terça-feira, 11 de novembro de 2025

13º salário ajuda a desafogar dívidas dos brasilienses

 

Fotos: Daniel Xavier / JBr

Com parcelas entre 28 de novembro e 20 de dezembro, gratificação deve dar fôlego a 1,4 milhão de endividados e injetar R$ 11 bilhões na economia do Distrito Federal

Por Daniel Xavier
daniel.xavier@grupojbr.com

Os meses de novembro e dezembro chegam com muita expectativa para os brasilienses. É tempo de Black Friday, Natal e Réveillon e, junto deles, o aguardado pagamento do 13º salário, também conhecido como gratificação natalina. O benefício, instituído em 1962 e garantido pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), é pago em duas parcelas, a primeira entre 1º de fevereiro e 30 de novembro, e a segunda até 20 de dezembro. A última metade do valor sofre deduções referentes ao Imposto de Renda (IR) e ao Instituto Nacional do Seguro Social – (INSS).

Mais do que um incentivo às compras, o 13º representa um verdadeiro alívio no orçamento de muitas famílias. Neste ano, no Distrito Federal, o pagamento deve injetar cerca de R$ 11 bilhões na economia – um crescimento em relação aos R$ 10,1 bilhões registrados no Natal passado. Segundo o Sindicato do Comércio Varejista (Sindivarejista), o aumento reflete tanto o crescimento da massa salarial quanto o otimismo do comércio, que espera acréscimo de 9,7% nas vendas de fim de ano, ante 7,3% em 2024.

Apesar da boa notícia, o cenário financeiro do DF ainda é desafiador. O Mapa da Inadimplência da Serasa aponta que o DF tem 1.410.480 inadimplentes, responsáveis por 8.887.181 dívidas, somando R$ 12,43 bilhões. O valor médio de dívidas por pessoa chega a R$ 8.814,84, enquanto cada débito individual tem média de R$ 1.399.

Em Brasília, praticamente toda a concentração está nesses números: 1.405.607 inadimplentes, 8.878.587 dívidas e R$ 12,42 bilhões em débitos. Entre os principais segmentos de origem, destacam-se bancos e cartões (28,12%), contas essenciais como água e luz (20%), financeiras (21,38%), serviços diversos (14,67%), varejo (5,39%) e telecomunicações (4,54%).

A pesquisa da Serasa, em parceria com o Instituto Opinion Box, realizada entre agosto e setembro na região Centro-Oeste, identificou o desemprego (18%) como a principal causa do endividamento, seguido por gastos emergenciais (18%) e redução de renda (15%). Mais da metade dos entrevistados (52%) já esteve endividada em algum momento, e 6% desse total não conseguiram pagar nem as contas básicas.

“Ainda há muitos consumidores enfrentando dificuldades para equilibrar o orçamento, especialmente diante de um custo de vida mais alto”, explica Aline Maciel, diretora da Serasa. “O crédito não deve ser visto como vilão – ele é uma ferramenta importante para realizar planos e lidar com emergências, desde que usado com planejamento”, destaca.

Na região Centro-Oeste, os dados reforçam esse comportamento: 49% dos consumidores acumulam dívidas no cartão de crédito com compras de supermercado, e 40% o utilizam para adquirir roupas, calçados e eletrodomésticos. No último ano, 26% das pessoas concentraram seus gastos nesse meio de pagamento.

Geração de empregos temporários

Com o pagamento do 13º e o aumento das vendas de fim de ano, o comércio também se aquece. O Sindivarejista estima que o setor varejista do DF abrirá 3.887 vagas temporárias em novembro e dezembro, impulsionadas pela Black Friday, o Natal e o Réveillon. No mesmo período de 2024, foram 3.150 vagas.

Em todo o país, a expectativa é de 535 mil contratações temporárias. No DF, os setores que mais devem empregar são os de roupas, calçados, brinquedos e acessórios. Os candidatos podem procurar tanto lojas de rua quanto shoppings. Nos últimos quatro anos, a proporção média de contratados temporários foi de 51% mulheres e 49% homens, e a taxa de efetivação em janeiro varia entre 7% e 12%. “Quem se destaca nesse período costuma ter boas chances de ser efetivado”, lembra o sindicato.

De acordo com o Sindivarejista, o comércio deve movimentar R$ 282 milhões entre novembro e dezembro, contra R$ 234 milhões no mesmo período de 2024. “Há mais dinheiro em circulação e maior empregabilidade em setores que demandam mão de obra no fim do ano”, observa o presidente da entidade, Sebastião Abritta.

Segundo ele, o 13º salário é um dos principais motores do consumo, com efeitos diretos na arrecadação tributária e na geração de empregos. “Essa injeção de recursos impulsiona diversos setores, especialmente o varejo, serviços e alimentação, além de contribuir para o pagamento de dívidas e investimentos familiares”, finaliza Sebastião.

Brasil mais endividado

O cenário nacional segue a mesma tendência. Em setembro, o Mapa da Inadimplência registrou o ingresso de 318 mil novos consumidores inadimplentes, alta de 0,4% em relação a agosto e de 9% frente ao mesmo mês de 2024. Atualmente, o país soma 79 milhões de brasileiros inadimplentes, com 313 milhões de débitos ativos, totalizando R$ 496 bilhões em dívidas. O valor médio por pessoa é de R$ 6.274,82. As pendências continuam concentradas em bancos e cartões de crédito (27,02%), seguidas de contas básicas (21,33%) e empresas financeiras (19,92%).

Dicas para usar o 13º de forma inteligente

O especialista da Serasa em educação financeira, Fernando Gambaro, recomenda cautela e planejamento. Segundo ele, o primeiro passo é priorizar as contas básicas, como aluguel, energia e alimentação. “Quem está endividado deve usar o 13º para negociar débitos e evitar novos atrasos. Esse é o momento de reorganizar a vida financeira”, orienta.

Gambaro ressalta que quitar dívidas à vista pode gerar bons descontos, mas, para quem não tem essa possibilidade, os feirões da Serasa Limpa Nome oferecem abatimentos de até 99% e parcelas a partir de R$ 9,90. “Dívidas antigas ou novas prejudicam da mesma forma. Mesmo aquelas que já caducaram podem dificultar o acesso a crédito”, alerta.

Para quem está com as contas em dia, o 13º pode ser o primeiro passo para construir uma reserva de emergência ou iniciar investimentos em CDB, CDI, Tesouro Direto ou fundos imobiliários. “O importante é usar o valor a favor da vida financeira, planejando-se também para despesas de janeiro, como IPTU, IPVA e material escolar”, aconselha o especialista. 

Entre as principais dicas para evitar o retorno ao endividamento, Gambaro destaca: organizar todas as receitas e despesas; cortar gastos não essenciais; evitar compras parceladas sem necessidade; buscar renda extra de forma segura; criar o hábito de poupar, mesmo que pouco.

No aguardo do 13º

A moradora de Ceilândia, Lhitts Maria Silva, de 24 anos, trabalha no setor de Recursos Humanos e já sabe o que fará com o benefício. “Vou pagar dívidas e me antecipar aos gastos do fim de ano. Gosto de aproveitar a Black Friday, comprar em novembro e quitar tudo com o décimo. Assim, começo o próximo ano sem pendências”, conta. Mesmo com o nome limpo, Lhitts mantém a boa disciplina financeira. “Sempre deixo R$ 100 guardados na poupança para emergências. Não invisto em banco nem faço aplicações, mas gosto de ter essa reserva”, diz. Para ela, o 13º é uma oportunidade de manter o controle do orçamento. “Prefiro resolver tudo ainda em dezembro e começar 2026 tranquila”, afirma.

Quem também pretende usar o benefício para quitar dívidas é Gilvânia Amorim, de 49 anos, moradora de Planaltina-DF, que trabalha com serviços gerais. “Graças a Deus, meu nome não está sujo, mas as parcelas do cartão pesam. Agora quero aproveitar o 13º para encerrar essa dívida”, relata a auxiliar.

Gilvânia reconhece que o custo de vida tem apertado o orçamento. “As contas vão se acumulando, e a gente precisa se organizar. Minha meta é começar o próximo ano livre de dívidas e tentar manter assim”, afirma. Com o dinheiro extra, ela espera fechar 2025 com as finanças equilibradas. “Dessa vez, quero me manter tranquila, sem precisar do 13º para cobrir o que ficou para trás”, completa.

Fonte: https://jornaldebrasilia.com.br/


Nenhum comentário:

Postar um comentário