
“Depois, vamos ver quais serão os próximos passos. Mas acho que não basta tirar as crianças dos pais e deixá-las lá. Esse não é o nosso papel, pois queremos ajudar a família para que ela permaneça unida, em uma moradia digna”, afirmou a conselheira.
Infecção
O berne é uma infecção provocada pela larva da mosca-varejeira, que deixa seus ovos quando pousa em uma ferida da pele do homem ou do boi. As larvas saem dos ovos e provocam uma inflamação, deixando a pele vermelha e dolorida. Mais frequente no couro cabeludo, no rosto e nos ombros, essa infecção é mais comum em crianças pequenas e idosos, que não têm muita mobilidade para espantar a mosca.
Em casos mais graves, a ferida se fecha com as larvas dentro da pele e, nesse caso, é preciso procurar um médico para extraí-las. Segundo a dermatologista Márcia Purceli, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, caso não seja possível procurar um médico, a pessoa pode colocar um bacon ou toucinho no local para que as larvas se desloquem e “grudem” na gordura.
Assim como em qualquer outra situação, a higienização das feridas é extremamente importante. Elas devem ser bem limpas e cobertas com gaze ou esparadrapo. O alerta da dermatologista é para a duração dessas lesões, que normalmente demoram quase um mês para se fechar.
Fonte: G1
Nenhum comentário:
Postar um comentário